24/02/2007 - 8:00
Quem já foi ao bairro do Brás, em São Paulo, conhece muito bem o agitado comércio do local. Estima-se que todos os dias cerca de 300 mil pessoas passem pelas movimentadas ruas da região, famosa principalmente pelas lojas de roupa. Em meio a toda essa loucura, imagine alguém trabalhar em um escritório de 50 metros quadrados, onde 20 canários belgas cantam, voam e pousam onde bem entenderem. Difícil de imaginar, né? Mas o local existe. Trata-se da sala do libanês Miled Khoury, localizada no segundo andar da Sawary, um império do jeans que ele comanda juntamente com seus dois irmãos, Jorge e Tony.
Filho caçula de uma tradicional família libanesa, Khoury chegou ao Brasil em 1992, aprendeu com o irmão mais velho os segredos do disputado mercado de jeans e, em maio de 1995, fundou a Sawary. Os valores atuais de faturamento e investimentos da empresa são guardados a sete chaves. Mas outros números comprovam por que o negócio que iniciou suas atividades com um investimento de apenas R$ 50 mil mantém a liderança no setor atacadista. Em 12 anos de existência, a Sawary saltou de uma produção de cinco mil peças por mês e um quadro de cinco empregados para um volume de 500 mil peças, feitas e vendidas por 300 funcionários. Khoury, um sujeito de 36 anos, simples e econômico nas palavras, tem uma receita de sucesso à sua semelhança: ?Boa mercadoria e bom preço. É só isso.?
Simples é o dono e simples a estrutura de sua empresa. Não imagine uma Sawary com dezenas de centros de distribuição no País. Nada disso. Apenas uma loja localizada no Brás atende os 50 mil clientes que compram por atacado, todos os meses, os diversos modelos da marca. O movimento da casa é para nenhum atacadista botar defeito. Diariamente, cerca de mil pessoas ? representantes de varejistas como Besni ou Marisa, por exemplo ? passam pelo local. E as vendas da Sawary não se limitam aos comerciantes habitués do Brás. Suas calças hoje viajam para Miami, onde a marca possui um showroom, e recentemente passaram a ser negociadas na Europa e, claro, no Líbano. ?Chegar no topo é fácil, difícil é se manter lá em cima?, afirma o libanês do Brás.
Por isso mesmo, em 2006 ele deu início a um amplo programa de modernização da Sawary. A primeira medida foi montar um departamento de marketing e desenvolvimento focado em novas criações. A idéia era atingir um outro tipo de consumidor, agregando valor à sua marca. Após seis meses de pesquisas de mercado no Brasil, nos EUA e na Europa, a Sawary apresentou aos atacadistas a grife Prime Denim, voltada ao mercado premium. Não há planos para chegar ao consumidor final. A Prime continuará atendendo os atacadistas, mas sua etiqueta apresentará um preço maior do que o jeans tradicional (cerca de R$ 100 contra uma média de R$ 40 das calças atuais). A expectativa em relação a esse nicho de mercado não é igualar o volume de produção do jeans tradicional. Khoury acredita que, após o lançamento oficial do modelo, previsto para março, a produção da Prime represente 10% do total.
Além da Prime, a Sawary desenvolveu e patenteou em janeiro de 2006 uma calça feminina que levanta o bumbum. A novidade deu tão certo que, atualmente, 40 mil peças do modelo são produzidas todos os meses na fábrica da Sawary, localizada no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo . Para 2007, outros projetos já despontam no horizonte. A empresa, que também tem uma linha de malharia, lançará uma gama de produtos como calçados, cintos e acessórios em geral. ?Sempre com bom preço?, diz o empresário, enquanto alimenta um canário belga na ?lojinha? do Brás.
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500 mil peças jeans são produzidas todo mês na fábrica da Sawary localizada no bairro do Tatuapé, em São Paulo |