17/08/2015 - 0:00
Vigias, monitores e equipe de apoio da exposição Invento, em cartaz na Oca, em São Paulo, até 4/10, ganharam luz própria. Enquanto a exposição durar, cada um deles levará no pescoço uma obra de arte assinada por ninguém menos que Olafur Eliasson, artista dinamarquês cuja obra simula fenômenos naturais por meio de complexa articulação de equipamentos e conhecimentos científicos aplicados à arte. Autor de obras de impacto global como City Waterfalls (cascata criada sob ponte do Rio Hudson, em Nova York, de 2008) e The Weather Project (simulação do sol no interior da Tate Modern, em Londres, de 2003), Eliasson participa da exposição em São Paulo com a obra Little Sun.
Composta por pequenos artefatos de lâmpadas LED a energia solar, Little Sun é capaz de fornecer luz por até dez horas. Mais que uma obra de arte, trata-se de um “social business”, projeto global desenvolvido por Eliasson e pelo engenheiro Frederik Ottesen mirando uma população de 1.1 bilhão de pessoas em todo o mundo que não tem acesso à eletricidade. Na forma de um pequeno sol portátil, o dispositivo é comercializado on-line e em lojas de arte, a preço de custo: 22 Euros. Cada compra subsidia um outro pequeno sol, que será enviado a uma parte necessitada do mundo.
Desde seu lançamento, em 2012, até o último relatório de 1 de julho de 2015, o projeto já distribuiu 304.000 lâmpadas, favoreceu dez países africanos e propiciou uma redução de emissão de 14 mil toneladas de CO2. Na América Latina, o dispositivo só tem distribuição na Colômbia, por meio da Fundación Menorah. “O Little Sun não está disponível no Brasil por causa do sistema de importação do país, que é delirante. Teria um custo proibitivo e perderia o sentido. Os impostos brasileiros (70%) subvertem o sentido do projeto, fazendo com que o maior beneficiário seja o próprio governo, que não disponibiliza energia elétrica a sua população”, diz Marcello Dantas, curador da exposição Invento, que reúne as grandes invenções dos últimos 150 anos interpretadas por 30 artistas modernos e contemporâneos.
No Canadá, Austrália, Japão, EUA e em países europeus, a invenção vem sendo utilizada em atividades de camping, praia, montanhismo e festivais. Falta pouco para virar objeto de fetiche entre colecionadores de arte. Resta saber por quanto tempo o projeto social se manterá salvaguardado da voracidade do mercado de arte internacional, já que estamos falando da criação de um dos artistas mais incensados do circuito de arte do mundo.
Mas o curador descarta o perigo da especulação, pelo fato do objeto não ter produção limitada. “O Olafur é um dos artistas com melhor visão sobre a inserção social de seus projetos, tanto no mercado de luxo (Louis Vuitton), quanto num projeto como esse. Ele não é ingênuo, sabe muito bem gerir sua presença no mercado sem perder sua visão artística e sua relevância politica. No futuro, o Little Sun até pode ajudar a contar algo sobre a historia da arte, mas não vai ser sobre a história do mercado de arte”, opina Marcello Dantas.