24/04/2002 - 7:00
Prata, ouro, platina. Gravadas sobre o plástico dos cartões de crédito, esses sempre foram os tons do prestígio no mundo do consumo. Foram. Hoje, o status é preto. Trata-se da cor do Centurion Card, da American Express, o novo ícone da riqueza ao redor do mundo. O black card, como é conhecido, é um produto para lá de exclusivo. Não é possível candidatar-se ao seleto grupo que possui um deles na carteira. A própria AmEx é quem escolhe a dedo os clientes com direito a esse privilégio. Estima-se que, de um universo de 55 milhões de cartões emitidos pela companhia, apenas cinco mil são do tipo Centurion. Por enquanto, os black cards foram emitidos em apenas quatro países ? Estados Unidos, Inglaterra, China (Hong Kong) e Alemanha. Mas, ao que parece, logo os brasileiros mais abastados poderão desfilar com o plástico preto. ?O mercado brasileiro é adequado para receber este cartão?, analisa Hélio Magalhães, presidente da American Express do Brasil, sem dar dica de quando ele estará seduzindo os milionários nacionais.
Segredo de estado. Antes de sonhar com um black card, saiba que o critério de escolha dos clientes hipervips é um segredo de estado na American Express. É certo, porém, que o cartão só é concedido a clientes com longo relacionamento com a empresa e que tenham um desembolso mínimo de US$ 150 mil anuais usando outra versão do AmEx. Os selecionados terão um baque nas suas anuidades ? a do Centurion fica na casa de US$ 1 mil. Mas as vantagens oferecidas pelo cartão mais do que compensam o seu custo. Para começar, se você for viajar pela companhia aérea British Airways pagando pela poltrona econômica, consegue um upgrade para a primeira classe sem ter de colocar a mão no bolso. Se o vôo for para a Europa, você pode usar a bordo um telefone celular gratuitamente. Com um exemplar deste nas mãos, pode-se conseguir os melhores quartos nas cadeias de hotéis e resorts como Four Seasons, Ritz-Carlton e outros 330 hotéis, espalhados por todos os cantos do planeta, sem ter de pagar a mais. Se estiver em qualquer país onde a American Express tem bandeira fincada, os ilustres proprietários do Centurion recebem um aparelho celular e pagam apenas as ligações. Os paparicos não param por aí. A companhia de cartões oferece até mesmo um personal travel, ou seja, um agente de viagem exclusivo para traçar o seu roteiro. Quando chegar ao destino indicado, terá nada mais, nada menos do que um consierge particular para ajudá-lo em ocasiões especiais como comprar um presente. Se você resolver ir até um shopping center, terá ao seu lado um assistente de compras para carregar as sacolas. Receberá convites para festas badaladas e, no fim das contas, pagará uma taxa de administração 25% mais barata do que o normal.
Hacker. Todo o cuidado da American Express em tratar do Centurion tem uma explicação: é preciso definir os clientes certos para usar o black card para que outros endinheirados não se sintam ofendidos por não terem sido os eleitos. Nos Estados Unidos, por exemplo, já há registros de verdadeira obsessão pelo plástico preto. Fontes da AmEx informam que pelo menos um cliente chegou a ligar para influentes autoridades do setor bancário pedindo uma ajuda para ser incluído na lista. Outro chegou a contratar um hacker para tentar descobrir o código de acesso da empresa e, deste modo, inscrever seu nome no grupo dos Centurions. Um terceiro teria usado um expediente curioso para alavancar seu desembolso e, assim, aumentar suas chances de ser escolhido: emprestar o cartão AmEx para amigos. Tudo para ter o ícone preto do status.