Aos 42 anos de idade, o português Paulo Rodrigues desembarcou pela primeira vez no Brasil. Ficou por aqui pouco menos de uma semana, e saiu com duas impressões gravadas em suas retinas: o trânsito caótico de São Paulo numa sexta-feira chuvosa, e o que ele chama da ?preocupação dos brasileiros com o bem vestir?. A primeira impressão se evaporará com o tempo, mas a segunda servirá para orientar algumas das decisões de sua empresa, a Orfama, indústria têxtil portuguesa, controlada pela família francesa Gros. ?Até mesmo no dia-a-dia, mulheres e homens usam roupas caprichadas, sempre combinando?, surpreendeu-se. A constatação é importante para o tipo de negócio que Rodrigues comanda. A Orfama é a maior confecção de malhas finas do mundo. A cada ano, saem de seus teares mais de três milhões de peças, cujas etiquetas estampam 139 diferentes marcas de luxo, de Yves Saint-Laurent a Ermenegildo Zegna e Guess, além das linhas premium da Nike e Puma. Seus clientes espalham-se por quase todos os continentes. Faltava a América Latina. Não falta mais. A partir da semana passada, a Orfama desembarcou no Brasil. ?Percebi que nossas malhas são adequadas ao clima e ao estilo dos brasileiros?, diz ele.

A Orfama ataca o mercado brasileiro em duas frentes. Para atender o público feminino, está em negociações com três diferentes companhias. Ele não revela quais. ?Ainda no primeiro semestre de 2006, teremos os primeiros contratos fechados?, adianta. Na segunda frente, voltada para roupas masculinas, uniu-se a cinco outras confecções e criou o Art&Moda, show room localizado na Av. Europa, ponto nobre de São Paulo. Ali, lojistas e representantes de grifes poderão conhecer as coleções para o consumidor de alta renda de cada uma das empresas portuguesas.

Em suas andanças por aqui, Rodrigues encontrou apenas três grifes que utilizam o tipo de malha fabricada pela Orfama: Zegna, Calvin Klein e Armani. Os fornecedores, nesses casos, são italianos. ?Temos um mundo de oportunidades?, diz ele. ?Os custos em Portugal são bem menores e nossa qualidade imbatível.? Segundo ele, a mão-de-obra portuguesa custa metade da utilizada na Itália. Outra vantagem, com reflexo nos custos, é o modelo de produção. A Orfama fabrica seus artigos com fio têxtil cru, sem tingimento. Assim, o cliente pode determinar a cor das peças de acordo com a última tendência de moda, geralmente identificada em feiras ou desfiles. Como as peças já estão prontas, é só enviá-las para o tingimento. ?Em duas semanas, a nova coleção estará nas lojas?, garante Rodrigues. ?Se usássemos fio tingido, o prazo de entrega subiria para três meses.?

Para garantir essa exclusividade, a Orfama desenha e patenteia suas próprias máquinas e as encomenda para fabricantes de bens de capital. ?Assim, os concorrentes não podem comprar equipamentos semelhantes?, diz Rodrigues. Com cinco unidades em Portugal e uma na Polônia, a Orfama produz 250 mil peças por mês. Índia e Bangladesh, dois de seus mais importantes concorrentes, fabricam 80 mil. ?Com inovação, manteremos a dianteira?, diz Rodrigues. Dois projetos, ambos bancados pela Comunidade Européia, ajudarão nesse caminho. Um deles é o desenvolvimento de um método de secagem rápida das peças de roupas, com tecnologia de microondas. Outro é o GoBlue, fibra têxtil inteiramente ecológica, que dispensa o uso de produtos químicos nas fases da produção. ?Já consumimos um ano de trabalho e precisamos de outro tanto para colocá-lo no mercado?, diz Rodrigues. ?Mas vale a pena, pois será uma revolução.?

? 30 milhões é o faturamento anual da Orfama, obtido junto a 139 clientes