09/07/2003 - 7:00
Ele não tem uma sala dentro da Schincariol, mas já age como executivo da companhia. Desde que ganhou a conta da marca, há três meses, o publicitário Eduardo Fischer vai quase todos os dias à sede, visita as fábricas do grupo e fala ao telefone com os donos o tempo inteiro. Seria mais uma contratação na publicidade não fosse por um detalhe. A família Schincariol lhe deu carta branca para sugerir marcas, bolar eventos, criar estratégias de patrocínio e até formas diferentes de distribuição. O publicitário não tem uma missão fácil: em cinco anos quer transformar a cerveja em líder na categoria de garrafas de 600 ml e colocar a marca na terceira posição no ranking geral ? hoje ela ocupa o quinto lugar. Para cumprir essa promessa terá de fazer com que as pessoas percam a vergonha de pedir a bebida. ?Somos bons industriais, mas temos de saber comunicar. O Eduardo, com a experiência que tem, ficará de braços dados conosco sugerindo oportunidades?, diz Adriano Schincariol, diretor de marketing. Para conseguir acabar com o ranço, Fischer preparou a primeira ação: uma campanha institucional, de visual sofisticado, para apresentar a cervejaria ao público. ?Queremos mostrar que não somos fundo de quintal?, diz Adriano. O publicitário guarda as próximas ações a sete chaves, mas deixa pistas sobre
um reforço na distribuição de latinhas nos supermercados e uma possível mudança no nome.
Fischer está eufórico. Pudera. Graças ao trabalho que realizou para a Brahma quando ainda nem existia Ambev, ele construiu um dos maiores grupo de comunicação do País, o Total, que faturou R$ 101 milhões em 2002. ?O grande caso de sucesso nesse setor é obra do Eduardo. Ele conseguiu transformar a Brahma em uma marca de prestígio?, afirma Jaime Troiano, diretor da Troiano Consultoria de Marcas. Fischer, que não é modesto, sabe reconhecer seu mérito. ?Criamos o Pensou cerveja, pediu Brahma ? a número 1 e em seis meses de trabalho a marca tomou a liderança?, conta Fischer.
O seu retorno pode até deflagrar uma guerra. ?A Ambev já está se armando contra mim, mas vou surpreendê-la?, diz Fischer. Acontece que o mercado está muito diferente daquele do começo da década de 90, quando não existia um grupo como a Ambev. ?Embora respeite o talento de Fischer, mágica ninguém faz?, afirma Claudio Felisoni, coordenador do Programa de Varejo da USP. ?Qualquer estratégia é percebida pela concorrência.? A disputa não será fácil para ninguém.
A Schincariol, apesar de ter quase 10% do mercado nacional, já disputa com a Antarctica a preferência dos consumidores do Recife, um dos poucos lugares em que as pessoas não têm mais vergonha de pedir Schin (o apelido pegou por lá). O momento é oportuno. ?O modelo de anúncio de cerveja está esgotado. A Schincariol pode oxigenar o mercado?, avalia Marcos Henrique Cobra, professor de marketing da FGV/Eaesp. É esperar para ver.