20/07/2005 - 7:00
Quando era gerente de vendas da Esso, em 1979, Seizi Tagima costumava ter tempo livre. Não raro, abandonava o escritório e corria para sua loja de máquinas fotográficas, que mantinha em paralelo ao emprego na empresa de petróleo. E isso não era tudo. Irriquieto mesmo quando estava em casa, onde se divertia em uma improvisada oficina na garagem, ele vestia o macacão e dava vazão às suas tresloucadas criações. De lá, esse nissei apaixonado por pescaria e ex-músico da Jovem Guarda construiu barcos e transformou motocicletas comuns em versões motocross. Criativo, o sr. Tagima, né? Tão criativo que, hoje, ele não faz nada disso: sua empresa é a maior fabricante nacional de guitarras. Como ele chegou a isso? Na época, os amigos perceberam suas aptidões para consertar coisas. As mais diversas. Foi quando um deles lhe entregou uma guitarra desafinada, em meados de 1980. ?Ô japa, dá um jeito nisso aí. Ela não afina de jeito nenhum?, propôs o sujeito. Tagima jamais dedilhara uma guitarra ? o que não foi problema. Para encurtar a história: ele desmontou o instrumento, trocou peças, fuçou e concluiu que era mal-feito. Para não decepcionar o amigo, resolveu fazer do zero uma guitarra. E o momento era propício: as nacionais tinham baixa qualidade e as estrangeiras, caríssimas, nem eram importadas regularmente. Nascia ali a empresa que, hoje, domina 30% do segmento, com a venda de 800 unidades por mês. ?Gosto de inventar?, resume Tagima, que largou a Esso apenas em 1989 e conta ter empenhado seu carro (um VW Gol Turbo, preparado por ele mesmo) para realizar as primeiras compras junto aos fornecedores de peças de guitarra.
Como qualquer empreendedor autodidata, que age por instintos e dispensa formações teóricas, Tagima jamais conseguiu gerenciar a empresa com os mesmos toques de genialidade. A companhia chegou a fabricar 1.000 guitarras por mês em 1994, mas ?conseguiu? endividar-se e, três anos depois, quase beijou a lona. Nesta época, o empresário Ney Nakamura, dono da Marutec, importadora de instrumentos musicais, tentava inserir-se no setor de guitarras. Foi desencorajado pelas lojas do ramo. Acontece que o mercado já era preenchido por modelos nacionais baratos, com a Tagima na faixa intermediária e as importadas de renome, como Gibson e Fender, no topo da cadeia. Esses mesmos lojistas deram-lhe a dica: o sr. Tagima estava em dificuldades. Nakamura logo lhe propôs a compra integral da empresa. Negócio fechado. ?Hoje, o Ney cuida do negócio e eu continuo na produção, criando novos modelos e, principalmente, zelando pela qualidade?, comemora o sr. Tagima.
Hoje, a guitarra nacional é utilizada por músicos famosos como Fernando Magalhães, do Barão Vermelho, e Herbert Vianna, de Os Paralamas do Sucesso. Segundo Tagima, ?Herbert faz questão de pagar R$ 1,8 mil pelo instrumento, justificando que antes desembolsava US$ 5 mil na Fender?. Mas, de olho no segmento de preços mais acessíveis, a Tagima também importa uma linha de violões e guitarras da Coréia do Sul. ?Chama-se Memphis e custa R$ 500, contra R$ 1 mil da Tagima. Só que as importadas estão acima de R$ 2 mil?, explica Nakamura. No total, incluindo importação, principalmente de violões, o volume de instrumentos chega a 2,5 mil unidades mensais, o que compõe um faturamento estimado de R$ 8 milhões por ano. Esforçando-se para firmar o nome como fabricante de alta qualidade, a Tagima tomou uma decisão inusitada em 2004. Resolveu competir com Fender e Gibson lá fora. ?Expusemos nossos produtos em uma feira alemã, de onde surgiram os primeiros negócios. Já vendemos para EUA, Alemanha e Japão?, conta Nakamura. Tagima completa: ?Lá, nossas guitarras são vendidas por e 3 mil [R$ 8,4 mil]. Quem sabe não teremos maior reconhecimento no Brasil??