15/04/2009 - 7:00
MICHAEL JACKSON tornou-se oficialmente o rei do pop quando, em 1983, em um show da gravadora Motown, fez pela primeira vez o Moonwalk, o passo de dança inspirado no break em que o cantor parece deslizar para trás e que mais tarde se tornaria uma de suas marcas registradas. Agora, o mesmo sapato e a mesma luva que Michael usava na época podem ser de qualquer um. O astro está leiloando seus pertences que ainda estavam no rancho Neverland, sua residência até 2005, localizada em Los Olivos, cidade na região dos vinhedos da Califórnia. Neverland é o cenário das dez acusações de abuso infantil das quais o astro foi inocentado. Apesar disso, o motivo de Michael ter deixado para trás seu paraíso inspirado em Peter Pan, com direito a parque de diversões e zoológico particulares, foi outro: ele possui dívidas estimadas em quase US$ 300 milhões, mais de US$ 20 milhões só com a hipoteca do rancho Neverland. Para pagar parte dessa conta, Michael resolveu vender cerca de dois mil pertences em um leilão que acontecerá entre os dias 22 e 25 de abril. Organizado pela Julien’s Auctions, empresa especializada em vender itens que pertenceram a astros da música, a expectativa é alcançar entre US$ 10 milhões e US$ 20 milhões.
O PORTÃO DO RANCHO: um dos maiores símbolos da era Michael Jackson terá lance inicial de US$ 20 mil
Como tudo na vida de Michael, visto hoje como uma figura bizarra ao buscar obsessivamente pela pele branca, a decisão gerou polêmica. Isso porque ele procurou a casa de leilões e escolheu pessoalmente os itens dos quais queria se desfazer. Logo depois, arrependido, processou a Julien’s Auctions alegando que não tinha dado permissão para a venda de todos os seus itens. “Eles não têm preço e são insubstituíveis”, disse Michael, durante o processo. Em resposta, Darren Julien, presidente da Julien’s Auctions, mostrou à Justiça papéis que confirmavam o consentimento do astro e que seus assessores estavam envolvidos nas negociações, inclusive na confecção do mostruário dos itens que seriam ofertados. A Justiça decidiu a favor da casa de leilão. “Estamos negociando esse leilão há oito meses. Ficamos chateados com o que aconteceu, mas se Michael quiser comparecer, está convidado”, disse Julien, em entrevista à DINHEIRO. “Há objetos de sua vida pessoal, de sua carreira e de Neverland. Os itens são parte da história da cultura pop”, completa Julien. Entre eles encontrase a luva brilhante usada no vídeo de Billie Jean (1983), um de seus maiores hits, avaliada entre US$ 10 mil e US$ 15 mil, e o portão do rancho Neverland, avaliado entre US$ 20 mil e US$ 30 mil.
O PORTÃO DO RANCHO: um dos maiores símbolos da era Michael Jackson terá lance inicial de US$ 20 mil
Outros itens que mostram outro lado de Michael são o quadro em que está retratado como um rei absolutista (estimado entre US$ 4 mil e US$ 6 mil) e a coroa que foi dada por seus filhos Prince Michael e Paris, em 1998, na ocasião do Dia dos Pais, avaliada em US$ 1 mil e US$ 1,5 mil. “Michael Jackson é uma marca forte, mas sofre com grandes problemas de credibilidade. Só vai comprar seus itens quem ainda é fã”, aposta Fabio Fiorini, diretor da consultoria de marcas Net Branding. Se depender do número de seguidores, Michael pode ficar tranquilo. No mês passado, ele anunciou uma série de dez shows na cidade de Londres. A procura foi tanta que ele teve de estender o número de apresentações para 50. Resultado: todos os ingressos foram vendidos em apenas cinco horas. Estima-se que Michael embolsará US$ 44 milhões. Além desse dinheiro, o astro conta com outras receitas, como US$ 54 milhões anuais, gerados pelos direitos autorais dos Beatles, que ele comprou em 1985. Essa cifra só não é maior porque, em 1995, o astro vendeu 50% dos direitos para a Sony por 150 milhões de libras. Ainda assim, a parte que cabe a Michael está avaliada em US$ 500 milhões. Não pode, entretanto, ser vendida porque serve como garantia de empréstimos contraídos em bancos.
Estima-se que todas as dívidas do astro da música pop alcancem mais de US$ 300 milhões
O que causa espanto diante de números tão pujantes é que Michael, vendedor de mais de 750 milhões de discos em toda a carreira, não consegue pagar suas dívidas. Consumidor compulsivo e dono de um estilo de vida nababesco, o astro gasta mais do que ganha. Além disso, até hoje paga milhões às famílias das crianças que o acusaram de abuso sexual. Estima-se que o cantor tenwha feito acordos de US$ 20 milhões com cada suposta vítima. Os imbróglios na Justiça não param por aí. Michael se desentendeu até mesmo com o príncipe Abdulla, do Bahrein, seu antigo sócio, que o processa pedindo uma indenização de US$ 7 milhões. O astro havia assinado um contrato que previa o lançamento de dois álbuns, uma autobiografia e uma turnê, mas não cumpriu o combinado. Detalhes cada vez mais espantosos de um thriller que parece cair como uma luva para o rei da música pop.