11/06/2008 - 7:00
TODO MÊS É A MESMA coisa. Na terceira segunda-feira, ?comprados? e ?vendidos? se enfrentam na Bovespa. É a guerra do vencimento do mercado de opções. De um lado da trincheira, estão os investidores que apostaram na alta das ações, os chamados comprados. De outro, lutam os que acreditaram na baixa, os vendidos. Na simbologia da Bolsa de Valores, o cenário traçado pelos primeiros é representado pelo touro e o dos últimos, pelo urso. Entre chifradas (para cima) e patadas (para baixo), esses investidores traçam estratégias que produzem lucros ou prejuízos estratosféricos. Suas armas são as opções de ações, instrumentos que costumam seduzir os novatos na bolsa e causam arrepios nos mais conservadores. Mas o que são esses contratos?
Em resumo, uma opção é um contrato que garante o direito de compra ou de venda de um determinado ativo numa data estipulada e por um valor prefixado. No caso da Bolsa, as opções asseguram ao investidor o direito de comprar ou vender ações por preços combinados previamente.
O acerto é feito nas datas mensais de vencimento. Há opções de compra e de venda de muitos papéis, mas as mais negociadas envolvem as estrelas do pregão à vista, principalmente Petrobras e Vale. Para o vencimento de 16 de junho, por exemplo, existem opções de venda de Vale PNA1 por preços que variam de R$ 34,60 a R$ 54,60 (na terça-feira 3, a ação fechou em R$ 52,45). A Bovespa também oferece opções de índices de ações, como o Ibovespa ? o indicador dos papéis mais negociados ? e o IBrX 50.
| GLOSSÁRIO |
Os principais termos do mercado de opções de ações |
OPÇÕES DE AÇÕES: |
PREÇO DE EXERCÍCIO: |
PRÊMIO: |
VENCIMENTO:** |
OPÇÕES SOBRE IBOVESPA: |
A vantagem das opções é que você não precisa comprar uma ação para investir nela ? basta adquirir, por uma fração do preço à vista, o direito de comprá-la no futuro. E você pode vender uma ação que não possui. Com pequenos desembolsos de caixa, pode montar operações de vulto. O problema é que esse é um mercado muito arriscado e, se a aposta der errado, você pode perder muito dinheiro. O risco é maior para os investidores vendidos que operam ?a descoberto?, ou seja, comprometem-se a entregar papéis que não têm. Essa foi a estratégia inicial do administrador João Carlos Pinilla, 35 anos, de São Paulo.
Em 2006, Pinilla descobriu a Bolsa de Valores. Começou investindo em ações de primeira linha, logo passou para as ?small caps? (de segunda linha) e, em poucos meses, partiu para o mercado de opções. No início, transformou R$ 5 mil em R$ 50 mil em apenas 45 dias. Em seguida, perdeu R$ 40 mil em meia hora. ?Fui impulsionado pela ganância, pela ilusão de ficar milionário em um dia?, relembra Pinilla. A cada passo errado, ele aprendia mais sobre o mercado. Hoje, é mais cauteloso e menos ambicioso. Ele diz que obtém de R$ 300 a R$ 400 diários de renda durante os 40 minutos em que fica na internet operando. Está mais vendido do que comprado. ?Tenho disciplina. Sei o quanto quero ganhar, o quanto posso perder e quando entrar?, afirma. Tony Coelho, de Florianópolis, percorreu um caminho parecido. Começou operando a descoberto. ?Na época que divulgaram a bacia de Tupi, cheguei a ter 700% de ganho em apenas um dia com uma opção de Petrobras?, recorda. No entanto, perdeu de 50% a 60% do capital investido em algumas operações. Escaldado, aprendeu a operar e vai abrir uma corretora.
Os especialistas não aconselham as opções para os novatos na Bolsa. ?Um iniciante não conhece direito nem o mercado à vista. Como poderá montar uma estratégia de operação com opções??, questiona Robson Queiroz, diretor comercial da corretora SLW. Aos poucos, qualquer investidor dedicado pode aprender as minúcias desse mercado sem sofrer grandes prejuízos. É o que fez o dentista carioca Vinícius Farah, 30 anos. Entre uma consulta e outra, ele opera com opções. Nunca perdeu grandes quantias, pois começou investindo pouco, para aprender. Estudou análise gráfica e hoje tem uma estratégia traçada. ?Nunca durmo com uma opção. Minhas operações duram, no máximo, duas horas. Aceito perder somente 10% do que investi. E nunca entro a descoberto?, diz.
Farah recomenda a leitura como uma das principais formas de aprendizado. A bibliografia sobre o tema é vasta e o destaque vai para o livro Os Axiomas de Zurique, de Max Gunther (Ed. Record/ R$ 24,90). É uma espécie de guia que mostra a filosofia dos especuladores suíços (leia abaixo). Todos os detalhes do mercado de opções estão disponíveis nos sites da Bovespa e da CBLC.
| A BÍBLIA DE QUEM ARRISCA |
As doze teorias do livro Os Axiomas de Zurique, de Max Gunther, norteiam a trajetória de quem investe em opções |
| 1) RISCO ? ?Preocupação não é doença, é sinal de saúde. Se você não está preocupado, não está arriscando o bastante? |
| 2) GANÂNCIA ? ?Realize o lucro sempre cedo demais? |
| 3) ESPERANÇA ? ?Quando o barco começar a afundar, não reze, abandone-o? |
| 4) PREVISÕES ? ?Ninguém tem a mais remota idéia do que vai acontecer no ano que vem, na semana que vem nem sequer amanhã? |
| 5) PADRÕES ? ?Cuidado com a ilusão do grafista. O mercado de ações não obedece a padrão nenhum? |
| 6) MOBILIDADE ? ?Jamais hesite em sair de um negócio se algo mais atraente aparecer em sua frente? |
| 7) INTUIÇÃO ? ?Só se pode confiar num palpite que possa ser explicado? |
| 8) RELIGIÃO ? ?É improvável que entre os desígnios de Deus para o universo se inclua o de fazer você ficar rico? |
| 9) OTIMISMO E PESSIMISMO ? ?Otimismo significa esperar o melhor, mas confiança significa saber como se lidará com o pior. Jamais faça uma jogada apenas por otimismo? |
| 10) CONSENSO ? ?Jamais embarcar nas especulações da moda. Com freqüência, a melhor hora de comprar alguma coisa é quando ninguém a quer? |
| 11) TEIMOSIA ? ?Se não deu certo da primeira vez, esqueça? |
| 12) PLANEJAMENTO ? ?Planejamentos a longo prazo geram a perigosa crença de que o futuro está sob controle. É importante jamais levar muito a sério os seus planos a longo prazo nem os de quem quer que seja? |
