Imagine pregar um quadro na parede por mais de 68 anos acreditando que ele é um legítimo Van Gogh (1853- 1890) e, da noite para o dia, descobrir que o mestre holandês nem sequer estava vivo quando ele foi pintado. Pior, essa tela era avaliada em US$ 21,4 milhões, cerca de R$ 41 milhões, e todo esse dinheiro virou pó. Pois foi isso o que aconteceu com uma obra pertencente ao National Gallery de Victoria, em Melborne, na Austrália. O quadro, batizado Cabeça de um Homem e que era mostrado como arte de Van Gogh, é, na verdade, de um autor desconhecido. A descoberta foi feita por um grupo de peritos e especialistas do Museu Van Gogh, de Amsterdã, depois de uma minuciosa análise feita a pedido da própria National Gallery de Victoria. A dúvida sobre a obra levada para a Austrália, em 1939, por Keith Murdoch, pai do magnata da mídia Rupert Murdoch, surgiu em agosto do ano passado depois que ela foi exposta em Edimburgo, na Escócia.

Para chegar à conclusão que, de fato, não se tratava de um Van Gogh, os especialistas analisaram os traços da pintura, realizaram testes de carbono para verificar a idade da tela, fizeram testes de raio X e provas da tinta usada. Descobriu- se que os materiais usados na obra não existiam na época em que o gênio holandês pintava. ?A reatribuição de pinturas faz parte do cotidiano de qualquer galeria que tenha uma coleção extensa?, ameniza Gerard Vaughan, diretor da National Gallery de Victoria. No mundo da arte pode parecer normal, mas, com o crescimento do mercado como forma de investimento, isso é fatal. ?O melhor modo de se proteger é comprando quadros em leilões da Sotheby?s e Christie?s?, diz Eduardo Stadnik, especialista no mercado de arte.

Além de fazerem estudos minuciosos sobre a obra para atestar sua origem, as casas devolvem o dinheiro caso seja falsa.? Não foi o caso da galeria australiana, que perdeu R$ 41 milhões de uma vez só.