16/04/2003 - 7:00
Pense em Wimbledon e Roland Garros. O campo de Augusta, na Georgia, nos EUA, está para o golfe como a mítica grama inglesa e o lendário saibro francês estão para o tênis. Augusta, criado em 1934, no auge da depressão econômica americana, é o templo do Master, um dos quatro torneios que compõem o Grand Slam do golfe. Os outros são o US Open, o British Open e o PGA Championship. Tiger Woods, o Pelé da bolinha branca, já venceu o Master em 1997, 2001 e 2002 ? na semana passada, ele tentava o tetracampeonato. Dono da ?jaqueta verde?, atribuída aos vencedores, Woods conquistou uma espécie de passaporte vitalício, além dos US$ 6 milhões por título. O fascínio do torneio é tão grande que os ingressos estão esgotados até 2011. O que o faz especial? ?O trajeto é um dos mais difíceis que existem?, diz Ricardo Fonseca, apresentador do programa Por Dentro do Golfe, da ESPN Brasil. Tornar a disputa mais complicada é uma obsessão.
Em 1999, o campo ganhou 400 jardas, o equivalente a 365
metros. Em 2001, três buracos foram alterados e, em 2002, o
campo foi ampliado em 260 metros. Neste ano o buraco número cinco foi empurrado 18,3 metros para a frente. A ampliação das distâncias reforçou as armadilhas do lugar, repleto de bancos de areia, lagos e árvores. Ainda assim, embocar as bolas parece brincadeira diante de um outro problema: conseguir o título de sócio no Augusta. Isso é missão quase impossível. Bill Gates, o homem mais rico do mundo, tem US$ 59 bilhões. E daí? Ele suplicou uma vaga durante uma década, e só no ano passado foi aceito. Apenas 300 pessoas têm passe livre no clube. Na época da internet e das teleconferências, o Augusta é o mais seletivo ponto de encontro dos grandes empresários.
Sandy Weill, principal executivo do Citicorp, é outro que tem atravessado maus bocados. Tenta uma vaga há tempos e só
recebe negativas. Weill disse ser a favor da entrada de mulheres no clube, restrito aos homens. Comprou briga feia. Um fervoroso sócio saiu em defesa do Augusta: ?Sandy Weill pode até acumular outros US$ 67 bilhões, mas nunca será aceito entre nós.? A guerra dos sexos deixou de ser mero bate-boca e se transformou numa disputa econômica. Marta Burk, presidente do grupo feminista National Council of Womens Organizations, que reúne 5 milhões de mulheres, enviou uma carta aos patrocinadores da competição (Coca-Cola, Citicorp e IBM) dizendo que lideraria o boicote aos produtos das empresas caso as portas permanecessem fechadas às moças. Resultado: cancelaram o patrocínio.
A confusão chegou à Casa Branca. Quando George W. Bush indicou John Snow para ser o novo secretário do Tesouro americano, a imprensa questionou sua ligação com o Augusta. A alegação: Snow era sócio de um clube que discriminava mulheres. No mesmo dia, Snow divulgou uma nota dizendo que se desligara do clube. ?O Master de Augusta não é o torneio que mais paga ao campeão, mas vencê-lo é conquistar prestígio eterno?, diz Pedro Cominese, presidente da Confederação Brasileira de Golfe.