ENFRENTAR O SOBE-Edesce da bolsa de valores não é o único desafio para o investidor de renda variável hoje. Além da cadência dos pregões, ele precisa se preocupar com um componente essencial de suas operações financeiras: a estabilidade do sistema de transmissão de dados que permite a compra e a venda de ações. E, quando se fala em sistema, não se trata somente do home broker da corretora, que conecta o cliente à bolsa. O Megabolsa, centro de negociação eletrônico para o mercado à vista de ações e opções da BM&FBovespa, também entra no jogo. Sem ele, nada acontece. Exemplo disso ocorreu no lançamento de ações da BM&F, em novembro de 2007. Com o excesso de fluxo na abertura do pregão, o sistema não agüentou e travou para a compra e a venda daquele papel. Quem estava negociando naquele período não conseguiu completar suas operações.

Desde então, o Megabolsa foi atualizado para uma nova versão. Em 2009, será sujeito a outra atualização, que o deixará no mesmo patamar tecnológico da Bolsa de Nova York (NYSE) e de algumas da Europa. A nova atualização irá gerar mais funcionalidade e rapidez ao sistema, diz André Demarco, diretor de operações da BM&FBovespa. “A palavra da vez é performance. E é nisso que estamos trabalhando”, diz. No entanto, assim como os seres humanos, as máquinas também podem errar. O que fazer para minimizar as perdas quando a tecnologia falhar?

O casal de investidores paulistanos Erico e Ana Paula Rigorini, 29 anos, sabe o que é passar por apuros em um dia de queda de sistema. Recentemente, eles estavam operando opções, contratos que dão o direito de comprar ou vender uma determinada ação, por um preço determinado, em data futura. No dia do vencimento, Rigorini adquiriu uma nova opção de compra, apostando em um lucro rápido. Segundo ele, sua ordem não chegou a ser efetuada a tempo, devido à queda do sistema da BM&FBovespa. Quando o Megabolsa voltou, o home broker de sua corretora permaneceu por um bom tempo fora do ar. Sua estratégia não foi efetuada por restrições de horário e ele perdeu 50% do capital investido naquela operação. “Felizmente, não era muita coisa”, relembra Rigorini. Do prejuízo, aprendeu uma lição: “Operar em dia de vencimento de opções é um problema”, diz. Além disso, por questões operacionais da corretora, houve erros de depósito em sua conta e o sumiço de ações na custódia. “No dia seguinte elas estavam lá de novo, mas levei um susto”, diz.

Contratempos como esses não são a regra, mas podem acontecer na vida de quem utiliza a internet para investir em ações. “Uma vez conectado à rede, existe esse problema. Ela nunca é 100% segura e 100% confiável”, afirma César Kayatt, gerente de TI da SLW Corretora. No próprio site da corretora está especificado que “as operações realizadas eletronicamente podem dar problemas”. No entanto, Kayatt recomenda algumas alternativas para quando a tecnologia falhar. Uma delas é operar sempre com o telefone ao lado (leia quadro com as dicas). “Se algo der errado, a primeira coisa a fazer é ligar para a mesa de operações”, recomenda. Ter dois tipos de conexão à internet, para o caso de uma falhar, também pode evitar transtornos em operações de home broker. Mas nem sempre o atendimento consegue resolver a situação. Foi o caso de Rigorini, que mudou para uma corretora menor, com atendimento mais personalizado. “Agora o monitoramento das minhas operações é muito maior e há um software que detecta se eu cometo algum erro na hora de operar”, diz.

Panes podem acontecer no sistema de uma empresa uma vez a cada século, mas, dependendo do dia em que ocorrem, as conseqüências podem ser desastrosas. Um problema no servidor da Banifinvest foi detectado exatamente na madrugada do dia 29 de abril deste ano, um dia antes do primeiro “grau de investimento” recebido pelo Brasil pela agência de classificação de riscos Standard & Poor’s. O sistema ficou em manutenção durante a madrugada, mas uma nova falha fez com que o servidor ficasse fora do ar durante todo o dia 30 de abril, data em que o pregão recebeu a notícia. Os investidores da corretora não puderam operar. Um cliente que não quis ser identificado afirmou à DINHEIRO que muitos investidores deixaram a Banifinvest após o fato. “Como eu não havia operado nesse dia, resolvi ficar. Aparentemente, eles resolveram o problema”, disse o investidor.

A Banifinvest confirmou o ocorrido. “Foi uma falha operacional que infelizmente caiu no mesmo dia do grau de investimento”, afirma o gerente de marketing da empresa, Bruno di Giorgio. Medidas de contingência, como estender o atendimento telefônico de investidores institucionais para pessoas físicas, foram tomadas, mas não evitaram os prejuízos. Investidores cujas ordens não foram cumpridas automaticamente naquele dia e tiveram prejuízo foram ressarcidos. “Todas essas ordens tiveram reembolso”, relata di Giorgio. Segundo o gerente, nos últimos seis meses, o sistema da Banifinvest teve 99,9% de disponibilidade. No entanto, quando se trata de bolsa, uma porcentagem mínima de erro pode causar estragos.

BANIFINVEST INDENIZOU CLIENTES APÓS PANE ELETRÔNICA

A suspensão dos negócios pelo “circuit breaker” – que interrompe o pregão quando o Ibovespa cai mais de 10% – também causa dores de cabeça para muitos investidores que se arriscam a operar nesses momentos críticos. Algumas ordens não são executadas e, quando há perdas em conseqüência disso, não há nada a ser feito para reverter a situação. É a regra do jogo. Segundo Demarco, o investidor conhece as implicações do circuit breaker ao assinar sua ficha cadastral na corretora. “É um risco inerente ao negócio”, afirma. A regra prevê a suspensão de negociações por, no mínimo, meia hora. “É uma regra objetiva e a suspensão é acionada manualmente”, diz o diretor da BM&FBovespa.