13/12/2022 - 14:55
Viver no 27º andar de um prédio após perder parte da perna pode ser uma missão impossível. Este é o caso de Viktor Lazarenko, que vive em um edifício em Kiev onde o elevador está fora de serviço por causa dos bombardeios russos.
O senhor de 68 anos vive na casa de seu genro. Foi ferido no início da guerra durante o terrível assédio russo de Mariupol, no sudeste, quando perdeu sete centímetros de uma perna. Hoje, ele não consegue se locomover sem andador ou muletas.
Quando ele tem que descer os 27 andares a pé para ir ao médico, o suplício dura quase uma hora.
“Sem esta guerra, isso nunca teria acontecido”, afirma, em prantos.
“Os cortes de eletricidade são incrivelmente difíceis para pessoas como ele”, afirma seu genro, Viktor Dergai, um funcionário público de 46 anos, citando os idosos, os deficientes “e as mães que têm que carregar seus filhos e seus carrinhos” entre as principais vítimas dos apagões.
Há mais ou menos um ano, Dergai e sua família estavam entusiasmados com a ideia de se mudarem para o 27º andar de um grande edifício, para um apartamento com uma vista impressionante de Kiev.
Mas isso foi antes da invasão e dos bombardeios russos, que, desde outubro, atingem sistematicamente as instalações energéticas ucranianas, deixando milhões de pessoas às escuras e sem calefação.
O suposto objetivo dos russos é acabar com a rede elétrica ucraniana em pleno inverno boreal, com as temperaturas abaixo de zero e o país coberto de neve.
O presidente da Rússia, Vladimr Putin, justificou os ataques alegando que a Ucrânia havia bombardeado infraestruturas do invasor, como a ponte da Crimeia.
“Quem começou?”, questionou Putin, que ordenou a invasão do país vizinho em 24 de fevereiro.
Entretanto, as consequências dos bombardeios russos nos transformadores da Ucrânia vão muito além dos apagões: racionamento de energia, pouco ou quase nada de calefação, cortes no fornecimento de água e interrupções nas redes telefônicas e de internet.
– ‘Vamos sobreviver’ –
“Sem eletricidade, as cidades modernas simplesmente não podem funcionar”, assinalou Robert Bryce, autor de um livro sobre a questão da eletricidade nos países desenvolvidos.
Ainda assim, alguns moradores de Kiev tentam a sorte e usam o elevador, apesar do risco de ficarem presos durante horas, à espera das equipes de manutenção, que estão sobrecarregadas.
Assim, os moradores dos edifícios mais altos equiparam seus elevadores com kits de sobrevivência, com água, biscoitos, lanternas e até sacos plásticos para fazer suas necessidades, caso algum morador fique preso.
Dmytro Sukhoruchko, de 42 anos, dirige a empresa de manutenção de elevadores Ukrilft e contou que as chamadas de emergência se multiplicaram por “10 ou por 15” desde o início de outubro, quando aconteceram os primeiros bombardeios maciços russos contra as instalações elétricas.
“É cansativo subir 25 andares a pé para tirar alguém de um elevador, para depois descer e fazer o mesmo em outro edifício”, explicou Sukhoruchko à AFP.
Seu colega, Konstiantyn Krul, afirmou que, ultimamente, está realizando cerca de 12 intervenções por dia.
Em uma delas, subiu 12 andares para resgatar Mykola Bezruchenko, um idoso de 71 anos.
“Era como estar sentado em um submarino”, declarou Bezruchenko à AFP. Ele ficou preso às escuras por cerca de uma hora no elevador.
“Vamos sobreviver”, garantiu. “Dezembro vai acabar logo e, depois, as férias de janeiro passarão rápido e a primavera vai chegar”, assinalou.
“Não podemos perder [a guerra] na primavera”, concluiu.