Deu zebra no futebol inglês. Na semana passada, o americano Malcolm Glazer, 76 anos, driblou os demais acionistas do Manchester United e assumiu o controle do time de futebol mais valioso do Planeta. Quem acompanhou a jogada do empresário ianque garante que a virada foi surpreendente. Em 2003 ele tinha apenas 2,9% das ações. Era, até então, um acionista minoritário como tantos outros e que aparentemente não causaria dores-de-cabeça aos nobres detentores do time. Na temporada seguinte, Glazer começou o contra-ataque. Comprou mais 26% das ações, depois outros 30% e passou a assediar dois dos mais importantes sócios do clube: os irlandeses JP MacMagnus e John Magnier. Do final de 2004 para cá, fez três propostas para adquirir o Manchester. Com muita insistência e US$ 1 ,4 bilhão na mão convenceu a dupla da Irlanda. Agora, tem 75% do time britânico e promete, em breve, levar outros 14% das ações.

Dono de uma fortuna pessoal de US$ 1 bilhão, Malcolm Glazer, que começou sua carreira empresarial ao herdar do pai uma relojoaria nos EUA, tem hoje participações em empresas de petróleo, indústria de embalagem, plano de saúde, construtoras e bancos. É dono também do Tampa Bay Buccaneers, time de futebol americano sediado na Flórida. Glazer ficou famoso não só por levar o Tampa ao seu primeiro título nacional em 2002, mas principalmente por sua fúria expansionista. Recentemente, tentou abocanhar, por meio de oferta hostil, a fabricante americana de plásticos Formica. Não conseguiu. Também fracassou no ataque a Harley Davidson. O caso foi parar nos tribunais e o próprio juiz classificou Glazer como um lobo em pele de cordeiro. O lobo, contudo, não se abalou. Meses depois partiu para cima da companhia de petróleo Zapata, fundada por George Bush pai, e arrematou-a sem maiores problemas. Agora, repete a dose com o Manchester. O anúncio da compra foi feito pelo próprio Glazer na bolsa de Londres na segunda-feira 16. No dia seguinte, as ações do Manchester registraram alta de 12%. Subiram tanto quanto a fúria dos Red Devils — os torcedores do time. Poucos minutos após a concretização do negócio, milhares deles se puseram em frente ao estádio de Old Trafford gritando contra a venda de um dos maiores símbolos britânicos. ?Vá para o inferno, Glazer?, dizia um dos cartazes.

Glazer, na verdade, está no paraíso. Ele acaba de comprar a maior multinacional do futebol, um clube com ações em bolsa, planejamento estratégico, coleção de títulos, admirado nos quatro cantos do mundo ? a ponto de ter fã clube em Portugal, no Japão, na Austrália ou no Chile. O Manchester United virou na última década uma máquina de ganhar dinheiro. Em 1995, estava cotado em US$ 56 milhões bolsa. Hoje, o valor de mercado chega a US$ 1,6 bilhão. Sua receita anual ultrapassa os 250 milhões de euros, proveniente da renda de jogos, turnês mundiais, venda de produtos nas RedStores — as lojas do time ? ou do movimento nos Red Cafes, sua cadeia de restaurante. O clube tem ainda uma rede de tevê e uma rádio. Glazer diz que vai manter tudo isso. Afinal de contas, não pagou um ágio de 13% nas ações para desmantelar a rentável estrutura. ?Eles entendem é de futebol americano. Isso aqui é diferente?, esbravejou à BBC de Londres um membro da Associação dos Acionistas do United, dona de 10% do clube. Os aficcionados temem a possibilidade de Glazer fechar o capital do Manchester. Dizem ainda que a operação financeira do magnata foi arquitetada com polpudos empréstimos que têm como lastro a própria performance financeira do clube. Quem está dando risada são os torcedores do rival Chelsea, que viraram motivo de piada dos Red Devils quando o time foi comprado pelo russo Roman Abramovich.