03/05/2006 - 7:00
Durante a segunda Guerra Mundial, economistas europeus recomendavam: invista em arte e evite o risco das bolsas de valores. A recomendação já não é tão enfática, mas ainda sugere-se que 15% do patrimônio seja investido em objetos de arte e antigüidades. É uma tradição que combina com os países do velho mundo, mas ainda engatinha no Brasil. É aceitável, levando-se em conta que no tempo em que Michelangelo já esculpia Davi e Leonardo da Vinci pintava a Mona Lisa, as caravelas mal desembarcavam em Porto Seguro. Há sinais, contudo, de que esse cenário muda com vigor. Um deles é a realização da II Mostra do Círculo de Antiquários de São Paulo, que reunirá grandes especialistas no assunto entre os dias 15 e 21 de maio na capital paulista. Entre os objetos à venda estarão santos, relicários, prata, tapetes, porcelanas, móveis, estatuetas e pinturas criados entre os séculos XVII e XX. Um olhar cuidadoso pode render bons negócios.
Mas atenção: nem tudo que é antigüidade vale ouro. Aplicar nesse ramo requer atenção. O primeiro passo é pensar a longo prazo. ?O ideal é adquirir peças de estilos que estejam em baixa e esperar que ganhem valor?, diz Luiz Octávio Louro Gomes, presidente do Círculo de Antiquários. É o que acontece com os vidros Murano, clássico de Veneza. Um vaso que há dez anos era vendido por R$ 10 mil, por exemplo, hoje vale a metade do preço. É pouco – porém mais do que cinco anos atrás, quando era vendido a R$ 2,5 mil. Outro caminho de investimento, mais seguro, são as peças que nunca perdem tamanho histórico. É o caso de objetos em estilo Art Déco e Art Nouveau, marcas de refinamento e bom gosto no início do século XX. ?As cotações oscilam com os modismos?, diz Louro. ?Mas alguns períodos costumam sempre representar boas oportunidades?.
Para os investidores moderados, como ocorre em quase todas as modalidades financeiras, há apostas de baixo risco. ?Prata francesa e inglesa e mobiliário brasileiro feito com jacarandá, por exemplo, nunca desvalorizam?, afirma Louro. Outra aposta garantida são as coleções. Seja de pequenas xícaras ou grandes esculturas. Uma peça sempre valoriza outra. Em outras palavras: coleções vastas rendem bons frutos quando são passadas à frente. No caso delas o tempo, tempo de vida, é sinônimo de dinheiro. Paciência, portanto, é palavra chave. Apesar da maturidade que o mercado conquista, ainda há o que lamentar. Os obstáculos são as leis. ?Enquanto o Japão incentiva a compra de antigüidades para que o país adquira riqueza e cultura, o Brasil cobra 46% de taxa de importação?, lamenta Louro. É sabedoria exemplar para um jovem país que começa a dar valor ao passado ? mas ainda precisa desenvolver uma cultura destinada a transformar a história em cifras, não apenas nas feiras de domingo.
Vale a pena, portanto, tentar conjugar peças de antiquário até mesmo em ambientes que seguem a tendência clean. ?Lustres de cristal são muito procurados, pois combinam com ambientes modernos?, afirma Pedro Scherer, do antiquário carioca Snob.




