Uma frase do século 16, atribuída a um autor desconhecido, dizia que a diplomacia era a arte de mentir de forma elegante. Até a última semana, no entanto, governos e diplomatas não eram vistos pelo mundo de forma tão desnudada.  

A divulgação de mais de 250 mil documentos confidenciais e despretensiosos telegramas entre chefes de Estado pelo site WikiLeaks trouxe à luz declarações comprometedoras que, em poucas horas, se alastraram da Patagônia à Sibéria. Entre as revelações há provas de que países como Turquia, Holanda e Bélgica abrigam armas nucleares dos Estados Unidos. 

 

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Existem também notícias que beiram a irrelevância ou apenas endossam o óbvio ? como a que a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, agia na Casa Rosada apenas como um fantoche do falecido marido Nestor. 

 

O WikiLeaks expõe documentos que ridicularizam políticos poderosos ou colocam nações com armas nucleares em rota de colisão. No campo da anedota estão os russos Vladimir Putin e Dimitri Medvedev ? ex e o atual presidente da Rússia ? chamados de Batman e Robin por diplomatas americanos. O exemplo mais perigoso mostra que Israel gostaria que os Estados Unidos bombardeassem o Irã, entre muitas outras citações, no mínimo, constrangedoras. 

 

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Atordoada, Hillary Clinton se viu obrigada a tratar de intrigas sobre o casal Sarkozy,

a relação Brasil-Irã e o regime russo comandado por Medvedev e Putin 

 

Casa Rosada apenas como um fantoche do falecido marido, Néstor. O WikiLeaks expõe documentos que ridicularizam políticos poderosos ou colocam nações com armas nucleares em rota de colisão. 

 

No campo da anedota estão os russos Vladimir Putin e Dimitri Medvedev ? o ex e o atual presidente da Rússia ? chamados de Batman e Robin por diplomatas americanos. Ou que o presidente francês Nicolas Sarkozy se aproveitaria da reputação de sua mulher, Carla Bruni, para buscar negócios na América do Sul. O exemplo mais perigoso mostra que Israel gostaria que os Estados Unidos bombardeassem o Irã, entre muitas outras citações, no mínimo, constrangedoras.

 

O jogo da verdade imposto pelo WikiLeaks em escala global evidentemente não poupa o Brasil. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, confirmado no posto pela presidente eleita, Dilma Rousseff, teria dito em 2008 ao então embaixador americano no Brasil, Clifford Sobel, que Samuel Pinheiro Guimarães, atual chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, ?odeia os EUA?. O mesmo documento mostra que Sobel considera a diplomacia brasileira ?antiamericana?. 

 

Citações sobre o Brasil nas telas do WikiLeaks também mostram que o governo americano classifica o País como ?formador de opinião do Terceiro Mundo?. Um telegrama de 5 de fevereiro de 2010 lembra que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu Mahmoud Ahmadinejad como forma de provocação ao resto do mundo. 

 

Os telegramas indicam que há países que ainda mantêm ?relações diplomáticas e comerciais normais? com o Irã, apesar das sanções impostas pela ONU. Um outro telegrama do conselheiro de Assuntos Estratégicos da França, François Richier, diz que o Brasil é ?ingênuo? em sua relação com o Irã.

 

No campo das revelações menos bombásticas há correspondências do consulado americano em São Paulo alertando para uma possível ligação de imigrantes libaneses no Brasil com o movimento radical islâmico Hezbollah, considerado pelos Estados Unidos um grupo terrorista. 

 

O telegrama reproduz uma denúncia de um Instituto do Futuro, ligado à comunidade islâmica sunita, que diz que xiitas chegam ao Brasil apoiados pelo Hezbollah com  US$ 50 mil para abrir negócios e fazer remessas de lucros para sustentar o grupo. O consulado estima que há 20 mil muçulmanos xiitas, a maioria em Foz do Iguaçu, que seguem o Hezbollah.

 

As notícias que envolvem o Brasil citam a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Um telegrama da ministra conselheira Lisa Kubiske, encarregada da missão de negócios da Embaixada americana, de 24 de dezembro de 2009, diz que o Brasil admite o receio de ataques terroristas durante a Olimpíada de 2016. 

 

O documento cita a diplomata brasileira Vera Alvarez, chefe da Coordenação-Geral de Intercâmbio e Cooperação Esportiva do Itamaraty, falando sobre o risco de terrorismo no País. Kubiske cita o fato como oportunidade de cooperação para os EUA, incluindo ?fornecer experiência sobre atividades de contraterrorismo?. 

 

A diplomata americana, porém, aponta que o jeitinho brasileiro pode comprometer o planejamento para a Copa de 2014 e a Olimpíada, deixando detalhes para a última hora. Os atrasos, segundo ela, vão ?certamente colocar um ônus maior no governo dos EUA para garantir o padrão necessário?.

 

Aparentemente, o governo brasileiro reagiu com indiferença aos vazamentos dos telegramas envolvendo a diplomacia americana. Até agora tem tratado os comentários das embaixadas dos Estados Unidos como fatos conhecidos e públicos. 

 

A postura de Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Itamaraty à época dos telegramas, está manifestada em profusão em seus escritos. É fato conhecido também que Nelson Jobim é um notório, digamos, falastrão e que as informações vazadas por ele não são sempre as mais precisas. 

 

Sua proximidade com Clifford Sobel também era de conhecimento geral em Brasília, sendo um frequentador assíduo dos eventos sociais promovidos pelo embaixador americano.

 

Seja como for, as revelações do WikiLeaks envolvendo o Brasil ainda não causaram nenhum grande estrago. A maioria das denúncias não acrescenta novidades nem à diplomacia brasileira nem ao conhecimento público. 

 

Para Ruy Schneider, consultor empresarial e especialista em relações internacionais, as denúncias do WikiLeaks ainda não causaram danos do ponto de vista político. ?Até agora, nenhuma grande novidade. Muito barulho por nada. O que preocupa é um eventual vazamento de informações no campo empresarial, especialmente de instituições financeiras?, disse à DINHEIRO. 

 

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