Momentos antes da hecatombe que vitimou a Irlanda, a sua nota – bem como a de Portugal, que também parece caminhar para o cadafalso – estava na ordem de A a A-. Uma variação na faixa do que há de melhor em termos de avaliação de risco. Quem atestava era a venerada instituição Standard&Poor’s (S&P), conhecida por sua má vontade atávica na classificação do desempenho do Brasil.  Para se ter uma ideia, no mesmo ranking, a condição brasileira não passava de modestos BBB-, muito embora seja este, já há algum tempo, um país em rota diametralmente oposta, com números sonoros de crescimento e indicadores atestando sua vitalidade robusta. 

 

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Quem pinçou a disparidade foi ninguém menos que o presidente do BC, Henrique Meirelles, para quem é inadiável a revisão da nota de crédito do Brasil. Empurrando-a para cima. Ele está repleto de bons motivos para reclamar o novo status. 

 

Os indicadores fiscais internos são muito melhores que aqueles apresentados pelos europeus. A dívida pública nacional caiu quase à metade: para 40% do PIB. Para efeito de comparação, Meirelles cita que a Itália, cuja nota atual é  A+, possui passivo bruto da ordem de 77% do PIB, com um endividamento quase duas vezes superior ao do Brasil. 

 

A gritante diferença de escala mostra o tamanho dos erros gerados por essas instituições. Podia-se simplesmente ignorar o funcionamento e a existência delas. Mas não é aconselhável. 

 

O problema é que as notas dessas agências seguem funcionando como uma espécie de bússola para investidores globais que andam em busca de oportunidades. Recentemente, a Moody’s, a Fitch e a própria S&P acabaram por reconhecer e avalizar o “investment grade” (grau de investimento) brasileiro. 

 

Isso na prática significou novos e generosos aportes de capital estrangeiro, levando o BC ao registro de entrada recorde anual de recursos no País. Qualquer pontuação fora da curva, para cima ou para baixo, lançada pelas agências significa, portanto, reversão grande de expectativas nesse campo, contribuindo para o crescimento ou regressão econômica dos países e empresas avaliados. O ministro Meirelles está certo em seguir nessa cruzada. Quer fazer justiça antes de sua retirada do poder.