“E parecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam”. Este trecho bíblico, em Hebreus 9, versículo 28, descreve a tão esperada volta do Messias pelos cristãos. Mas o noticiário arrebatador dos últimos dias – inclusive entre a ala evangélica – chama atenção para o retorno de outro Messias, o Bolsonaro. Depois de três meses autoexilado nos arredores dos parques da Disney, em Orlando, o ex-presidente chegou quinta-feira (30). Sua missão? Liderar a oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva e reorganizar seus apoiadores. “Ano que vem elegeremos 70% dos prefeitos do Brasil”, afirmou Bolsonaro, ao falar com políticos e apoiadores na sede do PL em Brasília.

O timing da volta de Bolsonaro, segundo o presidente de seu partido, Valdemar da Costa Neto, é ideal. Primeiro porque há um entendimento de que as dificuldades de Lula com a economia e as falas pouco republicanas sobre as ameaças sofridas por Sergio Moro favorecem o ex-presidente. Segundo porque uma ausência por mais tempo poderia amplificar o desgaste da imagem de Bolsonaro, que responde por apropriação de joias de governos árabes e terá se defender de um rosário de processos na Justiça, sem foro privilegiado. Só em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) enviou para primeira instância dez processos contra Bolsonaro, acusações que vão desde crime contra a ordem constitucional, racismo, difamação e injúria.

O CALVÁRIO Além dos impasses com as joias (no dia 28 um novo escândalo, envolvendo um relógio, foi ventilado) as ações que correm no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por ataques às urnas eletrônicas e diversas irregularidades na campanha completam o caminho tortuoso de Bolsonaro (e suas implicações políticas e judiciais). “É pouco provável que Bolsonaro seja preso nos próximos meses, mas é certo que ele terá muita explicação a dar”, disse o cientista político e professor da FGV, Marcos Teixeira. “Mas não há dúvidas de que os processos em curso terão elementos de sobra para encerrar a trajetória política do ex-presidente.” Seja pessoalmente ou via redes sociais, a volta de Bolsonaro ressuscita seu movimento e marca o início de um novo capítulo no tumultuado cenário político do País, com desdobramentos ainda imprevisíveis. Ao menos, ele está presente para se defender das acusações e esclarecer seus supostos crimes. Como diz em João 8:32: “E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará.” No caso de Bolsonaro, talvez não.