Durante a segunda Guerra Mundial, economistas europeus recomendavam: invista em arte e evite o risco das bolsas de valores. A recomendação já não é tão enfática, mas ainda sugere-se que 15% do patrimônio seja investido em objetos de arte e antigüidades. É uma tradição que combina com os países do velho mundo, mas ainda engatinha no Brasil. É aceitável, levando-se em conta que no tempo em que Michelangelo já esculpia Davi e Leonardo da Vinci pintava a Mona Lisa, as caravelas mal desembarcavam em Porto Seguro. Há sinais, contudo, de que esse cenário muda com vigor. Um deles é a realização da II Mostra do Círculo de Antiquários de São Paulo, que reunirá grandes especialistas no assunto entre os dias 15 e 21 de maio na capital paulista. Entre os objetos à venda estarão santos, relicários, prata, tapetes, porcelanas, móveis, estatuetas e pinturas criados entre os séculos XVII e XX. Um olhar cuidadoso pode render bons negócios.

Mas atenção: nem tudo que é antigüidade vale ouro. Aplicar nesse ramo requer atenção. O primeiro passo é pensar a longo prazo. ?O ideal é adquirir peças de estilos que estejam em baixa e esperar que ganhem valor?, diz Luiz Octávio Louro Gomes, presidente do Círculo de Antiquários. É o que acontece com os vidros Murano, clássico de Veneza. Um vaso que há dez anos era vendido por R$ 10 mil, por exemplo, hoje vale a metade do preço. É pouco – porém mais do que cinco anos atrás, quando era vendido a R$ 2,5 mil. Outro caminho de investimento, mais seguro, são as peças que nunca perdem tamanho histórico. É o caso de objetos em estilo Art Déco e Art Nouveau, marcas de refinamento e bom gosto no início do século XX. ?As cotações oscilam com os modismos?, diz Louro. ?Mas alguns períodos costumam sempre representar boas oportunidades?.

Para os investidores moderados, como ocorre em quase todas as modalidades financeiras, há apostas de baixo risco. ?Prata francesa e inglesa e mobiliário brasileiro feito com jacarandá, por exemplo, nunca desvalorizam?, afirma Louro. Outra aposta garantida são as coleções. Seja de pequenas xícaras ou grandes esculturas. Uma peça sempre valoriza outra. Em outras palavras: coleções vastas rendem bons frutos quando são passadas à frente. No caso delas o tempo, tempo de vida, é sinônimo de dinheiro. Paciência, portanto, é palavra chave. Apesar da maturidade que o mercado conquista, ainda há o que lamentar. Os obstáculos são as leis. ?Enquanto o Japão incentiva a compra de antigüidades para que o país adquira riqueza e cultura, o Brasil cobra 46% de taxa de importação?, lamenta Louro. É sabedoria exemplar para um jovem país que começa a dar valor ao passado ? mas ainda precisa desenvolver uma cultura destinada a transformar a história em cifras, não apenas nas feiras de domingo.

Vale a pena, portanto, tentar conjugar peças de antiquário até mesmo em ambientes que seguem a tendência clean. ?Lustres de cristal são muito procurados, pois combinam com ambientes modernos?, afirma Pedro Scherer, do antiquário carioca Snob.

Cotações da Bolsa das Artes

Estilo Art Déco – em altaEstilo Art Nouveau – em altaAnos 40 – em alta
R$ 10 mil Escultura francesa em terra cotaR$ 9 mil Jogo alemão em porcelanaR$ 6 mil Escultura italiana Lenci em cerâmica

Há objetos decorativos, móveis e até residências com características deste estilo nascido no fim do século XVIII. Por utilizar materiais do mundo moderno, como ferro, vidro e mesmo cimento, está sujeito a cópias. Não hesite em pedir auxílio a um profissional do ramo.

Marco da vanguarda do início do século XX, tornou-se muito procurado logo depois da Segunda Guerra. Apesar de a produção em massa ter barateado e tornado populares os objetos na época da fabricação, hoje eles ganharam valor pela raridade e pela beleza originais.

Ainda há fábricas centenárias produzindo à moda antiga. Delas saem objetos preciosos, mas não tanto quanto os que saíram de fábricas já extintas. Esta escultura veio de uma destruída por bombas. Seu caráter único e o bom estado de conservação só ganham importância com o tempo.

Anos 60 – em altaMurano – em baixa
R$ 5 mil Cadeira construída em jacarandáR$ 2,5 mil Vaso de vidro colorido

O mobiliário brasileiro feito com essa madeira é admirado desde o século XVIII e nunca saiu de moda, principalmente em casas de campo. Pode custar menos que móveis novos. Mas enquanto estes tendem a virar móveis velhos, as antigüidades viram relíquias.

Produtos da lendária ilha de Murano, na região italiana de Veneza, os objetos de vidro já fizeram muito sucesso. Atualmente, a procura é pequena e o preço, baixo. Mas a situação pode ser vista como oportunidade de investimento à espera de retorno futuro.