O crescimento foi fulminante. Em dez anos, a Aster Petróleo, criada pelo empresário Carlos Santiago, alcançou um faturamento de R$ 1,5 bilhão. Tornou-se dona de uma rede de 280 postos e fornecedora de outros 200 de bandeira branca, disputando um mercado de R$ 70 bilhões por ano. De todas as novas distribuidoras do País, que cresceram na onda de abertura iniciada em 1994, a Aster era a maior. Dominava mais de 2% da distribuição de gasolina e diesel, incomodando gigantes do setor como Shell, Esso, Ipiranga e Texaco.

Mas com a mesma velocidade com que cresceu, a Aster começou a desaparecer. No dia 14 de julho, os revendedores da empresa receberam um comunicado lacônico, de cinco linhas, informando que a empresa não forneceria mais combustível. A base da Aster em Betim, Minas Gerais, foi repassada a outra distribuidora, a FIC. Os ativos em Guarulhos e Paulínia, em São Paulo, estão à venda. Todos os 600 funcionários foram demitidos. E os postos da Aster estão sendo oferecidos aos concorrentes. ?Estamos tentando ajustar nossos níveis de liquidez?, informou Santiago, através de seus assessores. A dívida que fez a distribuidora naufragar é estimada em R$ 80 milhões.

A implosão da empresa é fruto de equívocos estratégicos e de uma mudança estrutural no mercado de combustíveis. O principal erro de Santiago foi tentar competir com a Petrobras. No fim de 2001, a Aster foi a primeira companhia privada do País a obter autorização da Agência Nacional de Petróleo (ANP) para ser formuladora de combustíveis ? o formulador é aquele que importa as correntes químicas e produz sua própria gasolina. Santiago apostava que conseguiria vender um combustível até 5% mais barato do que o da Petrobras, trazendo matérias-primas de empresas do Golfo Pérsico. Para isso, ele investiu R$ 20 milhões na construção de um terminal em Santos, em São Paulo. A aposta não deu certo e a dívida virou uma bola de neve. Mas o que custou caro à Aster foi a mudança nas regras de tributação. Como os impostos deixaram de ser cobrados na distribuição, sendo pagos diretamente nas refinarias estatais, ficou muito mais difícil obter liminares na Justiça para não recolher impostos. Entre as novas distribuidoras, a Aster havia sido, no passado, uma das mais ativas no uso de manobras fiscais. ?Quando as liminares acabaram, eles se complicaram?, disse à DINHEIRO Gil Siuffo, presidente da Fecombustíveis, a associação nacional dos postos. ?O único jeito de competir era entrar na adulteração, mas aí o jogo é mais pesado.?

No fim do ano passado, a Aster contratou o ex-presidente da TAM, Daniel Mandelli Martin, num esforço de profissionalização da gestão. Mandelli, porém, não permaneceu seis meses no cargo. O primeiro sinal de que o tanque da Aster já estava seco aconteceu duas semanas atrás. A FIC comprou 10 mil litros de gasolina na base de formulação da Aster e pagou à vista. A mercadoria, porém, não foi entregue. No comunicado distribuído aos postos, a Aster sugeriu aos revendedores que passem a adquirir combustíveis da Ale, uma distribuidora mineira. No entanto, de acordo com as regras da ANP, os postos da Aster só poderão comprar da Ale caso troquem de marca ou usem a chamada bandeira branca. Nos últimos dias, Santiago trancou-se em seu escritório, em São Paulo, para tentar encontrar compradores para o resto dos seus ativos. A Shell, apesar dos rumores de que estaria saindo do País, é candidata a levar um lote de 40 postos. A Ipiranga também estuda a aquisição de parte da rede. ?A Aster foi apenas a primeira distribuidora a tombar depois do fim das liminares?, aposta Siuffo, da Fecombustíveis. ?Vem aí um efeito dominó.?

CUSTO PESADO
A dívida da empresa é estimada pelo mercado em R$ 80 milhões