26/07/2013 - 21:00
A abertura de capital da petroleira brasileira HRT, em outubro de 2010, foi literalmente uma festa. No dia de tocar o sino na BM&FBovespa para comemorar a captação de R$ 2,6 bilhões, músicos e passistas da escola de samba Beija-Flor, do Rio de Janeiro, invadiram o pregão. De lá para cá, no entanto, o samba desafinou. Fundada pelo mineiro Márcio Mello, ex-executivo da Petrobras, em parceria com um grupo de técnicos da estatal, a empresa, até o momento, fracassou em todas as suas tentativas de encontrar petróleo, aqui e lá fora. Seu mais recente “furo n’água” aconteceu na Bacia de Walvis, na costa da Namíbia. No dia 19 de julho, a empresa comunicou ao mercado que as perfurações realizadas no local encontraram apenas um poço seco.
Festa na bolsa: passistas da escola de samba Beija-Flor, do Rio de Janeiro,
animaram o IPO da petroleira em 2010
Foi o segundo revés sofrido no litoral africano este ano. Na Bacia do Solimões, na Amazônia, onde a HRT explora uma área de 48.500 km², os resultados também não foram bons. Apesar de ter descoberto diversas jazidas de gás natural, a empresa está com dificuldades para viabilizar sua exploração comercial. Com as opções de gerar valor para os acionistas se esgotando, as ações da HRT despencaram. Desde o início do ano, a desvalorização dos papéis já ultrapassou 64%. Hoje, elas valem R$ 1,70. Em março de 2011, chegaram a ser cotadas a R$ 43,40. O acúmulo de fracassos, somado à falta de perspectivas, levou a HRT a se preparar para um desmanche.
Bateria atravessada: as ações da HRT, fundada por Márcio Mello,
sofreram uma desvalorização de 64% este ano
No início de julho, foi criada uma comissão para elaborar um plano de desinvestimento. Na semana passada, a petroleira confirmou que está contratando uma instituição financeira para ajudar na busca por opções que tragam algum ganho aos investidores. A empresa nega, mas entre essas opções estaria a sua liquidação. Para diversos analistas do mercado financeiro, inclusive, essa é uma hipótese que precisa ser considerada. Segundo um relatório do banco Credit Suisse, as chances de isso acontecer são de 25%. Nas contas dos analistas da Empiricus Research/Investmania, está claro que a soma do que a empresa tem em caixa, com seus créditos fiscais e seus ativos fixos, oferece valor substancialmente superior às cotações correntes.
A avaliação dos ativos para uma eventual liquidação da HRT, hoje, é de R$ 1,7 bilhão. Seu valor de mercado está na casa dos R$ 500 milhões. “Ainda vejo algumas saídas, mas a liquidação não pode ser descartada”, afirma o analista Felipe Miranda. “Seria uma saída corajosa e digna.” As esperanças da HRT, agora, estão depositadas em duas frentes. Na África, a empresa vai iniciar a perfuração de um terceiro bloco na Namíbia, chamado de Moosehead. Trata-se da menina dos olhos de Mello, que deixou a diretoria executiva da HRT em maio deste ano e detém ainda 3% da petroleira. O empresário sempre acreditou ser esse seu poço mais promissor. Hoje, é a última chance de encontrar petróleo na região.
Apesar de ainda possuir outros oito blocos na mesma costa, dificilmente uma nova tentativa será realizada em caso de fracasso. No Brasil, a HRT aguarda a aprovação, pela Agência Nacional de Petróleo, da compra de 60% de participação no Campo de Polvo, na Bacia de Campos (RJ), pertencente à britânica BP Energy. Caso isso aconteça, o que é a hipótese mais provável, ela se tornará a operadora do campo, que produz atualmente 13 mil barris de óleo por dia. No início de agosto, a petroleira também apresentará seu plano para viabilizar a exploração das reservas de gás no rio Solimões. A princípio, a chance de sucesso é grande. Essas operações no País representam as oportunidades com maior probabilidade de obtenção de bons resultados.
Mesmo assim, alguns analistas acreditam que elas não são suficientes para garantir o futuro da companhia. “Somente o anúncio de uma descoberta de petróleo poderia mudar substancialmente o valor da empresa”, escreveram, em recente relatório, Oswaldo Telles e Frederico Salazar Lebre, analistas do Banco Espírito Santo. Enquanto o petróleo não aparece, a única opção é prosseguir com o plano de desinvestimento. Na segunda-feira 22, a empresa deu mais detalhes sobre o programa. O objetivo é vender os 14 helicópteros da Air Amazonia, companhia aérea criada para transportar os trabalhadores que atuam nas operações da HRT na Bacia dos Solimões. Seis deles serão comprados pela americana Erickson Air-Crane. Os outros oito serão oferecidos ao mercado. Também estão à venda duas sondas de perfuração terrestre, avaliadas entre US$ 40 milhões e US$ 50 milhões, e a empresa de análises geoquímicas IPEXco.