19/04/2006 - 7:00
Um passeio pelo deserto de Nevada, nos Estados Unidos, mudou a vida e a carreira do produtor de vinhos Mario Moretti Polegato, de 53 anos. Em meados de 1993 o italiano foi aos EUA para uma convenção de vinicultores e aproveitou para conhecer as Montanhas Rochosas. Como o calor tornava a caminhada penosa, Polegato usou um canivete para fazer furos na sola do sapato. Além de ?refrescar? os pés, ele percebeu que aquela idéia poderia lhe render muito dinheiro. Estava certo. Hoje, sua grife de calçados, a Geox, tem faturamento anual de US$ 540 milhões e cresce 35% ao ano. A marca é dez vezes maior que a vinícola da família, a Villa Sandi. Em 2005, foram vendidos 13 milhões de pares de sapatos com a etiqueta Geox nas versões infantil, masculino e feminino em 10 mil lojas da Europa, Ásia e Estados Unidos. Dessas, 450 são no sistema de franquia. A lista de clientes inclui celebridades de Hollywood (como Angelina Jolie) e membros da realeza (o príncipe Albert II de Mônaco, por exemplo). ?Quem usa Geox não muda jamais?, disse à DINHEIRO o nada modesto Polegato, que se considera um revolucionário: ?Minha trajetória é estudada nas principais universidades da Europa?.
Tecnologia: Membrana de teflon, fixada entre a sola e a palmilha, permite a circulação do ar
Até chegar neste ponto, contudo, o dono da Geox gastou literalmente muita sola de sapato. Foram três anos para desenvolver o sistema de ?refrigeração?. Trata-se de uma membrana de teflon dotada de canais microscópicos, fixada entre a palmilha e a sola do calçado. A peça permite que o ar quente saia pelos furos do solado, sem, no entanto, deixar a água ou a poeira entrar. No início, o produto foi recusado pelo mercado. ?Ninguém quis apostar em minha idéia?, lembrou. Em parte foi bom porque, hoje, Polegato não precisa dividir os ganhos. No início de abril ele esteve no Brasil para acompanhar a abertura da primeira de uma série de lojas que vai instalar na região. O ponto escolhido foi a sofisticada rua Oscar Freire, em São Paulo.
Com preços que variam entre R$ 99 (infantis) e R$ 640 (masculinos), os sapatos Geox não assustam a indústria local. ?Ele opera em uma faixa muito restrita do mercado?, argumenta Elcio Jacometti, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calçados. A meta de Polegato é abrir dez lojas no Brasil. Parte da produção virá de um fabricante do Sul, cujo nome não revela. O restante será importado de outras nações emergentes como Romênia e China. O empresário conseguiu unir o melhor de dois mundos: a tradição italiana em design com o custo reduzido de mão-de-obra. Para 2006, a meta é crescer mais 35%, com uma ajuda do Brasil e dos demais mercados da América Latina. ?O País é vital para nossa estratégia?, garante.
US$ 540 milhões é quanto a Geox fatura por ano