18/05/2005 - 7:00
O clima não é dos melhores na Bolsa de Valores de São Paulo. Depois de dois anos seguidos de alta, o principal índice da bolsa paulista, o Ibovespa, chega em maio com uma queda acumulada no ano de pouco mais de 2%. As expectativas, otimistas no início de janeiro, começaram a se reverter a partir de março, após as constantes altas na taxa básica de juros promovidas pelo Comitê de Política Monetária, o Copom, que reduziram as projeções de crescimento da economia brasileira. O cenário foi agravado com a mudança de posição dos investidores estrangeiros. Depois de trazer mais de R$ 4 bilhões para o mercado brasileiro, os estrangeiros inverteram o fluxo. Atraídos pelo aumento dos juros pagos pelos títulos do governo americano, considerados os papéis mais seguros do mundo, os investidores internacionais começaram a fechar suas posições por aqui. Em março, o saldo de investimento estrangeiro ficou negativo em R$ 1,5 bilhão. Em abril, o déficit subiu para R$ 1,9 bilhão. Essa debandada acabou contaminando o Ibovespa. Depois de alcançar 29.455 pontos no início de março, o índice despencou. Na semana passada, rondava os 25.600 pontos. Os fundos de ações sentiram o golpe. A maioria apresenta rentabilidade negativa no ano. Os mais alavancados já caíram 6%. Resultado: até maio, o volume de saques nos fundos de ações passa de R$ 70 milhões. A grande dúvida do investidor é saber se é hora de entrar ou de sair.
Para quem está disposto a encarar os riscos do mercado de ações, os momentos de baixa são tidos como os ideais para se entrar no jogo. E uma das formas de começar é via fundo de ações. ?Acredito em uma recuperação no terceiro trimestre?, prevê Sandro Longo, analista gráfico da corretora Stock Picker. Pelos seus cálculos, o Ibovespa pode chegar em 30 mil pontos no final deste ano. Trata-se de número cabalístico, que já foi previsto por bancos, corretoras e consultorias há mais de um ano, mas que teima em não se concretizar. Otimismo à parte, o fato é que a queda da bolsa paulista já criou oportunidades para o investidor. ?O investidor que escolhe bons gestores, com bons históricos de rentabilidade, tem grande chance de ganhar dinheiro porque há vários papéis baratos no mercado?, afirma Francisco Costa, sócio da GAP Asset Management. Na sua avaliação, o Ibovespa deverá encerrar o ano com uma valorização de 15%. Entretanto, existe a possibilidade de ganhos maiores, dependendo da atuação do gestor. A opção pelos fundos de ações também é defendida por Carlos Daniel Coradi, presidente da consultoria EFC, especializada em finanças. Entre montar uma carteira de ações ou buscar um bom gestor de fundos, o consultor sugere a segunda opção. ?Quando a bolsa sobe, os melhores fundos de ações sobem mais do que o Ibovespa. E quando cai, eles perdem menos que o índice?, diz Coradi.
O economista Fernando Ferreira, sócio da consultoria Global Invest, acha que o mercado passa por uma fase de reavaliação geral. Segundo ele, a divulgação do aumento do nível de empregos nos Estados Unidos levou muitos analistas a prever uma queda do valor dos títulos americanos. ?Caso isso ocorra, haverá um movimento de alta nas bolsa mundo afora, chegando aos mercados emergentes, como o Brasil?, afirma Ferreira. Quem sabe essa não é a senha para a volta dos estrangeiros para a Bovespa e o primeiro passo para mais um ano de festa no mercado de ações do país? ![]()
Êxodo
US$ 1,9 bilhão foi sacado pelos estrangeiros da Bovespa no mês de abril