07/02/2007 - 8:00
Foto: Daniel Wainstein | |
A aquisição do BMC pelo Bradesco tem potencial para virar de pernas para o ar o tabuleiro onde se enfrentam os bancos brasileiros de médio porte. Ao mostrar suas cartas e declarar seu interesse em dominar o mercado de crédito consignado, o banco de Márcio Cypriano praticamente obriga seus principais rivais a entrar no jogo. Os movimentos que se seguirão já podem ser antecipados. O Itaú tem nas mãos uma oportunidade de ouro de comprar o BMG, líder absoluto no segmento de empréstimos com desconto em folha de pagamentos. Desde o início de 2005 ? auge da crise dos bancos médios provocada pela quebra do Banco Santos ?, as duas instituições têm um acordo operacional, e parte da carteira de consignado do banco mineiro é contabilizada no balanço do gigante paulista. Assim como o BMC, o BMG é um banco redondo, bem administrado e com toda a expertise nessa modalidade de empréstimos. Sua imagem, claro, saiu estropiada do escândalo do mensalão. Nada porém que não seja resolvido com a eliminação da marca e o eventual afastamento da família controladora ? ao contrário do que se viu no caso do BMC.
O Unibanco, por sua vez, tem laços com o Banco Cruzeiro do Sul (terceira força, entre os médios, no ramo dos empréstimos com desconto em folha), que podem evoluir rapidamente para uma aquisição. As duas instituições associaram-se para desenvolver negócios no segmento de crédito consignado e dividem em partes iguais o controle da financeira Bancred. Uma vez realizados esses movimentos, o mercado de consignado perderia o caráter de território de nanicos, passando a ser mais um segmento dominado pelos pesos-pesados das finanças. Sem escala, funding e rede de agências para enfrentá-los, restará aos outros bancos médios hoje dependentes do consignado emprestar em outra freguesia. E a única que resta a eles é a do chamado middle market, o financiamento a pequenas e médias empresas. Um segmento onde a competição é acirrada; os clientes, pouco fiéis e as margens de lucro, apertadas.
Muita gente não vai agüentar o tranco. O Banco Cacique, hoje focado em consignado para pensionistas do INSS, está à venda. Pelo menos seis instituições estão na disputa. O ABN Real tem vantagem por manter parceria com ele desde 2005, mas o francês Société Générale era tido como favorito na semana passada. Há, naturalmente, bancos mais e menos cobiçados. Na primeira categoria, entre os ainda ?não compromissados?, destaca-se o mineiro Bonsucesso, um dos pioneiros e até hoje líderes do ramo de consignado.
Muito provavelmente, o xadrez dos bancos médios passará a ser jogado no território dos empréstimos a médias empresas, uma das raras áreas do mercado ainda não dominada pelos bancões. Aqui há um líder claro, o Safra, com know-how, profissionais de ponta e capital de sobra para fazer dinheiro em um segmento difícil, no qual as companhias clientes costumam ter meia dúzia de bancos diferentes como financiadores. É uma instituição admirada, que enriqueceria a carteira de qualquer gigante do setor. Mas nada indica que José Safra, único controlador desde que comprou as ações do irmão Moisés no ano passado, se interesse em vendê-lo. Atrás dele, há um pequeno grupo de bancos especialistas neste ramo, com operações enxutas e lucrativas. BicBanco e Sofisa são bons exemplos. De resto, o mercado olha com interesse os movimentos do Votorantim, que se dá cada vez melhor no varejo bancário, tem gente muito boa no comando, mas um controlador (Antônio Ermírio de Moraes) que declaradamente não gosta de banco. E do Banco Fibra, que parece meio sem rumo nos últimos tempos. Azarão de um páreo imprevisível, o Rural, quase despedaçado pela participação no chamado Valerioduto, cortou na carne para sobreviver, vem trabalhando duro em silêncio e está muito perto de dar a volta por cima. Seja como for, o resultado desse processo inevitavelmente será o avanço da consolidação no setor bancário. Que nunca esteve tão concentrado.