São nomes de peso em seus setores. Alguns até concorrem entre si. Mas todos adotaram uma mesma estratégia. Citibank, Credicard, Monsanto, Chase, Merrill Lynch, Coca-Cola, entre outros, entraram numa onda chamada de casual everyday. Depois do casual friday, que abolia terno e gravata às sextas-feiras, agora, nos escritórios dessas empresas, todo dia é dia de trajes mais confortáveis. A moda do vestuário informal em ambientes de trabalho começou no Vale do Silício, nos Estados Unidos, na década de 80, com as empresas de tecnologia. Lá, a turma jovem e descontraída que comanda a indústria da informática e da Internet, descobriu que não combinava com paletó, camisa social e sapato de bico fino e mandou o figurino certinho para o espaço. Difícil era prever que a onda ia pegar em instituições financeiras e multinacionais onde a sobriedade no jeito de se vestir era uma espécie de cartão de visita. Mas pegou. ?Isso é mais um sinal de uma mudança nas relações de trabalho?, diz Ellen Igersheimer, da Investimenta, consultoria de moda de São Paulo. ?As organizações estão preocupadas em dar liberdade de escolha aos seus empregados.? Querem muitas vezes mudar a imagem não só entre os funcionários, mas no mercado. ?A intenção do banco é parecer mais moderno, ágil, acessível, menos sisudo?, diz Henrique Szapiro, diretor de Recursos Humanos do banco americano Chase. Na Monsanto, a novidade aconteceu numa fase de reestruturação, com a criação de uma área de tecnologia.?Queríamos um ambiente mais aberto, descontraído, flexível?, afirma Felipe Westin, diretor de RH da empresa.

A mudança foi mais revolucionária nos Estados Unidos, onde o código de vestuário, chamado de dress code, sempre foi mais rígido. No Brasil, roupas formais eram mais associadas às multinacionais e instituições financeiras, já que muitas empresas nacionais costumavam ser mais liberais nesse quesito. Na fabricante de cosméticos Natura, por exemplo, o uso de terno e gravata nunca foi obrigatório. O importante, lá como em qualquer companhia que está aderindo à moda mais recentemente, é saber que ser casual não significa ter de queimar os paletós. ?Os executivos poderão optar dependendo da situação e da imagem que a sua empresa quer passar?, diz Silvana Bianchini, da Dresscode, consultoria de imagem. ?No mundo todo, terno e gravata ainda são símbolos de credibilidade?. Tanto que empresas como a administradora de cartões de crédito Credicard deixam o funcionário decidir que roupa usar de acordo com o cliente ou com o tipo de reunião. O mesmo vale na corretora de valores carioca Ágora. ?Deixo um paletó no cabideiro para uma emergência?, diz Rogério Oliveira, um dos sócios da empresa. Outras, como a gigante multinacional da biotecnologia Monsanto adotam um modelo misto: o padrão liberado vale para a maioria, mas empregados de setores com maior contato com público, como o de relações governamentais e o jurídico, continuam no estilo antigo.

COMO SER CASUAL SEM ERRAR

Homens
?Jeans, só os clássicos e em tons neutros. Tecidos desbotados e barras desfiadas, nem pensar. Calças de sarja nas cores cáqui, marinho, preto, verde ou marrom são boas opções.
?Camisas em tons neutros e estampas miúdas.
?Blazers e cardigãs são sempre bem-vindos
?Camisetas com estampa, logomarca ou mensagens, bermudas e moletom são proibidos.
?Sapatos de couro. Tênis, nunca.
?Tecidos que amassam e de cores fortes devem ser evitados.

Mulheres
?Cuidado com decotes, transparências, fendas e comprimentos. Nada de minissaias.
?Blazers e cardigãs são elegantes.
?Sapatos sempre fechados e salto confortável (a cor da meia deve sempre seguir a saia ou sapato).
?Cabelos curtos ou presos, maquiagem suave e bijuterias ou jóias discretas.

Fontes: Silvana Bianchini(Dresscode) e Ellen Igersheimer (Investimenta)

 

 

Não há pesquisa que comprove qualquer relação da mudança de figurino com o aumento de produtividade nas empresas. Mas já se encontra no meio corporativo quem ateste, empiricamente, que, por descontraírem o ambiente, as roupas casuais proporcionam um clima melhor no trabalho, levando a uma maior eficiência. ?As pessoas ficam mais à vontade?, diz Nora-Ney Cerneviva, consultora de recursos humanos do Citibank. ?Ficando mais soltos, o trabalho flui melhor?. Essa preocupação com o bem-estar fez com que algumas empresas percebessem ? só agora ? que a roupa também deve se adequar às temperaturas tropicais. No Rio de Janeiro, duas companhias, a Coca-Cola e a SuperVia (concessionária que opera os serviços de trens de passageiros) acabam de aderir ao casual. ?É uma tendência global que se encaixa bem com o verão carioca?, diz Marcus Rubim, tesoureiro da Coca-Cola.

Para quem tem um armário repleto de ternos, a nova etiqueta no trabalho exige algum tipo de investimento. A roupa que se usa no clube não é, definitivamente, o que se espera do casual no escritório. ?Agora quando viajo aproveito para comprar roupas mais descontraídas. Antes, só gastava com ternos?, conta o indiano T. K. Chopra, diretor-executivo do Citibank. Para ajudar na mudança de guarda-roupa, o grupo financeiro fez convênios com algumas lojas de São Paulo para dar desconto aos seus funcionários. A maioria das empresas distribuiu manuais de orientação. Algumas, como a corretora Merryll Lynch, chegam a promover palestras com consultores de moda. ?O casual gera muita confusão?, diz Silvana, da Dresscode. ?As pessoas ficam sem saber o que pode ou não. Há mil tipos de calças cáqui. Terno azul-marinho é um só.?

COM GRAVATA, SIM SENHOR

Na PeopleSoft, a informalidade foi trocada pelo terno

Abolir a gravata no dia-a-dia era usual na PeopleSoft, empresa americana que produz softwares de gestão empresarial, muito antes dos executivos pensarem em casual friday. A corporação já surgiu, doze anos atrás, deixando os funcionários se vestirem como quisessem. Só que desde que o novo presidente Craig Conway assumiu, há dois anos, a PeopleSoft percorre justamente o caminho contrário dos grupos que estão aderindo ao casual everyday. Os chinelos e bermudões, tão comuns no verão, agora são proibidos. E todos os funcionários precisam se apresentar de terno ou, no máximo, de esporte fino. A exigência partiu dos próprios clientes. ?A maioria não estava preparada para investir no projeto de uma empresa cujo representante usava jeans?, diz Izabel Pinto, diretora de marketing para a América Latina. ?O excesso de informalidade não passava a credibilidade necessária.?

Para mudar o figurino dos funcionários, a lição inicial foi dada pelo presidente mundial Conway. Na primeira reunião com a equipe, usava terno e gravata enquanto todos calçavam tênis. A partir daí, cada um fez a adaptação do seu guarda-roupa. O administrador de empresas Marcel Molon, gerente financeiro da PeopleSoft no Brasil, precisou tirar a naftalina dos paletós. ?Ainda bem que guardei as roupas que usei nos meus primeiros empregos, no início da carreira.?