05/10/2001 - 7:00
A cada míssil Tomahawk que cruza os céus do Afeganistão, a cada bomba lançada por um sofisticado sistema comandado por satélite, as ações de empresas como Raytheon, Lockheed Martin ou Boeing explodem nos pregões. Desde que os terroristas atacaram os EUA até a segunda-feira da semana passada ? um dia após o primeiro disparo americano em solo islâmico ?, fabricantes de caças, satélites, tanques, mísseis e munições tiveram forte valorização no preço de seus papéis. Os da Raytheon, produtora do Tomahawk, subiram 41%. Na Northrop, fabricante de satélites, a alta foi de 31% e na Lockheed Martin, que faz armas de precisão e mísseis, 16%. Enquanto vários setores temem os efeitos econômicos de conflitos armados, a indústria bélica trabalha a pleno vapor, com perspectivas de ganhos fabulosos. ?As expectativas para o mercado de defesa nos próximos anos deixam para trás a fase de recessão que tomou conta da indústria durante os anos 90?, afirmou a DINHEIRO Mark Stoker, economista de Defesa do Instituto Internacional de Assuntos Estratégicos de Londres.
Militares do Departamento de Defesa americano já têm em mãos uma ?lista de pedidos? para os fabricantes, muitos dos quais financiadores da campanha presidencial de George W. Bush. Ainda que nenhuma empresa admita ter recebido encomendas, alguns fornecedores foram colocados de sobreaviso. Frank C. Lanza, diretor da L-3 Communications, empresa aerospacial e de comunicações recebeu um chamado de oficiais militares logo após o atentado ao World Trade Center. ?Eles queriam saber sobre nossa capacidade de produção?, afirmou Lanza. O incremento orçamentário do Pentágono americano, que poderá chegar a mais de US$ 70 bilhões, já seria suficiente para reativar o mercado. Mas outros fatores animam os fabricantes. Na Europa, os equipamentos das Forças Armadas ? incluindo tanques e aviões de caça ? estão se aproximando do fim da vida útil e precisarão, mais cedo ou mais tarde, ser substituídos. E os países do Sudeste Asiático, que por conta da crise econômica deflagrada em 1997 interromperam os pedidos, já deram sinais de que voltarão a se armar. O Oriente Médio é outro grande
consumidor de armas. ?Vamos ver uma nova corrida e as vendas internacionais, que encolheram no ano passado, voltarão a se aquecer?, diz Stoker. Segundo dados do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo, os gastos bélicos no mundo em 2000 ficaram em US$ 798 bilhões.
A retomada da corrida armamentícia também está sendo sentida no Brasil. Em São José dos Campos, encomendas de caças militares são as únicas boas notícias na Embraer nas últimas semanas. Por conta da crise da aviação civil, a companhia anunciou 1.800 demissões. Atualmente, aviões militares representam 3% do faturamento da empresa. A meta é chegar a 20% até 2005. Com sede no mesmo município paulista, a Avibrás também comemora. ?O mundo está ficando mais perigoso e isso traz perspectivas interessantes?, afirma João Verdi Carvalho Leite, presidente da Avibrás. Maior fabricante de equipamentos militares da América Latina, a empresa, que chegou a entrar em concordata no final dos anos 80, conta com a retomada do ?consumo? para voltar a exibir recordes financeiros. Nos tempos áureos, a Avibrás chegou a exportar US$ 1 bilhão em bombas e lançadores de foguetes.