Quem é mais controlador com as finanças: o homem ou a mulher? Qual deles dá maior valor às grifes? Quem gosta mais de ir às compras? O senso comum induz a uma resposta: são elas, é claro. Uma pesquisa do instituto Ipsos-Marplan realizado com 26 mil consumidores no primeiro semestre deste ano ajuda a derrubar esse mito. O estudo aponta uma mudança de comportamento. Hoje, os homens já assumem ir às compras para espairecer (47% das respostas). Há um número cada vez maior de compradores do sexo masculino (36%) que concorda em pagar mais por um produto de marca badalada ? entre as mulheres esse índice é de 30%. Outra novidade, e essa também vai na contramão: as mulheres são mais rígidas com o orçamento. Quase 64% delas, indica o levantamento, fixam um valor máximo para as compras mensais e respeitam, religiosamente, esse limite. Entre os homens que adotam o mesmo procedimento, o índice é de 60%. ?Pelo resultado do estudo, pode-se deduzir que elas são mais racionais no relacionamento com o dinheiro?, diz Daina Ruttul, diretora da Ipsos-Marplan.

As novidades devem ser entendidas, por enquanto, apenas como tendências. Não se trata de uma nova revolução sexual. ?As mulheres ainda são consumidoras mais vorazes para itens de vestuário e perfumaria?, diz Daina. ?Os homens são mais ligados a produtos com alguma inovação tecnológica ou entretenimento.? É o caso do advogado Rafael Mancebo, de 28 anos, que se diz avesso a desembolsos exagerados com roupas e acessórios. Sua prioridade é o lazer. ?Gosto de comprar livros, não sou vaidoso?, diz. Mas há, sim, um ponto comum a unir os dois sexos: as compras como terapia. O cartão de crédito como ferramenta lúdica. Dos entrevistados, homens e mulheres, 56% disseram ir ao comércio por prazer. ?Sempre gasto mais quando estou deprimida?, diz a advogada paulista Giselle Brito Moraes. Seu ponto fraco são as roupas. ?Se vou ao shopping, dificilmente saio sem comprar alguma coisa?, diz ela. ?Não resisto a uma vitrine. Mas, se o produto for caro, não levo.?

Os homens, indica a Ipsos, caminham, pouco a pouco, no sentido inverso. Pagam para ver. O psicólogo Luis Fernando Tonidantel, que gosta de roupas esportivas, faz questão de marca célebre. É uma forma de evitar decepções, já que detesta provar as peças. ?Não gosto de ir a várias lojas e passar horas experimentando roupa?, diz. ?Não tenho paciência.?

Visitar várias lojas ainda é hábito feminino: 82% das mulheres pesquisam antes de se decidir. Entre eles, a prática é adotada por apenas 67% dos entrevistados. ?A mulher é mais minuciosa e detalhista?, diz João Paulo Lara de Siqueira, especialista em
consumo do Programa de Administração de Varejo (Provar)
da USP. ?A maioria delas prepara lista de compras enquanto
o homem, de modo geral, raramente faz esse planejamento.? Siqueira tem uma explicação para as alterações no estilo de gastar dos brasileiros: é conseqüência da nova estrutura familiar. ?Hoje, há mais solteiros e esse número deve aumentar?, afirma. ?O novo perfil do consumidor nasce dessa mudança demográfica