26/06/2001 - 7:00
Há pouco mais de quatro anos, a rede brasileira de lanchonetes Bob?s era o retrato de um paciente terminal. Desenganado, o grupo parecia apenas esperar que o último sanduíche ?Big Bob? fosse vendido para fechar as portas. Seguidas trocas no controle da empresa, brigas históricas entre franqueados e matriz, desentendimentos entre executivos, cofre vazio, concorrência feroz e boas doses de crises econômicas produziram uma receita desastrosa, capaz de levar qualquer representante do setor à lona. Surpreenda-se: o Bob?s conseguiu sobreviver. E mais: está avançando vorazmente. Vai abrir 29 lojas neste ano, saltando de 241 para 270 lanchonetes. Até 2005, garante o presidente Peter van Voorst Vader, serão 500 pontos. ?O Bob?s continua vivo?, exulta o executivo. A bandeira vermelha da cadeia será até fincada no exterior neste ano. Portugal é o primeiro endereço, para onde estão previstas 30 lojas até 2005. Os planos incluem também para os próximos cinco anos o desembarque em outros países europeus, como a Espanha, e na região do Mercosul.
Mas como se operou o milagre da ressurreição? Conheça algumas lições do Bob?s para sobreviver e crescer no mercado brasileiro. Depois de assumir a rede em 1996, Vader impôs aos negócios um severo regime. Em primeiro lugar, procurou reduzir os custos, que se encontravam nas alturas. ?Organizamos o relacionamento com os fornecedores?, conta. Na composição do cardápio, outras mudanças. A variedade e a flexibilidade na montagem dos itens oferecidos passaram a ser diferenciais fortes em relação ao McDonald?s. Hoje, nas lojas do Bob?s, o consumidor pode se servir de mil opções de sanduíches. ?Estamos fazendo também promoções diárias de pratos?, acrescenta Vader. As unidades, sem qualquer padrão visual, foram remodeladas, ganhando ares mais modernos. Em seguida, ele passou ao seu ambicioso projeto de expansão. Por conta de desentendimentos da rede com franqueados paulistas, o executivo descartou o sistema de franchising e privilegiou o crescimento por meio de lojas próprias. Foi às compras e adquiriu a rede Big Burger, adicionando de imediato ao portfólio 27 novas lojas de São Paulo. ?Crescendo, ganhamos credibilidade e escala?, assinala o presidente do bob?s. A rede pulou, em cinco anos, das 79 unidades para as atuais 241. ?Vencemos a baixa de consumo que se seguiu à explosão do real, a derrocada asiática e da Rússia, a mudança na política cambial, ao dólar disparando e a muitas outras crises?, ressalta.
Junto a investidores internacionais, Vader comprou a rede há cinco anos a partir de uma engenhosa engenharia financeira. ?Nós não tínhamos dinheiro para a transação?, conta. A companhia americana Trinity Americas Inc., especializada em captar recursos para investidores interessados na América Latina, entrou na jogada, lançando ações do Bob?s, em nome da Brazil Fast Food Corporation, na Bolsa Nasdaq (mercado de balcão eletrônico dos Estados Unidos). Deu certo. Para adquirir a marca do grupo Vendex, foram investidos mais de US$ 20 milhões. E de lá para cá, outros R$ 50 milhões se destinaram à revitalização da empresa. ?O negócio estava abandonado e ninguém tinha motivação, mas acreditei que, graças ao potencial de consumo do País, os negócios seriam bem-sucedidos?, resume.
Tudo indica que ele não estava errado. Não faz muito tempo e algumas redes respeitadas de fast-food bateram em retirada por não agüentar a concorrência com o gigante Mcdonald?s e seus mais de mil pontos espalhados pelo País e uma receita superior a US$ 700 milhões. Lembra-se do KFC, do Arby?s e do Subway? Na prova de resistência, o Bob?s provou que tem mais fôlego. Em 1996, o prejuízo operacional (antes da incidência de impostos) era de R$ 9 milhões. No ano passado, registrou um lucro operacional de R$ 500 mil. A receita cresce: em 2000, subiu 22%, em relação a 1999, atingindo R$ 159 milhões. O entusiasmo é tão grande que em agosto do ano passado foram lançados Brazilian Depositary Receipts (BDR), com o banco Itaú como depositário, para viabilizar a compra pelos brasileiros de ações da companhia. As boas notícias são apenas um aperitivo para o apetite de Vader. ?Queremos mais?, afirma. O sucesso tem um gosto bom.