Ao encontrar o escocês da foto ao lado no escritório onde você trabalha, sempre muito gentil e acompanhado de um time de até dez pessoas, pode ter certeza: há algo de errado com a empresa. E o senhor Barry Wolfe será a solução do problema. Então, fique atento aos seus passos. Ele se aproximará de algum colega seu, quem sabe até do presidente da companhia, fará reuniões reservadas, analisará alguns documentos e depois nunca mais será visto pelos corredores do prédio. O que ele faz? Embora costume se apresentar como auditor ou consultor, Wolfe é um especialista em comportamento criminoso. Formado em direito penal e criminologia, ele é um sherlock holmes do mundo corporativo. Também é preparado para fazer as negociações nos casos de seqüetros de altos executivos. E, em poder do mais recente estudo sobre fraudes em empresas brasileiras, avisa: ?No Brasil, as fraudes são cometidas por grupos organizados de forma muito semelhante à máfia italiana.?

Wolfe foi contratado há pouco mais de um ano pela consultoria KPMG para a divisão Forensic, responsável pela tarefa de desvendar esquemas criminosos montados nas organizações. E diz que as fraudes mais comuns são falsificação de cheques e documentos, como notas frias de compras e despesas. Em média, a firma tem 20 casos em andamento. Dois ou três deles envolvem quantias milionárias. Os demais estão abaixo do milhão porque assim se levanta pouca suspeita. ?Mas quando um grupo consegue embolsar uns R$ 10 mil, logo tenta desviar mais e mais, quase sempre sem ter o cuidado de apagar os rastros?, conta Wolfe. Isso ocorre devido à sensação de impunidade dos criminosos. Detalhe: 76% das 1000 empresas pesquisadas afirmam que já foram vítimas desses marginais. E
apenas 11% delas tentaram recuperar o dinheiro, tamanha a sofisticação alcançada pelos mafiosos brasileiros neste tipo de crime. Às vezes, o custo de rastrear o dinheiro em contas no exterior, por exemplo, é tão caro que é melhor considerá-lo perdido para sempre. A KPMG cobra de R$ 50 mil a R$ 80 mil por uma investigação mais simples, que dure no máximo três meses. Mas alguns casos mais complicados, que se arrastam por anos, chegam a exigir um orçamento mensal de R$ 300 mil.

Em outros países, sobretudo no Primeiro Mundo, as fraudes envolvem um grupo muito reduzido de pessoas, só duas ou três. Gente do primeiro escalão. No Brasil é diferente. Dos executivos entrevistados, 48% acreditam que seus próprios funcionários são a maior ameaça, especialmente o pessoal de suporte. Os presidentes e diretores só têm sua conduta questionada por 2% dos pesquisados. Agindo com mais integrantes, a máfia se une pelo sentido de comprometimento. ?Só que quando um funcionário cai, outros vão juntos porque no fundo eles não são fiéis, apenas aceitam o acordo por medo de represálias?, explica Wolfe.

Outra característica que se aplica à máfia italiana e à brasileira é cometer os mesmos tipos de crimes. Eles primeiro corrompem funcionários. Então, cometem extorsão e ainda sonegam impostos. E isso puxa a lavagem de dinheiro, que pode levar ao envolvimento com o tráfico de drogas e de armas, com redes de prostituição e até com matadores profissionais para executar as ?queimas de arquivo.? ?Acredite, isto já ocorre no Brasil?, diz ele. Wolfe tem investigado desvio de dinheiro, casos de espionagem, roubo de material, sonegação, corrupção e até chantagens em praticamente todos os setores. ?Ninguém está livre de ser fraudado ou de ser convidado para um esquema criminoso.” E só há um caminho a seguir para acabar com isso. Segundo Wolfe, só a satisfação no emprego faz com que uma pessoa se mantenha do lado do bem. Maus patrões são uma ótima justificativa para a atuação das máfias do mundo corporativo.