10/02/2010 - 10:03
Quando decidiu abrir uma pequena fábrica de sapatos femininos na cidade gaúcha de Novo Hamburgo, em 1991, o empresário Cesar Minetto tinha o sonho de um dia vender seus produtos no Exterior. ?Esse desejo se tornou minha meta pessoal e eu sabia que ia chegar lá?, disse o empresário, 42 anos, com exclusividade à DINHEIRO, em sua primeira entrevista à imprensa.
?Construímos uma nova marca do zero e agora vamos entrar no mercado da classe A? Paulo Kieling, Diretor de marketing da Via Uno
Discreto e avesso a qualquer tipo de exposição (ele não se deixa fotografar), Minetto pode hoje olhar para trás com um certo ar de satisfação comum àqueles empreendedores que conseguem o que querem. Além das 115 lojas espalhadas pelo Brasil, a marca atualmente possui 112 endereços estrangeiros.
A localização não é restrita apenas a badalados berços da moda, como Itália e França, mas também a lugares comercialmente exóticos. Entre eles, Cuba, Jordânia, África do Sul, Ilha de Guadalupe, Filipinas, Israel e Emirados Árabes. Dos oito milhões de sapatos produzidos por ano, metade é exportada.
Qual o segredo para desvendar os desejos de consumo de mulheres do mundo inteiro? ?A atual moda brasileira é internacional e aproveitamos isso para criar uma marca global?, diz Minetto. ?O mesmo produto que vendemos em Rondônia, podemos levar para Dubai.?
A estratégia trouxe à empresa um faturamento de US$ 150 milhões em 2009, número 15% maior em relação ao ano anterior. E o mercado não tem crescido mais de 5% ao ano. Para 2010, os planos incluem a abertura de 80 lojas e a aquisição de uma marca de sapatos de luxo.
O negócio será feito em parceria com um fundo de investimento ? assunto que Minetto evita comentar. ?Devemos anunciar essa aquisição ainda no primeiro trimestre?, antecipa. ?Precisamos atender todos os tipos de consumidoras e vamos chegar à classe A com essa nova operação.?
Essa ambição de Minetto contrasta com seu jeito simples. Quem o vê andando pela sede da empresa usando calça jeans, tênis e camiseta polo, mal consegue distingui-lo dos outros funcionários. Ali, ele é chamado pelo primeiro nome. Muitos conhecem sua história.
Aos 18 anos, Minetto deixou sua cidade natal, a pequena Alecrim, no interior de Porto Alegre, para estudar engenharia em Novo Hamburgo. Para pagar o curso, começou a trabalhar em um banco e logo começou a pensar em investir na promissora área calçadista na região. Como não entendia nada do ramo, largou a faculdade e contratou cinco tecelãs para fazer os primeiros pares de sapatos na garagem de sua casa.
?Na época, muitas fábricas surgiam e todas apenas exportavam os pares?, diz Paulo Kieling Filho, diretor de marketing da Via Uno. ?Em vez disso, decidimos inicialmente construir uma marca forte que pudesse agregar valor ao produto.?
A demanda pelos sapatos cresceu nas últimas duas décadas. Nos anos 90, ele começou a distribuir o produto em lojas multimarcas. Em meados dos anos 2000, deu a sua principal tacada: abriu uma rede de franquias, terceirizou a produção e focou a atenção no design dos produtos ? a chave dos negócios vencedores na área de calçados.
?Repaginamos tudo para conquistar consumidoras da classe B, além das mulheres da classe C que já atraíamos?, diz o empresário. Apesar da recente expansão, Cláudio Tomanini, professor de MBA da FGV, acredita que dificilmente a empresa poderá se posicionar da mesma maneira no Exterior. ?Por mais que faça sucesso, a Via Uno é tida como popular lá fora?, diz ele.