24/10/2012 - 21:00
No início do século 20, o físico alemão Albert Einstein apresentou ao mundo a mais conhecida de suas teses, a Teoria da Relatividade. Basicamente, ele defendeu que a noção de espaço-tempo é curvo, dependente de interferências externas. Para Jean-Marc Jacot, CEO da grife suíça de relógios de luxo Parmigiani, a teoria de Einstein explicaria também o competitivo mercado do sofisticado acessório, em que nem sempre a tradição – uma das características mais cobiçadas do mundo do luxo – se sobrepõe à qualidade dos produtos. Depois de 16 anos criando os relógios mais caros e sofisticados do mundo na Suíça, principal polo mundial de produção de relógios premium, a Parmigiani se vê em uma competição acirrada, disputando espaço com marcas centenárias, como as conterrâneas Patek Philippe, de 173 anos de existência, Tag Heuer, com 152 anos, e Vacheron Constantin, aos 257 anos.
Jean-Marc Jacot, CEO da Parmigiani: “Muitos se gabam pela tradição.
Nós, pela qualidade técnica”
“Muitas marcas de relógios usam as datas longínquas de suas fundações para se gabar no mercado”, diz Jacot. “Mas, para nós, o importante mesmo é a qualidade técnica, o que temos de sobra.” O segredo da Parmigiani, de certa forma, é semelhante ao de suas maiores concorrentes: a exclusividade. Segundo Gabriella Otto, professora de marketing de luxo da ESPM, mais do que apego à tradição, o público endinheirado procura peças únicas. “Por isso, a Parmigiani acerta em cheio quando faz coleções limitadas a pouquissímas unidades”, afirma a especialista. “Essa escassez de peças faz com que os relógios se assemelhem a obras de arte.”
Outro atrativo da marca é o foco na produção artesanal, uma característica que também agrega valor aos relógios da grife – que chegam a custar até US$ 3 milhões –, como os fabricados sob encomenda, customizados de acordo com o gosto do comprador. Como tudo é cuidadosamente produzido à mão, as peças podem demorar até sete meses para ficar prontas. No entanto, o tempo, mais uma vez, não é um problema. Para Jacot, esse é o segredo do negócio. Todas as peças mecânicas são produzidas nos oito ateliês Parmigiani espalhados pelo mundo, e são, inclusive, fornecidas para grifes concorrentes, como a Patek Philippe, a Corum e a Richard Mille. “Cada relógio feito por nós é único”, diz o executivo.
Além de ter suas próprias características, a grife suíça tem uma parceria com a francesa Hermès para a produção de pulseiras de couro estampadas com o logotipo da famosa maison parisiense. A falta de experiência da Parmigiani no mercado mundial de relógios de luxo é, aparentemente, compensada pela bagagem de seu fundador, Michel Parmigiani. Amigo e restaurador particular das raridades da família Sandoz – uma das mais ricas e tradicionais da Suíça –, Michel já era conhecido no ramo da alta relojoaria. Desde 1976, ele vinha planejando o conceito da marca, que nasceria 20 anos depois, com uma ajuda providencial do clã Sandoz, proprietário da empresa farmacêutica de mesmo nome, com um faturamento anual de US$ 9,5 bilhões.
Depois de garantir seu lugar ao sol no concorrido mercado de relógios de luxo, a Parmigiani quer expandir suas operações globais. O plano é ampliar, no próximo ano, de 250 para 400 pontos de venda em todo o mundo e de cinco mil para dez mil unidades a sua produção anual. As metas são ousadas, mas ainda distantes de concorrentes como Rolex, que fabrica um milhão de peças anualmente. “A imagem de exclusividade já está consolidada”, afirma a especialista Gabriella, da ESPM. “O próximo passo será conquistar mercados consumidores com potencial para o luxo, como o Brasil.”