A solução encontrada para o banco PanAmericano, que pertencia ao empresário Silvio Santos, parece ter sido a melhor possível. O banco foi vitimado por fraudes e má gestão que geraram um buraco de R$ 3,8 bilhões. 

 

Pelas contas de Antonio Carlos Bueno, principal executivo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), a sua quebra causaria um prejuízo de R$ 10,8 bilhões. Esse cálculo inclui os aportes e as garantias do FGC e o dinheiro dos depositantes. Ao vender o PanAmericano para o BTG Pactual por cerca de R$ 450 milhões, o Fundo perdeu “apenas” a diferença de R$ 3,3 bilhões. 

 

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O dinheiro dos depositantes foi salvo, os contribuintes não foram convocados a dar sua parcela de contribuição, Silvio Santos manteve suas empresas, os acionistas do banco preservaram parte de seu capital e os 1.200 empregados do PanAmericano continuam recebendo seus salários. Tudo está bem quando termina bem?

 

Nem tanto. Vamos esquecer o fato de que os depósitos do FGC são compostos pelas receitas dos bancos com tarifas e com captação de recursos – ou seja, quem paga é o cliente. A vítima que ninguém viu foi a segurança do sistema. 

 

A imagem de um Silvio Santos sorridente anunciando a venda do banco e embarcando para sua mansão na Flórida vai ficar gravada para sempre na memória do sistema bancário. 

 

O sorriso de Silvio estabelece um forte contraste com o despejo de Edemar Cid Ferreira, fundador do Banco Santos, e com os bens bloqueados dos ex-controladores do Nacional e do Bamerindus, para ficarmos em poucos casos.

 

Banqueiros são criaturas cuja busca do lucro está profundamente impressa nos seus códigos genéticos. Só o que os impede de correr riscos cada vez maiores e fazer apostas imprudentes é o medo da quebra. 

 

A literatura econômica é farta de exemplos do que ocorre quando eles se convencem de que têm um salvador à disposição. Sabendo que há um FGC para socorrê-los, eles podem ficar tentados a correr mais riscos – só um pouquinho, claro – para ganhar mais dinheiro. Depois, outro tantinho. 

 

E um bocadinho adicional na semana seguinte, até a hora em que as fotos do banqueiro migram da coluna social para as páginas policiais dos jornais. 

 

O nome técnico desse fenômeno é “risco moral”. Ele foi o responsável pela avalanche financeira que sepultou bancos tradicionais nos Estados Unidos em 2008. Nos 15 anos anteriores, o sistema financeiro americano sabia que podia contar com o ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Alan Greenspan. 

 

Todos sabiam que ele inundaria generosamente o mercado de dinheiro em caso de problemas, garantindo a sobrevida a muitos banqueiros que exageraram no risco. Quando foi preciso intervir, a conta chegou a US$ 1,5 trilhão – e o número aumenta a cada revisão.

 

No Brasil não há sinais de problemas à vista. O sistema bancário brasileiro é várias ordens de grandeza mais sólido do que o americano ou do que o da maioria dos países europeus. No entanto, o volume de empréstimos vem crescendo ininterruptamente há seis anos. 

 

Agora o governo acena com alta de juros, contenção do crédito e propostas de desaceleração da economia, três fatores que são infalíveis para aumentar a inadimplência nas carteiras dos bancos. Embora não haja sinais de nenhum banco com problemas, o risco moral passou a rondar a sede do FGC., o novo emprestador de última instância do País.

 

Em uma entrevista exclusiva à DINHEIRO, Bueno negou que a solução encontrada para o PanAmericano vá tornar-se regra para outros bancos vitimados pelas peraltices de seus controladores. “O FGC não será um pronto-socorro de bancos, não há hipótese de risco moral”, afirmou. 

 

“Vamos impedir que haja qualquer distorção na função do Fundo, que é garantir o dinheiro dos depositantes até R$ 70 mil.” Para o bem do sistema financeiro, é bom que os banqueiros acreditem nele.