ATÉ MEADOS DE 2007, OS MULTIMERCADOS figuravam, mesmo que um pouco atrás da renda fixa, como as estrelas da indústria de fundos. Mas, como diz a sabedoria popular, ?grande nau, grande tormenta?. O primeiro tombo veio junto com as baforadas iniciais da crise do mercado imobiliário americano, em agosto daquele ano. Naquele mês, segundo a Anbid, investidores resgataram mais de R$ 700 milhões desses fundos, deixando o mercado em alerta vermelho. Mal sabiam eles que o pior estava por vir. Se em março de 2007 a captação líquida dos multimercados somava R$ 3,2 bilhões no ano, no mesmo período de 2008 a conta fechou negativa em nada menos que R$ 15 bilhões. Só em março passado foram resgatados mais de R$ 6 bilhões dos fundos mistos. É tudo culpa da famosa ?volatilidade?, dizem os gestores. O cenário, no entanto, não é apavorante. Alguns fundos com estratégia mais conservadora e, em alguns casos, apoiada em índices de inflação, conseguiram desempenhos razoáveis. Confira quais são e compare com o desempenho de sua carteira de investimentos.

 

Os primeiros meses do ano deixaram um sabor amargo que só mesmo turbilhões inesperados conseguem deixar, principalmente para os gestores de multimercados, sejam eles com ou sem renda variável. No entanto, uma opinião discordante ecoa no ar. ?Para nós, o caos é bom. Temos que aproveitar ao máximo o mar revolto?, celebra Marcos Duarte, sócio-diretor da Polo Capital. O fundo Polo FI Multimercado Crédito Privado ficou em primeiro lugar no ranking da DINHEIRO para multimercados com renda variável e aplicação mínima acima de R$ 50 mil. ?Nossa estratégia é apostar em desempenhos assimétricos, ou seja, companhias que terão performances muito díspares?, explica Duarte. A estratégia consiste em aproveitar a volatilidade do mercado e os spreads de crédito das empresas, especialmente as de primeira linha (blue chips) e com bons fundamentos. Enquanto o mundo aperta os cintos para 2008 e relembra com saudosismo os louros de 2007, Duarte discorda. ?O ano passado foi muito difícil para nós.?

“O CAOS É BOM. TEMOS QUE APROVEITAR AO MÁXIMO O MAR REVOLTO”
MARCOS DUARTE, SÓCIO DA POLO CAPITAL

Já a Mapfre cravou uma rentabilidade de 22,14% em seu fundo Mapfre Inversión FI Multimercado nos últimos 12 meses. De acordo com o ranking, foi a maior relação risco/retorno da categoria nas aplicações iniciais de até R$ 10 mil. Para alcançar tal resultado, o gestor apostou logo no início da crise, em agosto de 2007, em uma mudança de estratégia para blindar o fundo contra um possível agravamento das turbulências. ?Enquanto todos estavam contando com um cenário tranqüilo, nós vislumbramos o problema?, conta Wilson Toneto, presidente da Mapfre DTVM. A estratégia foi simples. O fundo tinha grandes posições em juros prefixados e, a partir de agosto, detectou que a curva dos juros poderia mudar. ?Apostamos que alguma variação de preços importante e que uma crise ligada a commodities pudessem se configurar?, explica. Com isso, parte de sua posição em prefixados foi vendida e o fundo ficou posicionado nos índices de inflação, como IGPM e IPCA.

Para 2008, apesar dos primeiros meses traumáticos, o mercado aposta em uma retomada estável. Renato Ramos, gestor de renda fixa do HSBC Investments, acredita que os investidores que migraram para a renda fixa voltarão gradativamente aos multimercados. ?A tendência é que, conforme a volatilidade caia, o investidor retorne, mesmo com os juros mais altos?, diz. O coro é o mesmo entre economistas e profissionais do mercado financeiro: o Brasil deve sair pouco chamuscado da crise, apesar da ameaça inflacionária e do aumento dos juros. A forte demanda interna ajudará a manter o crescimento em níves razoáveis. Mas uma pergunta paira no ar e ninguém sabe responder. Tanta volatilidade assim, até quando?