É fácil entender por que, aos 71 anos, o australiano naturalizado americano
Rupert Murdoch está feliz como um adolescente na foto ao lado. O primeiro motivo é que o dono do conglomerado de mídia News Corp. será pai pela sexta vez. No lado profissional, ele também não esconde a satisfação com o desempenho da sua rede de jornais, revistas, editoras de livros e redes de televisão espalhadas pelo mundo. Na época em que os concorrentes naufragam em dívidas e problemas financeiros, a News Corp. navega em águas tranqüilas. Nos últimos seis meses, as ações da companhia foram valorizadas em quase 18%, contra uma desvalorização média de 6% em todo o setor de mídia listado na Bolsa de Nova York. As receitas em 2002 chegaram a US$ 18 bilhões para um lucro de US$ 2 bilhões. ?Tenho sorte nos negócios e na vida pessoal?, afirma.

Creditar o sucesso de Murdoch apenas à sorte é uma saída fácil para se entender um personagem tão complexo. Ele é um jogador que consegue antecipar os lances dos seus adversários ou tendências de mercado e usa com sofisticação sua rede de contatos, em especial as amizades que construiu junto a políticos conservadores. No atual momento mundial, por exemplo, todas as baterias da News Corp. estão a favor da dupla George W. Bush e o primeiro-ministro britânico Tony Blair.

Em dinheiro. Murdoch também tem ao seu lado uma grande competência gerencial e o fato de não ter analistas de Wall Street dando conselhos no dia-a-dia das suas empresas. Ele sabe como correr riscos e gosta de entrar em boas brigas. Em 1985, ele se naturalizou para fugir à legislação americana que proíbe estrangeiros de serem donos de emissoras de TV. Murdoch estava atrás da Fox News e sem essa mudança ele perderia a oportunidade de entrar em grande estilo no mercado americano. Autoridades tentaram impedir o negócio. Mais uma vez, as amizades ajudaram. Apoiado por políticos republicanos no Congresso dos Estados Unidos, ele conseguiu atingir seu objetivo. A ajuda conservadora proporcionou ao magnata uma ascensão no mercado da Inglaterra na administração da ex-primeira-ministra Margaret Thatcher.

Agora, mais uma vez o cenário está favorável para o empresário nos Estados Unidos. O governo Bush nada tem contra a News Corp. Murdoch quer comprar uma das duas maiores empresas de TV por satélite do país, a DirecTV, da General Motors, ou a EchoStar. A primeira tem 11 milhões de assinantes contra os oito milhões da EchoStar. A entrada da News Corp. vai esquentar ainda mais o mercado que movimenta US$ 72 bilhões por ano. Murdoch prefere ter o controle da DirecTV, empresa que tentou comprar em 2001. Junto com a Microsoft e a Liberty Media, a News Corp. está disposta a pagar em dinheiro US$ 6 bilhões pelos 30% da GM na empresa de TV por satélite.

A idéia de Murdoch é ter alcance global na área de satélite e os Estados Unidos são a última grande fronteira. O empresário está presente na Europa, Ásia, Oceania e América Latina. No Brasil, a News Corp é dona da Sky, que conseguiu crescer 4% no ano passado dentro de um mercado onde companhias como Net Serviços, das Organizações Globo, amargam pesados prejuízos. O sonho do barão da mídia mundial, porém, é o domínio do mercado americano. Alcançando esse objetivo ele poderá negociar, por exemplo, os direitos de exibição mundiais da Copa do Mundo. É uma situação que preocupa autoridades reguladoras em vários países e empresas locais que prestam serviços para a News Corp. e temem que ela ganhe poder de estipular políticas de preço de acordo com suas necessidades.

Murdoch, claro, diz que todos os receios são infundados. Garante que vai cumprir as regras do jogo, depois da divisão de satélites não tem mais apetite para fazer aquisições. O empresário fala que as futuras decisões sobre negócios devem ficar a cargo dos seus filhos. James, de 30 anos, cuida da operação asiática, e Lachlan, de 31, trabalha junto com o pai e é visto como provável substituto. Mas Murdoch não pensa na sua aposentadoria. Afinal, o futuro nunca pareceu tão risonho para a News Corp.