09/10/2002 - 7:00
Nunca somos donos de um Patek Philippe. Apenas o guardamos para a geração seguinte. Essa frase traduz fielmente a fama de um dos maiores ícones da alta relojoaria mundial. Reluzentes nos pulsos ou nos bolsos da primeira, segunda ou terceira linhagem de uma família, essas jóias desafiam o tempo e sobrevivem ao longo dos anos em busca da eternidade. Já nascem com alma e com uma história que remete a reis, ilustres artistas, magnatas e intelectuais que compartilharam por décadas e décadas suas idéias, suas conquistas e suas mágoas lado a lado de um Patek Philippe. Para continuar honrando essa ode, que dura mais de 160 anos, sua produção se mantém igual: artesanal. Instalada em Plans-les-Quates, na Suíça, a fábrica da Patek Philippe produz poucas peças por ano. Sua confecção é tão seletiva que em mais de um século e meio cunhou apenas 600 mil relógios, número que muitas empresas fabricam em um ano. ?Ela é considerada a melhor do mundo?, diz Sebastien Liron, gerente de produto da H.Stern, representante da Patek Philippe no País.
Nenhum processo na linha de montagem da Patek Philippe é terceirizado. Talvez seja por isso que mais de 60 invenções levaram a alcunha da empresa. Os relógios são tratados como obras de arte e os relojoeiros são vistos como os Michelângelos do tic-tac. Algumas peças podem levar anos ou décadas para serem concluídas, pois cada um de seus artesãos se debruçam incessantemente sobre papéis e estudos para dar vida eterna aos relógios. Tanto esmero cobra um alto preço. Uma simples amostra disso pode ser vista no modelo Graves Supercomplication: produzido sob medida para o colecionador americano Henry Graves Junior no início do século. Corria o ano de 1925 e Graves, um eterno aficionado por relógios, foi procurar a Patek Philippe. Seu pedido era um desafio. Ele queria que os suíços fizessem o mais belo e sofisticado exemplar existente. A encomenda virou uma questão de honra. E em 1933, depois de oito anos de estudo saía da Suíça para os EUA a fantástica jóia. Ele foi feito em ouro e tinha 24 mecanismos de complicação, como as fases da lua, calendário perpétuo, o movimento das estrelas do céu de Nova York entre outras funções.
Por mais de meio século foi o relógio com maior número de mecanismos do mundo. Só perdeu esse título em 1989, quando a empresa criou o Caliber 89 em comemoração aos seus 150 anos de vida. Mas nem por isso perdeu o seu valor. O Graves Supercomplication foi vendido em dezembro de 1999, em um leilão da Sotheby?s por US$ 11 milhões. A surpreendente cifra ilustra a dimensão e a força do pedigree que a Patek tem no mundo da alta relojoaria. Ela nunca pára. Como se não bastasse ter os dois relógios mais complexos do mundo, a marca resolveu ocupar a terceira posição também. Em 2000, criou o Star Caliber 2000 que levou oito anos para ser construído. No processo de fabricação dessa relíquia de US$ 7,5 milhões, todo cuidado foi pouco. O mecanismo foi feito dentro de uma redoma de vidro, na qual o ar era trocado de tempos em tempos, para evitar que fosse contaminado pelo pó. Foram esses pequenos detalhes que deram à Patek Philippe um lugar de destaque no olimpo da relojoaria.
Albert Einstein. A marca foi criada, em 1839, na Suíça, pelo polonês Antoine de Patek e pelo tcheco François Czapek. Juntos, fundaram a Patek, Czapek e Co. Transformaram-se nos melhores relojoeiros da Suíça e em 1844 resolveram mostrar ao mundo suas fabulosas peças na exposição internacional de Paris. Lá, conheceram o francês Jean Adrien Philippe, inventor do sistema de corda para relógios de pulso que dispensava o uso de uma chave usada na época. Em 1945, entretanto, a sociedade de Patek com Czapek chegava ao fim. Com isso, Philippe seria convidado a juntar-se a Patek dando origem à Patek Philippe. Juntos conquistaram o mundo e venderam os seus relógios para a nata do planeta. Os compositores Peter Tchaikovsky e Richard Wagner, o escritor Leo Nikolayevich Tolstoy e o físico Albert Einstein, famoso por sua teoria da relatividade, usavam Patek Philippe. O relógio de Einstein, inclusive, foi produzido, a pedido do cientista, com os números em alto relevo, pois ele já não enxergava direito. Até mesmo a rainha Vitória, da Inglaterra, foi seduzida por essa relíquia. Por mais de 50 anos, o tic-tac incomparável que somente um Patek Philippe sabe reproduzir foi ouvido pela monarca.