Radialista Isabella Jacob não é a investidora típica. Aos 33 anos, casada, um filho de dois anos e outro a caminho, ela é uma autodidata que sempre se inte ressou por finanças e investimentos. Isabella também pode se orgulhar de sua disciplina financeira. “Comecei a investir quando recebi o meu primeiro salário”, diz. Nos últimos 12 anos, ela tem aplicado regularmente em fundos, ações e títulos de renda fixa, sempre por meio da tradicional corretora paulista Souza Barros. A última de suas descobertas é produto de um lançamento recente das corretoras de valores: papéis de bancos de médio porte.

 

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Isabella Jacob: investindo há 12 anos, e buscando aplicações rentáveis

 

Para diversificar as receitas em um mercado acionário restrito e em baixa, as corretoras vêm procurando oferecer novas opções de investimento aos clientes como Isabella. O item mais novo a freqüentar as prateleiras é uma preferência nacional, as aplicações de renda fixa, como os tradicionais Certificados de Depósito Bancário (CDB) e papéis isentos de imposto como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). “Estamos distribuindo produtos de bancos de médio porte, que tradicionalmente seriam menos acessíveis aos investidores de varejo”, diz Carlos Souza Barros, principal executivo da corretora e recém-eleito presidente da Ancord, associação que representa o setor. 

 

“A vantagem é que os investidores têm acesso a papéis mais rentáveis do que os oferecidos pelos grandes bancos de varejo.” Apesar de os títulos públicos oferecidos no Tesouro Direto já serem vendidos há quase uma década, as negociações com papéis de renda fixa privados, por meio das corretoras, é recente. Começou por meio de uma parceria assinada em fevereiro entre as corretoras e a Cetip, empresa especializada na negociação de títulos de renda fixa e a principal concorrente da BM&FBovespa, onde estão concentrados os negócios com ações. Denominado Cetip Trader, o sistema permite que as corretoras negociem papéis emitidos pelos bancos que estejam registrados no sistema da Cetip. 

 

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Sigrist (em pé) e equipe da guide: ”O investidor tem de saber se compensa correr riscos adicionais”

 

“Essa idéia surgiu em meio a discussões dos bancos com as corretoras para encontrar um meio de captar recursos de maneira pulverizada”, diz Manuel Felix Cintra Neto, presidente da Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC), entidade que representa o setor. Diversificar suas fontes de financiamento para não depender de grandes e volúveis investidores institucionais é vital para a estratégia dos bancos sem redes de agência. Já para as corretoras, ampliar os produtos oferecidos ao investidor faz todo o sentido. Nos últimos anos, a promessa de um mercado acionário pujante e com enorme participação dos investidores individuais não se concretizou. A crise financeira de 2008 e a conseqüente desvalorização das ações assustou os investidores. Muitos migraram para aplicações mais seguras e previsíveis, e as preferidas foram os títulos públicos do Tesouro Direto. 

 

Agora, as alternativas se diversificam com a oferta de CDBs, LCAs e LCIs. “Encontro taxas mais interessantes nos papéis imobiliários. Consegui uma aplicação livre de imposto que me paga 100% do CDI”, diz Isabella, sem revelar quanto investe. Qualquer investidor que buscasse a mesma rentabilidade em um banco de varejo teria de comparecer à agência com, pelo menos, os R$ 300 mil que o tornariam um investidor qualificado, e ainda contar com a boa vontade do gerente e com o apetite do banco por recursos naquele momento. “Com esse produto, podemos oferecer ao investidor de varejo uma rentabilidade que só seria acessível a grandes participantes do mercado”, diz Souza Barros. Ele nota que esse produto não permite que o investidor compre diretamente os títulos, como ocorre atualmente com o sistema home broker. 

 

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Cintra Neto, da ABBC: diversificação nas fontes de financiamento

favorece os bancos e o investidor

 

É preciso contar com a intermediação da corretora. Uma comparação rápida das taxas mostra as vantagens. Um investidor que comparecesse com R$ 100 mil e investisse por um ano em um CDB de um banco médio obteria 102% dos juros de mercado, ante os 92% obtidos em um banco de varejo. Na ponta do lápis, supondo-se que as taxas permanecessem nos atuais 10,8% ao ano ao longo dos próximos 12 meses, o investidor do banco grande, depois de pagar o imposto voltaria para casa com R$ 107.950. Ao comprar um papel de um banco médio, a ganho seria de R$ 108.816, uma diferença de R$ 866. Diferentemente do que ocorre com as ações, o investidor que compra um CDB não paga taxas de corretagem. “A corretora ganha parte da rentabilidade”, diz Souza Barros. 

 

No entanto, é preciso tomar alguns cuidados. As aplicações somente estão protegidas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) no caso de quebra do banco que emitiu o CDB até R$ 250 mil por investidor. Se o banco for liquidado pelo Banco Central, os recursos ficam presos e não são corrigidos até a devolução pelo FGC – o que também poderia ocorrer em caso de quebra de instituição de grande porte. Na ponta do lápis, três ou quatro meses sem remuneração corroem a diferença que se ganha aplicando em bancos de maior risco. “O investidor tem de saber se ele está disposto a correr esse risco adicional. Por isso, um cuidado a se tomar é não comprar títulos olhando apenas a rentabilidade”, diz, diz Jean Sigrist, diretor da empresa de distribuição de produtos financeiros guide investimentos. 

 

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