03/09/2008 - 7:00
PELA SEGUNDA VEZ UM MEMBRO DA família Kristiansen, dona da Lego, desembarca no Brasil. A primeira foi em 1985, a passeio. Desta vez, no entanto, o motivo da viagem é outro. Kjeld Kirk Kristiansen, o neto do fundador, vem nesta semana a São Paulo para conhecer pessoalmente a invenção de seu mais novo sócio, o brasileiro Marcos Wesley. O empresário goiano conquistou as atenções do dinamarquês com a Lego Zoom, metodologia de ensino que utiliza os kits de robótica da Lego.Atualmente, mais de um milhão de crianças seguem o programa educacional criado por ele. Um sucesso tão grande que deu origem à Lego Zoom International, comandada pelos dois, que será implantada em diversas partes do mundo, a começar pela Argentina. ?Observei que as empresas que mais crescem na área educacional não vendem produtos pontuais, mais sim conteúdo?, constatou Wesley. ?Aquelas que souberam fazer isso construíram um império, como é o caso do Grupo Positivo?, acrescenta. Era exatamente o que a Lego precisava: reconstruir seu império. A fabricante enfrentou uma forte crise entre 2003 e 2004. Na época, acumulou perdas de quase US$ 500 milhões. Criar novas utilidades para a Lego foi uma questão de sobrevivência.
Antes mesmo de o braço educacional da Lego entrar no País, em 1998, Wesley já trabalhava nessa área, com a sua empresa EdaCom Tecnologia. Dois anos depois, a companhia se tornou representante exclusiva da Lego Education. A equipe de Wesley passou a bater de porta em porta em colégios oferecendo o kit de robótica da dinamarquesa, que custava entre R$ 35 e R$ 40 mil. O produto oferecia peças normais de Lego, motores e engrenagens, e uma apostila de ensino para o professor. ?Era um projeto restrito a escolas para as classes A e B?, conta o empresário. Por isso, ele decidiu criar um novo modelo de negócios. A partir de 2003, os produtos passaram a ser distribuídos às escolas, públicas e privadas, gratuitamente. Em contrapartida, as instituições teriam de incorporar à lista de material as apostilas didáticas Lego Zoom, desenvolvidas por ele. ?Para chamar a atenção da criança e desvincular o material da obrigação de estudo, criamos revistas coloridas, com histórias em quadrinhos e ídolos do esporte?, explica Wesley. Em cada volume há desafios como: ?Enquanto parte do Nordeste sofre com a seca, algumas regiões têm chuvas constantes. Como levar água para os locais mais áridos?? Usando peças do kit de robótica, as crianças são estimuladas a criar um projeto para solucionar o problema.
Para colocar esse plano em prática, Wesley penhorou seus bens e foi morar de aluguel com a mulher e os dois filhos. O custo total do projeto foi de US$ 3 milhões. Em menos de dois anos já havia recuperado a casa. O executivo não fala em números, mas estima-se que a Lego Zoom tenha um faturamento anual de R$ 40 milhões. No total, são oito fascículos por série escolar, no valor de R$ 110 a R$ 160 por aluno. Algumas escolas decidiram diluir esse valor no preço das mensalidades. Nas escolas públicas, as apostilas são comunitárias. Para Antônio José Hinz, diretor do Colégio Objetivo de Pindamonhangaba (SP), o programa contribui para o desenvolvimento da criatividade e da solidariedade. ?Sentimos uma melhora sensível nas notas e na conduta dos alunos que aprenderam a trabalhar em grupo?, conta. Todos os 450 alunos do colégio seguem o programa.