Nos últimos anos, o segmento de biscoitos viveu um período de intensa agitação, patrocinada pelas multinacionais. Para crescer rapidamente no Brasil elas optaram pela aquisição de marcas de prestígio. Rótulos tradicionais que povoaram a infância dos marmanjos de hoje, como São Luiz, Tostines, Duchen, Aimoré e Triunfo, passaram a fazer parte do portfólio de gigantes como Nestlé e Kraft. Uma delas tornou-se uma exceção que confirma a regra: a carioquíssima Piraquê, a dona do biscoito Goiabinha. Fundada em 1952 por Celso Colombo, ela não apenas rechaçou as ofertas como se diversificou e incomoda os grandalhões do setor. Hoje, a Piraquê é líder absoluta no Rio de Janeiro com uma fatia de 40% em biscoitos e 25% no caso das massas. Suas receitas devem crescer 20% neste ano, atingindo R$ 360 milhões. Mas, afinal, qual o segredo da pequena Piraquê? ?Não existe uma fórmula mágica?, conta Celso Colombo Filho, de 60 anos, diretor comercial e herdeiro da empresa. Segundo ele, o bom desempenho é fruto de uma forma singular de operação, baseada na verticalização. A companhia fabrica desde a gordura até a embalagem dos produtos. A venda e a distribuição ficam a cargo de um exército composto por 1,2 mil profissionais. Todos contratados. Eles percorrem cerca de 60 mil pontos-de-venda semanalmente, incluindo supermercados da zonal sul e biroscas situadas nas centenas de morros e favelas do Estado do Rio.

A empresa também apostou em receitas exclusivas como o biscoito recheado de goiabinha e a bolacha de água e sal com gergelim. ?Ao contrário dos concorrentes, nós soubemos explorar todas as faixas da pirâmide de consumo?, argumenta Colombo Filho. O empresário apressa-se em dizer que isso não significa, porém, que a Piraquê adote uma postura de guerrilha, partindo para a guerra de preços para defender o seu espaço. ?Nossos biscoitos e massas são, em média, mais caros que as marcas rivais?. No total, a empresa processa 90 itens, entre biscoitos, massas e margarinas. Mas as vendas estão concentradas no Rio de Janeiro,que responde por 80% do faturamento. Em escala nacional, a participação cai para apenas 3,4%. Por isso, a família Colombo pretende expandir-se em direção ao Estado de São Paulo e à região Nordeste, locais onde já atua de forma bastante tímida.

O projeto para o interior paulista é o mais adiantado. Ele foi desenhado por Alexandre Colombo, de 36 anos e integrante da terceira geração, e conta com a bênção da ?velha guarda?. A venda e a distribuição ficarão a cargo da Disduc, que atua com grifes de prestígio, como Ferrero Rocher, Hershey?s e Procter & Gamble. Ela se abastecerá no depósito que a Piraquê possui em Vila Guilherme, bairro da capital de São Paulo. O alvo inicial são 220 cidades situadas no entorno de Sorocaba. ?Queremos dobrar, para 20%, a fatia de

São Paulo em nossas receitas até o final de 2008?, diz. Para dar conta dessa nova demanda, a companhia investiu R$ 45 milhões no período 2006/2007. A compra de três linhas de produção ampliou em 30% a capacidade produtiva. A decisão de ir além das fronteiras fluminenses é considerada positiva por analistas. ?Ao aumentar seu raio de ação, a Piraquê reforça sua posição em uma possível nova rodada de consolidação do setor?, opina Olivier Girard, sócio-diretor da Trevisan Consultoria. Segundo ele, a Piraquê figura na lista de ?noivas cobiçadas? que inclui ainda a paulista Marilan e a goiana Mabel. É um assunto distante, garante a família. ?Está fora de cogitação?, afirma Colombo Filho.