Credit Suisse Hedging Griffo Verde, um dos mais conceituados da categoria. “Tive de me desdobrar para conseguir um retorno que apenas se equiparou ao dos juros de mercado.” Apesar da reclamação de Stuhlberger, os cotistas do Verde, ao conquistar o empate, estavam economicamente autorizados a espocar um espumante de boa cepa na virada do ano. Na média, os fundos de ações apresentaram uma queda de 12,3% nos 12 meses findos em 30 de novembro, período em que o Ibovespa caiu 17,9%. O mais comum para quem investiu em ações foi ver seu capital encolher em um terço. As razões para um desempenho tão decepcionante são bem conhecidas. O ano que se encerrou foi pródigo em notícias ruins, especialmente no cenário internacional. 

82.jpg

“A crise na Europa, com a possibilidade de um calote de países como a Grécia, exerceu um efeito muito negativo sobre as ações dos bancos, que são importantes na composição dos índices”, diz Elsen Carvalho, sócio da administradora de recursos independente carioca Investidor Profissional. Com isso, muitos investidores estrangeiros tiraram seus recursos do mercado – até o dia 20 de dezembro, o saldo de investimentos estrangeiros na bolsa estava negativo em R$ 2,7 bilhões. Uma drenagem sistemática de recursos, em um momento no qual os pequenos investidores também se retiram dos pregões, não poderia ter outro efeito que não a queda dos índices.

 

Outra causa para o mau humor foi a incerteza com relação ao crescimento da China, que é um grande consumidor de commodities brasileiras. As empresas de commodities, como Petrobras e Vale, são os carros-chefe do mercado, o que mandou o Índice Bovespa para o fundo do poço, avalia Herculano Alves, superintendente de renda variável da Bradesco Asset Management. Nesse cenário, só ganhou dinheiro quem blindou suas aplicações contra as turbulências internacionais e apostou em dois segmentos: o de papéis voltados para consumo e mercado interno e o de empresas de baixo risco e boas pagadoras de dividendos, como as companhias de energia elétrica e telefonia. 

 

83.jpg

 

Antes de desanimar e acreditar que o mingau empelotou de vez, uma boa notícia: para a maioria dos especialistas ouvidos pela DINHEIRO, esse quadro deve ser revertido em 2012. Neste ano, a bolsa deverá apresentar um desempenho mais suculento do que no ano passado. No entanto, os momentos de alta serão muito distintos dos que ocorreram no passado recente. A justificativa é dada pelas diferenças da situação da economia. No período entre 2004 e 2007, o mercado subiu baseado em uma oferta quase ilimitada de crédito. A crise imobiliária americana de 2008, porém, reverteu essa situação, dando origem a um processo sistemático de redução da alavancagem financeira. 

 

Hoje, diz Stuhlberger, a preferência dos investidores internacionais é manter bastante dinheiro em caixa. “Esse capital que está guardado pode ser rapidamente destinado a investimentos”, diz ele. “A diferença é que o mercado está muito mais seletivo.” Ou seja, há espaço para altas e até para a volta das aberturas de capital das empresas, os Initial Public Offerings (IPOs), desde que os ativos indicados aos investidores de fora do Brasil sejam de boa qualidade e consigam oferecer não apenas um bom retorno – pois isso está praticamente garantido por causa dos juros baixos – mas também um grau de risco aceitável. Quem conseguir atrair o interesse internacional deve oferecer boas oportunidades aos pequenos investidores brasileiros que desejarem surfar nas ondas da volta dos recursos de fora.

 

84.jpg

 

Quais os setores mais promissores? Segundo José Olympio Pereira, principal executivo do banco Credit Suisse, as melhores oportunidades deverão vir de três setores. O primeiro deles é o de energia, que vai ganhar ainda mais importância para a cadeia produtiva do pré-sal. Esse setor engloba não apenas as empresas voltadas à pesquisa e extração de petróleo, mas também inclui milhares de fornecedores. O segundo setor mencionado por Pereira é o de empresas de consumo, especialmente aquelas voltadas à classe média aspiracional – ou seja, produtos destinados para um mercado massificado, mas com mais valor agregado. Finalmente, aparecem os negócios ligados à infraestrutura, como os fornecedores de produtos e serviços relacionados à construção de rodovias, portos e aeroportos.

 

Mesmo quem preferir aplicações mais genéricas na bolsa e não quiser ter o trabalho de ficar pesquisando ações pode obter um bom resultado. Segundo Fábio Motta, administrador de renda variável da Western Asset Management, a bolsa está barata atualmente. Para isso, Motta baseia-se no indicador mais conhecido do mercado, a relação preço-lucro, ou P/L. Esse número divide a cotação da ação pelo lucro por ação da empresa e indica em quantos anos o acionista vai receber de volta tudo o que pagou apenas com os resultados da companhia. Historicamente, o P/L das ações brasileiras oscila ao redor de 12, mas hoje esse índice está em torno de 9. Pelos cálculos de Motta, o Índice Bovespa, que encerrou 2011 por volta de 57.000 pontos poderá fechar este ano a 82.000 pontos, uma alta de cerca de 44%, quatro vezes mais do que o previsto para a renda fixa. 

 

Ele adverte, porém, que essa alta vai trilhar um caminho acidentado. “O ano será muito volátil, devido principalmente ao desenrolar da situação na Europa”, diz. Sandra Petrovsky, superintendente de investimentos da empresa de gestão de recursos do grupo Votorantim, é um pouco mais conservadora, mas diz estar igualmente otimista. Para ela, considerando-se o valor justo das empresas que formam o Índice Bovespa, o principal indicador do mercado deveria estar a 73.000 pontos, um avanço potencial de 28% em relação ao encerramento de 2011. “Vemos o início de 2012 como uma continuação do segundo semestre de 2011: será um cenário volátil, mas com boas oportunidades para o investidor.”

 

82_3.jpg