29/02/2012 - 21:00
O usineiro Rubens Ometto costuma surpreender o mercado. Na terça-feira 21, enquanto o País ainda batucava em pleno Carnaval, ele manteve a tradição e assinou um cheque de R$ 896,5 milhões para adquirir 5,7% do capital da América Latina Logística (ALL). Com isso, tornou-se o maior acionista do bloco de controle, com 49,5% da fatia de capital que define os rumos da empresa. Para assumir o comando da locomotiva, Ometto pagou caro: R$ 23 por ação, um ágio de 110% em relação ao fechamento da sexta-feira 17.
“A Cosan não comprou ações da ALL no mercado e, por isso, não fazia sentido ter a cotação na Bovespa como referência”, disse Marcos Lutz, presidente da Cosan. Segundo Lutz, a compra é um negócio estratégico. “O setor ferroviário está passando por mudanças regulatórias e o País vive um momento de fortes investimentos em infraestrutura”, diz. Não é a única iniciativa da Cosan nessa área. O grupo já possui a Rumo Logística, de transporte ferroviário, que opera 729 vagões e possui o direito de uso de malha em São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul.
Com capacidade de armazenagem de um milhão de toneladas em quatro terminais no interior de São Paulo, a Rumo fechou um acordo de longo prazo com a ALL para o fornecimento de vagões. “A Rumo representa uma parte importante do ramo de infraestrutura em transporte que a Cosan está montando”, diz Lutz. A operação suscitou dúvidas no mercado e as ações das duas empresas recuaram na bolsa (leia quadro). “Embora a Cosan deva se tornar o principal acionista no bloco de controle da ALL, seu papel na gestão e na estratégia não está claro”, escreveu a analista Juliana Chu, da corretora Votorantim.
Lutz, o presidente, e sua nova locomotiva: ágio de 110% na compra
foi justificado pelo valor estratégico da ALL. Só falta convencer os investidores.
Um executivo que acompanhou as negociações diz que a operação é um movimento defensivo da Cosan, que quer barrar a entrada de novos concorrentes no segmento de transportes de carga, algo essencial para sua estratégia. “Açúcar e etanol são produtos de baixo valor agregado e muito sensíveis a custos”, diz ele. A Cosan não emitirá ações para pagar a compra. “Temos opções mais baratas”, diz Lutz. Os profissionais do mercado dizem temer uma forte volatilidade com as ações da Cosan enquanto sua participação na ALL não se tornar mais clara. Em três dias, até a quinta-feira 23, as ações da Cosan caíram 5,1% e as da ALL, 7,1%.