07/06/2013 - 6:19
Nos últimos anos, o Brasil se consolidou como rota obrigatória do show business global. Poucas turnês de artistas consagrados do mundo pop, por exemplo, deixaram de passar por aqui. Mais: inúmeras peças de teatro e de filmes vêm batendo recordes de público. À primeira vista, isso leva a crer que o brasileiro está consumindo cultura como nunca, o que não deixa de ser verdade. No entanto, como em quase todas as áreas, um olhar mais detido sobre o setor indica que a situação se assemelha à do copo com água pela metade. Pode ser encarado tanto como meio cheio, quanto como meio vazio.
Bloco na rua: Oliveira (à esq.) e Chicarino, diretores da Ticket, já fecharam acordo com 450 empresas
É que apesar de toda essa efervescência, os setores de entretenimento e cultura ainda engatinham por aqui, devido, em boa medida, à falta de renda disponível para cultura e lazer das famílias das classes C, D e E. Essa realidade, porém, promete mudar a partir de julho, data prevista para a entrada em vigor do Vale-Cultura, criado pelo Ministério da Cultura. A expectativa é de que o benefício, que se assemelha ao tíquete refeição, concedido por empresas públicas e privadas a seus funcionários, mexa com o mercado (veja quadro). Estudos indicam que, ao final de cinco anos, o Vale-Cultura deverá chegar às mãos de 1,75 milhão de trabalhadores, gerando um impacto de R$ 2,8 bilhões no setor de entretenimento e propiciando a criação de 500 mil empregos diretos.
As empresas que administram benefícios foram escolhidas pelo governo para administrar o Vale-Cultura. Neste grupo, quem saiu na frente foi a Ticket, controlada pela francesa Edenred e líder no segmento de vale-refeição. ?O Vale-Cultura é o jeito mais eficiente de democratizar o acesso à cultura e ao lazer?, diz Gustavo Chicarino, diretor de estratégia, de marketing e novos negócios da Ticket. De acordo com o executivo, a empresa e sua parceira Redecard, que opera as maquininhas de leitura dos cartões, já credenciaram 450 companhias. Tanto as que vão oferecer o produto aos funcionários quanto as do setor de entretenimento.
A lista inclui teatros, redes de cinema e até bancas de jornal e revista de sete Estados (Bahia, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo) e do Distrito Federal. ?Muitas empresas já enxergam o benefício como parte integrante de sua política de recursos humanos, destinada a reter os funcionários?, afirma Sergio Oliveira, diretor de produtos regulamentados da Ticket. ?Em um mercado no qual falta mão de obra especializada, ninguém quer abrir mão de seus talentos.? Uma das grandes vantagens do Vale-Cultura é a liberdade que propicia ao usuário. De acordo com o Ministério da Cultura, a lei, que está em fase final de regulamentação, cobrirá um raio bem amplo, dando impulso também às vendas de revistas, livros, CDs e outros produtos comercializados nas cerca de 20 mil bancas de revistas e jornais existentes no País.
Casa cheia: Vale-Cultura vai ajudar a reduzir a ociosidade dos espaços culturais,
que hoje chega a até 87%
Esses locais são vistos como vitais nesse processo, pois funcionam como a porta de entrada para o mundo da cultura. ?As revistas e os jornais têm um papel importante na divulgação da agenda cultural da cidade?, diz Maria Célia Furtado, diretora-executiva da Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER). Maria Célia argumenta que a entidade não apenas foi uma das primeiras a apoiar o projeto, como também tem o compromisso de trabalhar para sua implementação. ?Estamos empenhados na divulgação do Vale-Cultura, por meio de campanhas para explicar seu uso à população.? De fato, o conhecimento da agenda cultural das grandes cidades e o acesso aos bens culturais ainda são privilégio de poucos.
A pesquisa encomendada pela Edenred mostra que toda ajuda na divulgação será bem-vinda. Isso porque, apesar do burburinho em torno de cinemas, teatros e exposições de artes plásticas, a taxa de ociosidade dos equipamentos culturais é elevadíssima. Nos cerca de 1,2 mil teatros, por exemplo, a ociosidade chega a 87%, enquanto nas salas de cinema apenas 26% do espaço é ocupado anualmente. Nem mesmo o circo consegue atrair um grande público. O índice de ocupação das lonas não passa de 21%. A indisponibilidade de renda está na raiz do problema. ?Até agora, as leis de incentivo apostaram na oferta de produtos culturais?, afirma Oliveira. ?A vantagem do Vale-Cultura é que ele vai viabilizar a demanda.?