Os resultados trimestrais das construtoras não vêm agradando aos acionistas. Os papéis têm sido muito voláteis nas últimas sessões, e esse movimento se amplificou com os resultados abaixo do esperado divulgados nos últimos dias. Líderes do setor, como MRV, Tecnisa, Brookfield, Gafisa e PDG Realty surpreenderam negativamente os acionistas ao anunciar números piores que as expectativas e, com isso, suas ações desabaram. Um bom exemplo foi o da MRV. Às vésperas da divulgação dos números, um relatório da corretora Votorantim previa uma geração de caixa, medida pelo Ebitda, de R$ 213 milhões, representando um crescimento de 6% em relação ao mesmo período de 2011. No entanto, o Ebitda divulgado foi de R$ 191 milhões, uma queda de 5% em relação aos números do ano passado. 

 

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Uma decepção tão grande fez as ações amargarem uma queda de 15% no dia seguinte ao anúncio. Mesmo recuperando-se parcialmente das perdas, as cotações ainda gravitam ao redor dos desvalorizados níveis de 2008. Esse movimento feriu pesadamente os bolsos dos investidores. Um estudo da empresa de informações econômicas Economática com 17 empresas do setor mostra que, nos 12 meses até a terça-feira 15, o valor de mercado dessas companhias encolheu quase 38%, caindo de R$ 50 bilhões para R$ 31 bilhões. Segundo os especialistas, os resultados ruins não devem parar por aí. “Os próximos dois trimestres ainda deverão ser bem difíceis para as construtoras”, afirma Ricardo Zeno, diretor da corretora carioca AZ Investimentos. 

 

“A aversão do mercado ao risco devido aos problemas na Europa afeta diretamente o setor de construção civil”, diz Adriano Moreno, analista da Futura Investimentos. Flavio Conde, analista de construção do Banif, explica que, em épocas de crise, os investidores começam a se desfazer de papéis que acreditam que ainda vão cair. “É o caso da construção civil, que está diretamente relacionada a expectativas futuras”, afirma. Pior do que isso: mesmo na pouco provável hipótese de uma melhora súbita nos números, os analistas da Votorantim não esperam uma mudança significativa na percepção negativa dos investidores sobre esse setor, que permanecerão céticos em relação ao desempenho futuro. Diante deste cenário, o que fazer? Vender os papéis e realizar prejuízos ou aproveitar a liquidação e comprar barato? 

 

Zeno, da AZ, afirma que os papéis das construtoras estão sendo punidos além do que merecem. “Quem investiu nessas companhias não deve vender agora, mas pensar no longo prazo.” Moreno, da Futura, compartilha da opinião. Segundo ele, o próximo semestre ainda deve causar dores de cabeça aos acionistas do setor, mas quem não tiver pressa pode ter bons retornos. “Quem comprar aos preços atuais vai ter bons resultados”, afirma. Quem ainda não comprou e se sente confortável com a volatilidade deve ter um pouco mais de paciência, diz Conde, do Banif. Ele ainda aposta em novas quedas e sugere que o investidor aguarde os “próximos capítulos” da crise na Europa, que deve se agravar. “Isso vai derrubar ainda mais os preços dos papéis de construção, e é nessa hora que o investidor deve entrar.”

 

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