Em um mundo cada vez mais saturado de marcas e coisas, foi-se o tempo em que o design era algo que fazia as coisas serem mais bonitas. Ele é hoje peça central no processo de produção e precisa ser aplicado em todos os planos. Isso implica pensar como as pessoas se relacionam com as coisas e criar objetos e serviços que antecipem necessidades. Enfim, hoje, o design é fundamental para o sucesso de uma companhia.
 

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O designer, formado em desenho industrial, em 1981, pela San José University, da Califórnia, participou da
criação do Macintosh Powerbook e do Mac do 20º aniversário

 

Um dos maiores propagadores do novo paradigma é o americano Robert Brunner, que começou sua carreira na Apple há 20 anos, quando computadores e celulares ainda não eram produtos massificados. Hoje, ele atua como consultor e já fez trabalhos para grandes empresas como a Nike e a livraria Barnes & Noble.

?Se aplicado de maneira apropriada, o design pode ser um modo de se conectar com o cliente, transformar empresas e mercados. É ele que faz com que as pessoas criem relações emocionais com um produto?, disse Brunner em entrevista exclusiva à DINHEIRO. Autor do livro Gestão estratégica do design, Brunner acredita que o design pode estar presente em projetos de negócios, serviços financeiros e até em check-in de aeroportos.

“A obra de Brunner é decisiva na construção de um entendimento profundo sobre a verdadeira contribuição estratégica do design”, aponta Luciano Deos, sócio do GAD, consultoria de marcas. Nessa nova realidade, em que ele deve ser o imperativo, não é mais o novo produto que deve se adaptar ao processo de produção, mas o processo que deve se moldar ao produto.

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Criaturas do criador: No centro, caixa de som para IPhone. da esq. para a dir. : um fone de ouvido com estilo futurista,
o mindset, protótipo de PC inventado em 1984 e que está no acervo do Moma e o nook, o leitor eletrônico da Barnes & Noble

Os maiores argumentos de Brunner estão na história da Apple, que desde 1997, quando estava à beira da falência, começou a apostar no design industrial e na inovação. E, assim,  lançou sucessos de venda como o iPod, o MacBook Air e o iPhone. Outro exemplo é a coreana Samsung, que antes era conhecida como fabricante de produtos de segunda categoria.

Nos últimos anos, a empresa se tornou uma das mais badaladas marcas em consumo de eletrônicos. A diferença é que queimou US$ 50 milhões, em 1995, na fabricação de um lote de celulares que não funcionava. A partir do ano seguinte, apostou na revolução do design, mudando a estratégia de marketing.

A revolução pregada por Brunner pode ainda ser vista no hotel Burj Al Arab, de Dubai, cujo desenho em forma de vela é a estratégia de marketing em si. Custou US$ 2 bilhões, o mesmo que 20% do PIB local. Hoje, com diárias de US$ 1,7 mil é o mais potente símbolo dos Emirados. “A questão é entender as relações que os consumidores estabelecem com as marcas. É isso que faz os produtos diferentes”, explica Marcos Batista, professor do Istituto Europeo di Design em São Paulo (IED).

Brunner iniciou sua trajetória em 1981, quando se formou em desenho industrial na San José University, na Califórnia. Após ter criado projetos para várias companhias locais, tornou-se diretor de design da Apple em 1989. Durante sua gestão, a empresa criou o Macintosh Powerbook e o Mac do 20º aniversário, que seria um prelúdio para o iMac. Algumas de suas obras dessa época foram parar em museus. O Mindset, protótipo de computador criado em 1984, está no MoMA, museu de arte moderna de Nova York.

Hoje, Brunner mantém seu escritório próprio, batizado de Ammunition. Entre os projetos atuais está a criação do Nook, o leitor eletrônico da livraria Barnes & Nobles e relógios para a Nike. ?O design deve ser uma cultura dentro da organização. Não adianta o CEO pedir boas ideias para dali a seis meses. O design é um processo, uma cultura que deve ser criada, não um evento?, aponta. O difícil é colocar em prática.