11/07/2012 - 21:00
A cada real que trocou de mãos no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo, em junho, oito centavos envolveram ações das empresas de Eike Batista. As sete companhias do chamado “mundo X” são o maior fenômeno recente da bolsa brasileira. Não por acaso, um comunicado divulgado em 26 de junho pela petrolífera OGX, informando que sua produção de petróleo seria inferior ao esperado, atingiu o mercado como um tsunami. No início do ano, a empresa garantira que, até dezembro, extrairia até 50 mil barris diários de Tubarão Azul, bacia de Campos. Esse prognóstico recuou sucessivamente para cinco mil barris.
Eike Batista, no Twitter: “Nosso petróleo foi achado e vamos tirar, é só uma questão de tempo! Tenho o tempo e o capital! Me esperem”.
A redução mais recente fez suas cotações caírem 26,8% e derrubou o valor de mercado das empresas abertas do grupo em R$ 9,1 bilhões até a quarta-feira 4. As cotações de todas recuaram porque, em graus variáveis, seus resultados são interdependentes. O melhor exemplo é o estaleiro OSX, cuja principal cliente é a OGX. O risco sempre foi uma tônica desses papéis. Com exceção da mineradora MMX, todas as companhias estão em fase pré-operacional ou inicial, ou seja, vai demorar para aparecerem lucros estáveis e previsíveis. Nada surpreendente. A abertura de capital da OGX, em setembro de 2008, ficou restrita a investidores qualificados. Quem comprou teve de declarar por escrito que sabia que o caminho não seria suave.
“Ninguém tem direito de chorar, o risco de se investir nessas empresas era conhecido”, diz Clodoir Vieira, economista-chefe da corretora Souza Barros. Porém, por qualquer métrica, atualmente algumas delas estão bem mais baratas. É hora de comprar? Antes de colocar dinheiro em qualquer uma das companhias “X”, é preciso considerar tanto variáveis objetivas, como a produção de petróleo, minério de ferro e energia, quanto subjetivas, como a credibilidade de Eike Batista. “A queda se explica mais pela perda de confiança no empresário do que nas empresas”, diz Vitor Miziara, estrategista da Gaia Wealth. Outro ponto a ser avaliado é o prazo do investimento.
“No curto prazo, os papéis podem ser boas opções para quem quer especular”, diz Miziara. Para ele, no entanto, o investimento é de altíssimo risco. Um bom exemplo é a MMX. Com o comunicado da OGX, suas cotações caíram 22,8%. Na quinta-feira 5, elas já ostentavam uma modesta alta de 2,2% em relação ao preço anterior à notícia. Miziara diz que a OGX é uma boa opção, mas só no longo prazo. “O preço dos papéis permanecerá baixo enquanto a credibilidade de Batista estiver arranhada”, diz ele. Roberto Altenhofen, da Empiricus Research, avalia que a petrolífera pode gerar muito caixa se a produção de petróleo crescer em 2014. “Mas o investidor não pode olhar o dia a dia, pois a crise vai durar.”
Para o investidor que aprova a estratégia de Batista, mas quer correr menos riscos, a recomendação dos analistas é a MPX, que está no setor de energia, mas não depende de perfurações. “A MPX tem a vantagem de possuir atividades de gás natural e de carvão”, diz Enrique Florentino, analista da UM Investimento. “Ter gás a beneficia em licitações de usina termoelétricas.” Para ele, outra ação que pode apresentar bons resultados no longo prazo é a OSX. “Ela já vendeu navios petroleiros para a OGX e gera caixa. Além disso, pode prestar serviços para outras companhias.” Os analistas são unânimes em não recomendar a MMX, justamente a única que não é pré-operacional. “No setor, a Vale é mais interessante”, diz Florentino.
Aos números: no primeiro trimestre, a MMX produziu 1,6 milhão de toneladas de minério de ferro e lucrou R$ 49,3 milhões, enquanto a Vale produziu de 54,8 milhões de toneladas e lucrou R$ 6,7 bilhões. A queda das ações das empresas do Mundo X causou ao bilionário o dissabor de perder posições nas listas dos homens mais ricos do mundo. Apesar da volatilidade das últimas semanas, ele não deixou de fazer promessas agressivas. “Nosso petróleo foi achado e vamos tirar, é só uma questão de tempo! Tenho o tempo e o capital! Me esperem”, afirmou Batista no Twitter na segunda-feira 2. Os investidores não duvidam de sua competência, mas querem ver se as realizações futuras vão compensar os arranhões recentes.