19/01/2005 - 8:00
Nenhum acionista gosta de ouvir aquele tipo de mensagem ? e o executivo Philippe Prufer sabia disso. Era o final do primeiro semestre de 2001 e Prufer, recém-empossado na presidência da filial brasileira da Eli Lilly, estava anunciando ao alto comando da corporação americana o encolhimento dos negócios no Brasil. ?É uma ponte entre a velha Lilly e a nova Lilly. Primeiro haverá uma queda no faturamento, mas depois voltaremos a crescer de forma mais acelerada e consistente?, explicou ele a seus chefes. Prufer saiu dali com um voto de
confiança num ambiente de desconfiança. ?Não foi uma situação confortável?, recorda. Mas, numa possível reunião de balanço nos dias de hoje, Prufer certamente estaria mais à vontade. Em 2004, a Lilly foi o laboratório que mais cresceu no mercado brasileiro. Seu faturamento subiu de US$ 79 milhões para US$ 121 milhões na área farmacêutica, um salto superior a 53%, contra uma expansão média de 22,5% no setor.
O resultado é fruto do plano apresentado em 2001 ao conselho de administração. Batizado de Nova Lilly Brasil, trata-se de uma receita radical contra o
principal mal que afligia a empresa por aqui: o envelhecimento de suas linhas
de produto. Na ocasião, os antibióticos predominavam o portfólio da companhia. Juntos, representavam mais de 80% das receitas. Pior: eram marcas antigas
e, por isso, foram duramente atingidas pelo advento dos medicamentos genéricos. Em poucos anos, a companhia despencou do 11º para o 32º lugar no ranking da indústria farmacêutica.
Foi nesse ambiente que Prufer, um brasileiro de 41 anos, assumiu o comando. Seu currículo ostentava 16 anos de trabalho no grupo em 11 diferentes cargos nos Estados Unidos, na Argentina e no Brasil. Entre eles, estava o de gerente geral do Prozac, o antidepressivo campeão de vendas da indústria no mundo. ?Era necessário rejuvenescer a companhia no Brasil?, conta ele. A estratégia dos negócios passou por uma cirurgia completa. De fabricante de antibióticos clássicos, a Lilly se transformou em um laboratório dos chamados ?medicamentos de patente?, ou seja remédios de última geração lançados no exterior. A empresa colocou nas prateleiras das farmácias de dois a três produtos novos por ano no mundo desde 2000, um dos melhores índices do setor. Esse ritmo deverá ser mantido nos próximos quatro anos. ?Por que não aproveitar essa inovação no Brasil??, pergunta Prufer.
Para isso, a empresa se desfez da maioria das marcas de antibióticos no Brasil. A fábrica de Cosmópolis, especializada na produção desse tipo de medicamento, também foi vendida, para o grupo italiano ACS. Hoje, os antibióticos respondem
por menos de 5% das receitas. Ao mesmo tempo, a unidade industrial de São Paulo era totalmente reformulada. Ali foram investidos US$ 12 milhões nos últimos
três anos. Ao longo de 2005, três remédios de última geração passarão a ser produzidos no Brasil ? o Cialis, para disfunção erétil, o antipsicótico Zyprexa e o Evista, indicado para tratamento de osteoporose. ?Nossa filosofia é manter produtos pioneiros no Brasil ou que tenham uma grande vantagem sobre o que já existe no mercado?, diz Prufer.
Essa virada na estratégia exigiu uma profunda renovação do quadro de funcionários da Lilly. Dos nove diretores em 2001, apenas um continua na função. ?Todos os outros são novatos na posição?, diz Prufer. ?A especialidade dos medicamentos mudou e, com ela, os consumidores e os médicos de nosso relacionamento. Precisávamos de um novo perfil de colaboradores.? Desde 2001, quando assumiu a presidência, Prufer assinou a contratação de 286 novos profissionais e promoveu internamente 445 funcionários. Ou seja, praticamente todos os 650 postos de trabalho da companhia têm um novo ocupante. Os resultados apareceram e até os acionistas gostaram. Recentemente entregaram a Prufer o comando das operações em todo o Cone Sul da América do Sul.
AS ARMAS DA EMPRESA
Os produtos da Lilly para recuperar o espaço perdido
Pioneirismo na farmácia
Forteo é o primeiro remédio no mundo que
atua contra a osteoporose reconstruindo massa
óssea. Os demais evitam apenas a progressão da doença
Pioneirismo na farmácia
Forteo é o primeiro remédio no mundo que
atua contra a osteoporose reconstruindo massa
óssea. Os demais evitam apenas a progressão
da doença
Na luta contra o câncer
Alimta: o único a combater
o câncer provocado pelo asbesto
Arma de última geração
O Xigris é o mais avançado tratamento
contra infecções generalizadas
Ameaça ao Viagra
A vantagem do Cialis é seu efeito
prolongado (36 horas) nos casos
de disfunção erétil