No início da década de 1990, os americanos Thomas Stanley e William Danko realizaram uma série de pesquisas  que visavam dissecar o pensamento e o estilo de vida de pessoas que se tornaram milionárias. Os traços marcantes da personalidade da maior parte dos entrevistados eram espírito empreendedor, disciplina e capacidade de enxergar novas oportunidades. 

Apesar de o trabalho, que deu origem ao livro O milionário mora ao lado,  ter se concentrado em personagens dos Estados Unidos, essas características se repetem na trajetória de empreendedores de várias partes do planeta. O empresário germânico Reinhold Würth, 76 anos, é, certamente, um deles.

 

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Reinhold Würth: “O crescimento do Brasil e da América Latina é surpreendente”

 

Com a morte do pai, Adolf Würth, em 1954, aos 45 anos, Reinhold assumiu o comando do negócio da família. A pequena fábrica de parafusos, situada em Künzelsau, cidadezinha do interior da Alemanha, se tornou o embrião de um grupo industrial de escala mundial. São 400 empresas espalhadas por 84 países e que produzem de parafusos e ferramentas até produtos químicos. 

 

Esse conglomerado deve gerar uma receita de € 10 bilhões em 2011. E o Brasil terá um papel relevante nesse processo. Tanto isso é verdade que Würth veio ao País recentemente para anunciar investimentos de R$ 300 milhões, equivalente a dois terços dos R$ 450 milhões que a subsidiária brasileira faturou em 2010. “A América Latina  e o Brasil vivem uma fase de crescimento sem precedentes”, disse Würth, em entrevista exclusiva à DINHEIRO. “E quanto mais empresas são abertas ou ampliam seus negócios, mais elas demandam nossos produtos.” 

 

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Rede de lojas voltada ao segmento profissional é uma das apostas da companhia para crescer no Brasil.

A meta é abrir 300 unidades. Cada uma exigirá investimento de R$ 500 mil  

 

Em sua passagem pelo País, no início deste mês, o empresário visitou clientes e se reuniu com funcionários para falar do futuro. Ao presidente da subsidiária,  o executivo César Alberto Ferreira, lançou o desafio de ultrapassar a barreira de R$ 1 bilhão de faturamento até o final de 2012. 

 

“Nosso compromisso é dobrar a receita da filial a cada três anos”, afirma Ferreira. Para cumprir essa meta, o executivo pretende apostar fortemente na expansão das operações. Isso será feito através da ampliação do número de itens importados das fábricas do grupo, aumento da produção local e fortalecimento do sistema de logística e distribuição. 

 

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Terceira geração: Bettina, filha de Würth, é quem comanda o grupo

 

Hoje, a Würth do Brasil atua basicamente com a venda de produtos de seu portfólio mundial, composto de 12 mil itens, sendo 600 da área química, como adesivos, silicone e lubrificantes. Por conta disso, as molas propulsoras para seu crescimento por aqui são os departamentos de marketing e vendas. 

 

Apenas nesse último, atuam 1,5 mil funcionários. A única unidade produtiva no País é a Winner Chemical, sua divisão química situada em Cará-Cará, no interior do Paraná. A fábrica  receberá um aporte inicial de R$ 25 milhões – sem contar a compra de equipamentos. “Investir em mercados com maior perspectiva de crescimento, como o Brasil, é uma das alternativas para incrementar o resultado das multinacionais do setor”, diz a consultora Taís Sozo Marcon, diretora da Maxiquim Assessoria de Mercado. 

 

A sede local da Würth, situada em Cotia, cidade da região metropolitana de São Paulo, também será contemplada. A ideia é aumentar o quadro de funcionários e quase dobrar, para 11 mil metros quadrados, a área de galpões. A unidade funciona como uma espécie de centro nervoso da companhia, que possui mais três depósitos: no Recife, em Brasília e Porto Alegre. 

 

Mas a menina dos olhos de Ferreira é o projeto de abertura de lojas Würth. Essas unidades funcionam como uma vitrine dos produtos da marca onde são realizados cursos destinados a mecânicos, marceneiros e outros profissionais que utilizam as ferramentas e os insumos com o logotipo da companhia. Hoje, existem cerca de três mil pontos de venda na Europa. 

 

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E a meta é instalar, pelo menos, 300 no Brasil. “Nosso foco são as cidades com mais de 200 mil habitantes”, afirma Ferreira. Cada loja delas ocupará uma área de 2,4 mil metros quadrados e terá o padrão global. “Os móveis serão importados e a aparência seguirá fielmente o utilizado na Europa.” O investimento unitário é estimado em R$ 500 mil. 

 

A trajetória de expansão do grupo respeitou um roteiro que foi idealizado por Würth há meio século. Ele consiste em se concentrar em produtos de giro rápido, fabricados em larga escala e que tenham sinergia. Na Europa devastada pela guerra, Würth percebeu que as obras de reconstrução necessitariam de máquinas e equipamentos.

 

Contudo, desde o mais simples utensílio, como uma cadeira de ferro, até os mais complexos, como um computador, precisam de parafusos, arruelas e outros elementos de fixação. Até hoje, esses componentes representam cerca de 30% das vendas globais da Würth. O empresário também soube se antecipar ao movimento da globalização. A primeira filial foi aberta na Holanda, em 1962. E em 1987 ele já havia fincado sua bandeira nos cinco continentes. 

 

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Além disso, aproveitou as oportunidades que surgiram no caminho para ampliar seus domínios, adquirindo concorrentes de menor porte. Algo que poderá ser feito também no Brasil. “A trajetória da Würth é um exemplo de empresa que soube usar a globalização como estratégia de crescimento”, diz Marcelo Assumpção, coordenador de MBA em gestão da BBS Business School, de São Paulo. 

 

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Nos últimos anos, Würth vem reduzindo o ritmo de trabalho. Apesar de ainda ser um dos principais estrategistas da companhia, o empresário delegou muitas de suas funções, quando criou, em 1994, o conselho consultivo do grupo, do qual é o presidente. Sua filha Bettina é quem comanda atualmente os  negócios. “Muitas empresas não resistem a dois tipos de terremoto: saída do fundador e briga entre os herdeiros”, diz. Desde então, a rotina de Würth sofreu alterações. 

 

Ele gasta mais tempo se dedicando à sua grande coleção de obras de arte e aos momentos de lazer. Antes de chegar ao Brasil, Würth curtiu três meses de férias em uma viagem que começou no Panamá e acabou em Ushuaia, Patagônia, no extremo sul da Argentina. Cumpriu o roteiro a bordo de um iate, avaliado em € 120 milhões, pilotado por ele próprio. 

 

Depois, embarcou em seu jatinho Falcon 900 e assumiu o manche até descer em São Paulo. Nada demais para quem possui uma fortuna pessoal avaliada em US$ 4,1 bilhões. Würth não desgrudou da internet nem do telefone durante a viagem. “A cada três dias falava com minha secretária para me inteirar do andamento dos negócios e passar instruções aos executivos”, diz ele.