28/10/2009 - 8:00
Marca em xeque: Rory com o pé ferido e Schmitt, chefe da unidade brasileira. Empresa diz que há acidentes com todo tipo de calçado
A marca Crocs se tornou um fenômeno mundial com um produto que parecia imbatível: sandálias extremamente confortáveis por um preço camarada. Nos últimos dias, a crise se instalou na mesma velocidade com que o sucesso surgiu.
O relato de histórias de clientes na Europa e nos Estados Unidos que tiveram os pés feridos por estar usando os calçados da empresa acabou repercutindo até no Brasil. Na semana passada, escolas particulares de São Paulo proibiram o uso das sandálias Crocs sob a alegação de que elas são perigosas.
Segundo as instituições, alguns estudantes se machucaram levemente, o que seria suficiente para vetar o produto. Um dos casos mais graves ocorreu nos Estados Unidos. Rory McDermott, 6 anos, teve um profundo corte no pé porque seu Crocs ficou preso em uma escada rolante.
Acidentes acontecem e muitas vezes são inevitáveis. O problema é que, de acordo com especialistas, a sandália de plástico representa, de fato, um risco. É o que diz Cláudio Santili, ortopedista pediátrico que, em 2010, assume a presidência da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).
Segundo ele, o desenho das sandálias Crocs, que prioriza o conforto dos pés, as torna adequadas apenas para uso em condições relaxadas – em casa, principalmente, ou em atividades que exigem pouca movimentação. Em correrias, comuns em pátios de escolas, elas não servem. “A sandália não oferece firmeza ao pé, embora seu solado seja antiderrapante.
Ela trava no chão, enquanto o pé fica solto.” Em sua defesa, a Crocs alega que o aumento do número de acidentes com crianças que usam as sandálias reflete apenas o fato de elas serem um sucesso entre os pequenos.
Ou seja, como há muita gente usando, os problemas crescem na mesma proporção. “Acidentes com crianças ocorrem com o uso de calçados como tênis (cadarço solto), sandálias de dedo, chinelinhos e até calçados clássicos”, disse a Crocs em nota enviada à DINHEIRO (consultado, o presidente da empresa no País, Andrew Schmitt, preferiu não conceder entrevista).
Segundo Valerie Engelsberg, sócia da consultoria de marcas Top Brands, a empresa não deve se omitir. Situações como essa, diz, têm potencial de sair do controle e colocar em risco a própria existência de uma marca, especialmente uma tão jovem quanto a Crocs. “Uma companhia que recebe críticas e não age em resposta pode criar um problema maior para si própria”, diz Valerie.
Por enquanto, a empresa não foi acionada judicialmente por clientes que se sentiram lesados. A empresa não vive um momento favorável. No ano passado, seu prejuízo totalizou US$ 185,1 milhões. Segundo especialistas, os acidentes podem comprometer ainda mais seu desempenho financeiro.