12/10/2001 - 7:00
Primeiro foi a recessão, depois a guerra. Mas a bomba final caiu no colo de Craig Barret na semana passada, com a divulgação dos resultados da Intel referentes ao último trimestre. Eles mostram que a maior fabricante de chips do mundo está vivendo talvez o pior momento da sua história: os lucros trimestrais caíram 77%, chegando a US$ 655 milhões, e as vendas totais também foram afetadas, com uma queda de 25%. É o fim do mundo? ?Não. É um ciclo?, responde Barret, principal executivo da companhia há
três anos, e crescentemente especializado em responder perguntas embaraçosas. Nos últimos meses, Barret, de 62 anos, tornou-se
uma espécie de bola da vez na indústria americana de tecnologia. Multiplicam-se na imprensa especializada artigos questionando
seu estilo de gestão e sua capacidade de reverter a derrapada.
Dias atrás, durante uma conferência do Gartner Group em Orlando, na Flórida, Barret saiu em sua própria defesa diante de um auditório de quase mil pessoas. ?A gestão da empresa é menos importante
do que a sua estratégia futura?, disse ele. ?A única forma de sobreviver é continuar olhando para frente e apresentando
novos produtos ao mercado.?
Alerta. Até certo ponto ele está certo. A história mostra que a economia é feita de altos e baixos, de extravagâncias e cortes ?
e vive-se, agora, o pior momento desde o início dos anos 80. Mas
os analistas fazem um alerta: dificilmente as vendas de PCs, verdadeiro motor da produção de chips, voltarão ao que era antes, mesmo depois que a poeira assentar. A previsão é de que até o
final do ano as vendas de PCs sofram uma queda de 50%. A
Compaq percebeu o buraco e tratou de se proteger fundindo-se
com a HP. E a Intel? Desde que assumiu a companhia, Barret vem tomando precauções. A fabricação de microprocessadores para
PCs ? carro-chefe desde a fundação da companhia, em 1969 ?
agora divide espaço com outros setores. Componentes para servidores, chips de memória flash (para celulares e PDAs),
placas-mãe, redes de comunicação, tecnologia para videoconferência ? e até câmeras digitais e aparelhos de MP3 ? engrossam a lista de novas (e ainda reduzidas) fontes de receita. ?Uma hora o mercado vai voltar ao normal e a Intel tem que estar
no topo?, justifica Barret, que fica no posto de CEO da companhia até 2004. Seus antecessores não tiveram tanta dificuldade. Andy Grove percebeu o potencial dos PCs e levou a Intel à liderança do mercado em meados dos anos 90, enquanto Gordon Moore ficou imortalizado pela lei que levou seu nome: aquela em que os microprocessadores duplicam de capacidade a cada 18 meses, mantendo o preço. ?Barret ficará conhecido como o CEO que apostou certo e mudou o modo de fazer negócios da Intel?,
diz John Enck, analista do Gartner Group.
Além dos PCs. Três anos se passaram desde que Barret deu início
a sua estratégia que pretende levar a empresa para além da fabricação de chips, mas, ainda assim, esse pedaço do mercado representa 85% da receita da empresa. Foi nesse período, também, que a rival AMD tornou-se uma opção para o mercado, com preços abaixo dos cobrados pela Intel. ?É impossível negar que a Intel foi obrigada a mudar suas estratégias de preço em função da AMD?,
diz Paulo Alouche, presidente da Microtec, fabricante brasileira de PCs. ?Hoje, os chips da AMD estão em 40% de nossos computadores?. De 1998 até agora, a participação da AMD no mercado subiu de 6,5% para 22%, segundo o IDC. A competição derrubou os preços de ambas pela metade, reduziu as vendas de todo mundo e fez abarrotar os estoques com processadores cada vez mais potentes. ?Não vejo demanda para microprocessadores
tão poderosos?, admite o analista do Gartner. Para desespero da Intel, um Pentium III resolve muito bem as necessidades de
qualquer usuário. O negócio agora é aumentar a velocidade de conexão à Internet ? e não a rapidez dos processadores. É nesse cenário que Barret e sua equipe terão que convencer as principais empresas a adotar o Itanium, seu novo processador para servidores. O produto, fruto de uma parceria com a HP, levou sete anos e
US$ 2 bilhões para chegar ao mercado. ?É uma das nossas
grandes apostas?, diz Barret. Sim, mas para quando? Os acionistas da Intel não terão paciência com Barret para sempre.