26/03/2003 - 7:00
Bem-vindo ao maravilhoso ? e rentável ? mundo do paisagismo. Não, não estamos falando de gramados bem aparados e canteiros floridos. Hoje em dia os elementos que ocupam a área externa das residências, condomínios e coberturas vão muito além do jardim. Cascata natural, pergolado, ofurô, fonte, espelhos d?água, spa, raia olímpica, árvores frutíferas, plantas exóticas estão transformando o quintal em um valioso patrimônio, cujos
gastos chegam a R$ 500 mil. A boa notícia é que, cada vez
mais, esses gastos podem ser chamados de investimentos.
No Brasil, a procura por imóveis com área externa cresceu 50% no ano passado, segundo Ute Muelberger, gerente de vendas da Bamberg Consultores de Imóveis. Aumenta a demanda, sobem os preços. ?Um projeto paisagístico, além de ajudar na negociação do imóvel, pode resultar numa valorização em taxas que podem variar entre 10% e 15%?, diz Ute.
Um exemplo: no ano passado, a Bamberg estava negociando
duas casas com a mesma planta, dentro de um condomínio no Brooklin, na capital paulista. Cada uma estava num terreno de 300 metros quadrados, com 360 metros quadrados de área construída. Uma delas foi vendida a R$ 800 mil, ao mesmo tempo que a casa vizinha, que contava com uma área verde no quintal, foi comercializada a R$ 900 mil.
?O verde é um antídoto contra o estresse. As pessoas valorizam cada vez mais o contato com a natureza em casa?, diz Gilberto Elkis, um dos mais renomados paisagistas do País. De acordo com ele, nos últimos cinco anos, a figura do paisagista ganhou tanta importância que, em algumas situações, ele participa da definição da área externa logo no início do projeto. Há casos ainda mais extremos. ?Antes de definir onde a casa será erguida temos reuniões para saber onde vamos plantar?, conta Elkis.
Em busca de santuários verdes no quintal de casa, o céu é o limite quando o assunto é preço. Tomemos como exemplo uma área de 10 mil m2. Em média, um projeto custaria entre R$ 15 mil e R$ 20 mil. Isso incluiria o anteprojeto e o projeto executivo. O anteprojeto é o conjunto de desenhos que mostra o material que será usado, localização das áreas de plantio etc. O projeto executivo é a solução definitiva. A execução da obra (que inclui as plantas e árvores) iria custar mais uns R$ 150 mil. Claro, esse é o exemplo de um projeto de primeira linha, com árvores nobres, como a Cyca, um tipo de palmeira que chega a custar R$ 8 mil, a Nolinas (R$ 10 mil), o Pândanos (R$ 10 mil) e a palmeira imperial de 15 metros (R$ 8 mil). Você iria gastar mais uns R$ 20 mil com iluminação e outros R$ 30 mil em móveis e acessórios.
Ainda não acabou. Agora vem a parte mais tentadora: o acabamento. A sofisticação do mercado pode ser medida pela infinidade de materiais de revestimento à disposição do cliente. Mármore italiano travertino navona bruto (US$ 150 o m²) e limestone (piso espanhol que custa US$ 200 o m²), muito utilizados em pergolados e em volta de fontes; cerâmica do artista pernambucano Francisco Brennand (R$ 80 o m²); vidrotil (R$ 120 o m²), ambos revestimentos de piscina e de spas (grandes banheiras com aquecimento ao ar livre), são apenas alguns exemplos. Detalhe: o próprio Elkis vai lançar uma linha de móveis para piscina, varanda e terraço, uma linha de vasos, além de ferramentas de jardinagem.
Assim como em todas as áreas, o paisagismo sofre a influência dos modismos. Aí vai uma dica do casal de paisagistas Paulo e Kelly Cavalcanti, da Flora & Arte, que fica na região de Ibiúna, São Paulo: bambu e cascata são os hits do momento. ?Todo mundo quer ouvir o barulho da água caindo em algum canto do jardim?, diz Paulo Cavalcanti, que está restaurando um jardim feito por Burle Marx em um edifício comercial de São Paulo. A tendência de misturar a água e o verde veio dos EUA, onde os projetos de cascatas custam US$ 200 mil. Achou caro? Pois saiba que há obras de paisagismo em que apenas uma das árvores (uma sequóia adulta) chegam a custar US$ 30 mil.
A jardinagem é um dos maiores hobies nos EUA. Em 2001, os americanos gastaram US$ 37,7 bilhões (cinco anos antes, eles haviam gasto US$ 22,5 bilhões), segundo a National Gardening Association. Um estudo da Universidade de Michigan mostra que um projeto de paisagismo pode alavancar o valor do imóvel em 12%. Mas, atenção. Não esqueça que os jardins são perecíveis. Um jardim pode ser inteiramente perdido caso não haja manutenção.
Se o objetivo é investir na área externa para vender em seguida o imóvel, Eduardo Abbud, um dos mais respeitados arquitetos paisagistas do Brasil, faz uma recomendação: não personalize demais o projeto, deixe os detalhes para o morador. Agora, se esse não é o seu caso, o conselho de Abbud é o contrário. ?Na casa em que você vai morar, faça algo exclusivo?, diz ele. Uma maneira de diferenciar o seu projeto é plantar um pomar em que as árvores sejam elementos relacionados ao visual do jardim.? No quesito árvores frutíferas, um dos maiores especialistas de São Paulo é Fernando Roland Todescan, dono da loja de plantas Agroland. Há vários anos ele planta frutíferas em vasos, que ficam abarrotadas de carambolas e acerolas. Uma árvore de lixia chega a custar R$ 2 mil. ?As frutíferas têm sido procuradas para coberturas e varandas?, afirma Todescan.
Para o paisagista Celso Bergamasco, um bom projeto deve obedecer o estilo do imóvel. ?Não importa o tipo de planta que será colocada. O importante é estar atento a detalhes como não plantar árvores em frente a janelas ou misturar palmeiras com pinheiros?, ensina ele.