O ano era 1994. Andrea Jung estava em sua última entrevista de um cansativo processo de seleção para ser admitida na Avon de Nova York. Recebida pelo diretor da área onde iria trabalhar, notou que havia um quadro com quatro pegadas sobre a mesa. Uma pegada de macaco, seguida pela de um pé descalço, um com sapato masculino e um com salto alto. O diretor então afirmou: ?Essa é a evolução da espécie e a evolução da Avon. Em pouco tempo, as mulheres mandarão na companhia?. Dito e feito. Sete anos depois, Andrea tornava-se a primeira mulher a presidir as operações mundiais da Avon, a maior companhia de vendas diretas do mundo, com faturamento de US$ 6 bilhões. Passados doze meses, a história se repete. Desta vez, no Brasil. Aos 41 anos, Eneida Bini, que entrou na Avon como secretária, assume a terceira maior operação da companhia. ?Estou emocionada com a indicação da Eneida. Além de ser mulher, ela tem uma trajetória muito parecida com a minha?, contou Andrea à DINHEIRO, em uma rápida passagem por São Paulo.

Mas não é por ser do sexo frágil que Eneida Bini deverá encontrar moleza pela frente. Ela herda de Amílcar Melendez, que subiu à presidência da Avon para América Latina, uma empresa que não pára de crescer. Nos últimos sete anos, a subsidiária surpreendeu até os executivos lá fora. ?A taxa de crescimento da filial brasileira tem sido maior que a da própria matriz?, revela Eneida. Basta dizer que, entre 1997 e 2002, o faturamento da filial brasileira dobrou, fechando em R$ 2,2 bilhões no ano passado. Outro feito do Brasil é ter a maior força de revendedoras do mundo. São 770 mil mulheres que passam de porta em porta, de Roraima ao Rio Grande do Sul, munidas de catálogos e amostras. O contingente de Avonetes é maior do que o do Exército, Marinha e Aeronáutica juntos. Um batalhão responsável por feitos impressionantes: pelo menos 20 milhões de brasileiras compram um produto Avon a cada três semanas. Mas e a crise e as desvalorizações do Real? A Avon não tem medo disso. Pelo contrário. ?É em momentos como este que ganhamos mercado?, garante a presidente mundial. As vendas podem até diminuir, mas, por outro lado, aumenta o número de mulheres dispostas a percorrer as vizinhanças para reforçar a renda familiar. Não à toa, a subsidiária brasileira contrariou qualquer expectativa e cresceu neste primeiro semestre de 2002. ?O faturamento aumentou 20% e o lucro, 25%?, comemora Eneida. E não só pela força da Avon. Com menos dinheiro em caixa e menos experiência no País ? a Avon foi a primeira a chegar por aqui, há 50 anos ?, as competidoras ficam cautelosas na hora de investir. A Avon não. Inaugura seu terceiro centro de distribuição, um investimento de US$ 20 milhões na Bahia.

Rainha dos sapatos. O otimismo da empresa com relação ao País é confirmado pelos números. ?Em 2003, chegaremos a 1 milhão de vendedoras e criaremos uma gama nova de produtos?, revela a presidente mundial da empresa. Algum novo segmento de produtos? Andrea desconversa. Cosméticos, maquiagens, perfumes. O de sempre. Avon é sinônimo de produtos de beleza. No Brasil, é responsável pela venda de dois em cada três batons. Mas isso não é tudo. Há curiosidades que ninguém iria imaginar. A Avon é, por exemplo, a número um em bijuterias nos Estados Unidos. A maior vendedora de lingerie da Filipinas. E a maior distribuidora de sapatos do Brasil. Isso mesmo. Pelas mãos das meninas da Avon passam 10 milhões de pares de sapato por ano ? 2% do mercado nacional. Essas atividades, digamos, paralelas já representam um terço do faturamento por aqui. A Avon ainda é essencialmente um empresa de vendas diretas. Traduzindo: porta-a-porta, catálogos e até internet (lá fora). Mas já começa a ensaiar os primeiros passos no varejo. No ano passado, começou a vender os produtos na rede JC Penney. Planos de fazer o mesmo no Brasil? ?É uma atividade complementar que qualquer dia chega ao Brasil?, diz Andrea.

Em sua segunda visita ao País, Andrea almoçou com a prefeita
de São Paulo, Marta Suplicy, e foi recebida pela primeira-dama
Ruth Cardoso. Todas mulheres poderosas. Na Avon, elas não são casos isolados. Cerca de 17% das presidentes são mulheres,
assim como 70% das diretoras. Uma empresa essencialmente ?luluzinha?. Ou, como prefere a presidente mundial da Avon: ?Costumo dizer que somos uma empresa de mulheres, com
poucos, mas bons, rapazes.?