Assim como tem ocorrido em outras partes do mundo, a viticultura no Chile vem evoluindo de forma rápida e com resultados surpreendentes. Isso vale tanto para grandes produtores – caso da Viña Don Melchor, cujo exuberante cabernet sauvignon da safra 2018 acaba de receber 100 pontos de James Suckling – quanto para as vinícolas familiares e de produção em “escala humana”. O termo define as empresas em que o proprietário está envolvido em todos os processos, desde o manejo do vinhedo até o engarrafamento.
Embora a qualidade alcançada em safras recentes no Chile tenha sido distribuída de forma generosa entre os vários perfis de produtores, tem cabido aos pequenos a tarefa de perseguir a inovação, revolucionando o que se produz no país com uma combinação de ousadia e comprometimento com a excelência.
É isso o que se observa nos rótulos que integram o projeto Vinhos do Novo Chile, nascido da união de oito produtores dedicados a elaborar rótulos exclusivos em quantidades limitadas e que expressem o melhor do país em três categorias: Castas Patrimoniais, Clássicos Reinventados e Terroirs Extremos.
Na quarta-feira (10), duas excelentes amostras do que esses produtores são capazes de oferecer foram apresentadas em uma degustação especial no âmbito do Novo Chile On-Wine, programa criado por iniciativa do brasileiro David Giacomini, que também produz vinhos de escala humana sob a marca La Recova, no Valle de Casablanca. Virtual, internacional e gratuito, o evento Novo Chile On-Wine vai até o início de dezembro com uma programação de palestras, degustações, lives e entrevistas com enólogos chilenos de vanguarda. As duas garrafas degustadas evidenciam que a revolução do vinho chileno está no caminho certo.
O enólogo Rodrigo Romero apresentou seu Trapi Pinot Noir 2017, produzido de forma artesanal a partir de uvas colhidas em vinhedos situados numa das áreas de cultivo mais frias do Chile, no Valle de Osorno, na Patagônia (latitude 40°17′, extremo sul do país). A colheita e seleção de cachos e grãos é feita à mão e a fermentação se dá com leveduras nativas. Envelhecimento em barricas francesas por 12 meses, o vinho não é filtrado, mas nem por isso tem aparência carece de limpidez. Na boca é profundo e intenso, no melhor estilo da Borgonha, ainda que capture a delicada frescura e a tensão especial do clima frio do extremo sul do Chile.
O segundo vinho foi apresentado por Alejandro Hartwig, que pertence à nova geração da vinícola familiar criada nos anos 1970 no Valle de Colchagua. Alejandro apresentou o Edición de Família 2015, um dos principais rótulos da vinícola Laura Hartwig, recentemente premiado no 10º Brazil Wine Challenge com medalha de Ouro, assim como outros dois vinhos inscritos pela vinícola na avaliação.
Trata-se de um blend das uvas cabernet sauvignon (50%), malbec (28%), petit verdot (12%) e cabernet franc (10%) elaborado pelo enólogo Renato Czischke. Um tinto elegante e delicado, que envelheceu em barricas por 20 meses e repousou mais um ano em garrafa antes de chegar ao mercado. Mundialmente reconhecido, recebeu 94 pontos tanto do Guia Descorchados quanto de Tim Atkin, e 95 pontos de James Suckling. Tem nariz frutado, com notas de especiarias, chocolate meio amargo, cassis e grafite. Os dois vinhos podem ser encontrados no site www.dagirafa.com.br.