Após quase duas décadas de briga nos tribunais, o empresário Boris Gorentzvaig, de 69 anos, conseguiu retomar o controle da petroquímica Triunfo. Uma liminar, concedida pelo vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), ministro Nilson Naves, deu ao empresário a condição de comandante da companhia gaúcha ao reduzir o poder de fogo dos demais sócios, a Petroquisa ? braço químico da Petrobras ? e a Primera, pertencente à Dow Chemical. Esta última, aliás, não poderá sequer votar nas assembléias de acionistas. Pelo menos esta é a situação atual. Gorentzvaig desembarcou na semana passada em Porto Alegre, sede da Triunfo, acompanhado de policiais e com o futuro da empresa já arquitetado. Primeira medida: destituir o conselho de administração e a diretoria. ?Limpei o lugar?, disse em entrevista à DINHEIRO. Com as mudanças, o conselho fica com três representantes da Petroplastic, sua empresa, e dois da Petroquisa. Na diretoria, só executivos de confiança de Gorentzvaig, incluindo seu filho Caio. O próximo passo será expandir a Triunfo. Uma das opções é comprar a Ipiranga petroquímica. ?Em 15 dias, apresento um projeto aos investidores. Vou levar a Ipiranga?, promete. Se isso acontecer, o empresário conquista participação importante no pólo petroquímico gaúcho. Isto porque a Ipiranga detém 29,46% das ações da Copesul, a central de matéria-prima da região.

Gorentzvaig está exultante. Seu desejo sempre foi assumir o timão da Triunfo, dona de um faturamento de R$ 375 milhões, e importante produtora de polietileno de baixa densidade, matéria-prima usada por exemplo em embalagens e no revestimento de cabos elétricos. Além disso, Gorentzvaig tem sonhos dourados com o pólo gaúcho e a Triunfo lhe dá condição privilegiada para arquitetar a ofensiva. ?Quase tive um orgasmo ao botar os estrangeiros para fora da companhia e ver reduzido o poder da Petroquisa?, diz.

Rolo societário. A briga entre os sócios é antiga. Para entendê-la, é necessário voltar no tempo. Mais precisamente em 1985, quando nasceu a Triunfo. A companhia foi concebida com a seguinte composição acionária: Petroplastic, Petroquisa, Aplub ? do setor de previdência privada ? e a francesa Atoschemie, com uma fatia de cerca de 25% cada uma no capital votante. Em pouco tempo, a Aplub decidiu sair do negócio. Gorentzvaig acreditava ter preferência na aquisição do lote. A Petroquisa não concordou e abocanhou o lote da Aplub, ficando com um total de 45,22%. Em seguida foi a vez da Atoschemie abrir mão das ações. ?Em vez de transferir para os sócios, como mandava a regra interna, a Atoschemie, com a ajuda da Petroquisa, repassou os papéis para a Dow?, conta Gorentzvaig. Em reportagem publicada em junho de 2001, DINHEIRO revelou o jogo de interesses e a disputa pelo poder na petroquímica gaúcha.

?Vou comprar a ipiranga?
 

DINHEIRO ? O controle da Triunfo está em suas mãos. O que o sr. pretende fazer daqui para frente?
BORIS GORENTZVAIG ? Vou retomar a expansão da empresa. Petroquisa e Dow sempre vetaram qualquer idéia de crescimento. Por isso, minha primeira decisão foi destituir o conselho e a diretoria, nomeados por eles. Também quero comprar a Ipiranga Petroquímica. Em 15 dias, apresento a investidores uma proposta para viabilizar a transação. A Ipiranga é dona de 29% da
Copesul e isso dará a Triunfo uma importante fatia no pólo petroquímico gaúcho.

DINHEIRO ? Dow e Petroquisa vão entrar na Justiça para tentar tirá-lo do comando. Não há o risco de uma reviravolta?
GORENTZVAIG ? Vão perder tempo. A decisão judicial se baseia na validade do acordo de acionistas. Dow e Petroquisa nunca respeitaram isso.

DINHEIRO ? Em recente entrevista à DINHEIRO, o sr.
comentou que a Odebrecht tinha um sonho megalomaníaco de monopolizar o setor…
GORENTZVAIG ? Não quero briga com a Odebrecht. Precisamos nos entender. Eles têm a Copene e parte da Copesul. Eu tenho interesse na Copesul. O importante nisto tudo é que o capital nacional voltou a controlar o setor.